🍫 prefácio 🍫

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Mandrágora

Seu fruto é semelhante à uma pequena maçã. A raiz tem uma forma humana, ou seja, parece uma boneca, e é por essa razão que surgiu a lenda de que ela grita como gente. O hebraico dudaim, que significa "amando", é utilizado para designar essa planta, possivelmente fazendo referência a sua suposta propriedade afrodisíaca, ficando popularmente conhecida por uma expressão que significa algo próximo a "maça do amor"...

PS: Comentários e votos deixam a autora saltitante! Tenham uma boa leitura... 

[...]

O aroma da fusão entre groselha negra e framboesa inunda o ambiente com requinte, de alguma maneira o perfume que advêm daquela xícara de porcelana está a acalentar o coração de Harry, as batidas contínuas agora parecem dançar de acordo com as notas de alguma especiaria conforme seu sentido olfativo inala profundamente. Os dedos longos e magros de sua mão tocam com suavidade o tecido de sua vestimenta, os dígitos traçando linhas invisíveis contra a textura de algodão até alcançarem o pequeno laço de seda rosa pastel ao final dela.

Nunca em sua vida cogitou que uma camisola o tornaria tão autoconsciente. E isso tampouco tratava-se do fato da roupa ser tida como feminina, mas sim o conceito que a circundava. Era seu desenho ali, outrora um despretensioso croqui preso ao mundo das ideias, em um tamanho reduzido, claro, próprio para vestir a coleção de bonecas em que assinaria seu nome como novo designer de brinquedos da ''Puppets & Blubblegum Toys''; mas que agora resvalava em seu corpo de forma concreta. Ele finalmente havia obtido forma no mundo físico, talvez não da maneira pensada, porém, ideias são mutáveis.

Bebericou a substância rosada, como praticamente quase tudo naquele quarto, exceto o pequeno quadradinho solto de chocolate que repousava contra o pires que antes sustentava a xícara. Sentiu a quentura adoçar sua cavidade bucal, os olhos verdes cravados no homem sentado à sua frente, esse que pousava o olhar contra uma folha de papel sobre a mesa, provavelmente vistoriando o relatório diário de inspeção de qualidade da nova remessa de brinquedos.

O relógio cuco continuava a sua entoação de tique-taques eterna e, a cada cinco minutos, Louis apertava o pequeno botão da caneta que segurava de forma contínua, acionando cinco vezes o objeto, até que a ponta com a tinta projetasse novamente. Harry sabia que daqui mais cinco minutos, esse percurso se repetiria, até que de alguma maneira aquilo aliviasse a mente do mais velho e ele completasse o ciclo incessante de necessidade, se dando por vencido.

— O que o trouxe de volta, meu sonho? – A voz de Tomlinson declarou o questionamento tendencioso que Harry não esperava ter de responder agora, as sobrancelhas sendo levantadas de maneira inquisitória, diferente da voz que entoou as palavras com melosidade.

O cacheado até poderia se deixar cair nesse tom afetuoso, caso não soubesse metade dos cenários profanos que aquela mente doente guardava dentro de um porão mental, cercado por poeira e pela mácula da imoralidade e perversidade incrustada em todos os cantos possíveis. Quando deu por si, já estava respondendo subitamente, a obviedade saindo de sua língua como uma grande aliada mas, no entanto, também mentirosa na mesma medida:

— Eu trabalho para você, senhor Tomlinson. Cedo ou tarde, teria de voltar!

O homem o avaliou, medindo suas micro expressões faciais, conforme aproximava o próprio torso da mesa, quase como se quisesse invadir o espaço pessoal de seu até então funcionário. Um suspiro audível partiu de seus lábios secos, ao passo em que a língua molhada delineava cada milimetro de sua derme pessegada. Aquele simples ato não passou despercebido por Harry, a pele parecia tão brilhante e macia, quase como avistar um prêmio num deserto.

Mandragore | l.s dollete!harryOnde histórias criam vida. Descubra agora