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— Desafio — Christopher responde antes mesmo que eu pergunte. Seus olhos pretos se fixam em mim com uma intensidade que revela que quem está sendo desafiada sou eu.

Fico sem reação, sem saber o que pensar, pois não esperava isso. O que poderia desafiá-lo a fazer? Sei que faria qualquer coisa para não se sentir diminuído por mim.

— Eu... hã... desafio você a...

— A fazer o quê? — Christopher questiona, impaciente. Quase peço para ele dizer alguma coisa simpática sobre cada um do grupo, mas acabo desistindo, por mais divertido que pudesse ser.

— Tira a camisa e só ponha de volta depois que a brincadeira acabar! — grita Demi, para minha alegria. Não porque Christopher vá ficar sem camisa, claro, mas porque não preciso sugerir mais nada, e isso tira a pressão de ter que dar ordens a ele.

— Que criancice — ele reclama, mas tira a camisa pela cabeça. Contra minha vontade, meus olhos percorrem seu tronco, observando as tatuagens que cobrem sua pele surpreendentemente bronzeada.

Sob os pássaros desenhados em seu peito, há uma árvore na barriga, com galhos desfolhados assustadores. A parte superior de seus braços tem ainda mais tatuagens do que eu esperava, e imagens e figuras pequenas e aparentemente aleatórias se espalham por seus ombros e sua cintura. Anahí me dá um cutucão e desvio o olhar, torcendo para que ninguém mais tenha percebido a maneira como eu o encarava.

A brincadeira continua. Demi beija Poncho e depois Pablo. Anahí conta sobre sua primeira transa. Eddy beija a outra menina. Como vim parar no meio desse grupo de roqueiros universitários incapazes de controlar seus impulsos?

— Dulce, verdade ou desafio? — pergunta Poncho.

— Precisa perguntar? Todo mundo sabe que ela vai dizer verdade... — provoca Christopher.

— Desafio — respondo, surpreendendo até a mim mesma.

— Humm... Dulce, desafio você a... beber uma dose de vodca — Poncho diz com um sorriso.

— Eu não bebo.

— Por isso é que é um desafio.

— Escuta só, se você não quiser fazer... — Eddy começa a dizer, e eu vejo que Christopher e Demi estão rindo de mim.

— Certo, uma dose — respondo. Fico pensando que Christopher provavelmente vai fazer mais uma de suas caretas de desprezo, mas o olhar que vejo em seu rosto é um tanto estranho.

Alguém me entrega a garrafa de vodca. Para meu azar, encosto o nariz no gargalo e sinto o cheiro forte da bebida, que queima minhas narinas. Torço o nariz, tentando ignorar as risadinhas ao redor. Tento também não pensar na quantidade de bocas por que aquela garrafa passou antes de chegar até mim, e a inclino levemente para dar um gole. A vodca desce queimando desde minha boca até meu estômago, mas consigo engolir. O gosto é horrível. O grupo aplaude e ri um pouquinho — todo mundo menos Christopher. Se não o conhecesse, pensaria que está bravo ou desapontado.

Ele é muito estranho.

Depois de um tempinho, sinto meu rosto ficar quente e, em seguida, o álcool se espalha pelas minhas veias à medida que me desafiam a tomar dose após dose. Eu aceito, e tenho de admitir que consigo relaxar pela primeira vez em muito tempo.

Estou me sentindo bem. Em meio àquela sensação, tudo parece mais fácil. As pessoas ao redor parecem mais divertidas do que antes.

— O mesmo desafio — Pablo diz dando risada, e dá um gole na bebida antes de passar a garrafa para mim pela quinta vez. Já nem me lembro mais das verdades e dos desafios das últimas rodadas. Dessa vez dou dois grandes goles na vodca antes de a garrafa ser arrancada da minha mão.

After Love (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora