Thiam - Mais Que Olhares

Como ela é?

Linda...

Ela deve ser linda. Sua pele deve ser lisa, seu toque deve ser mágico, sua voz deve ser doce.

Não sei o tipo do Theo, mas reconheço que ele mudou, essa mudança faz ele merecer alguém bom. Queria ter reconhecido essa mudança antes, eu sabia que ele não era mais o mesmo, porém não valorizei isso.

Queria que ele soubesse algo, vê-lo mudar foi uma salvação para mim. Perceber que ele estava bem... Isso foi mágico.

  A mulher parecia distraída com as sacolas nas mãos, um sorriso adorável. Ela tinha estacionado longe de casa, talvez por causa da neve acumulada na estrada.

— Thayná — Leonard gritou, correndo até a mulher. Não pude segurá-lo, ou impedir ele. Quando menos percebi o garoto fez a possível noiva do Theo deixar todas as sacolas de lado para abraçá-lo.

Afundei no banco, puxando a toca para esconder um pouco mais meu rosto, então apenas abaixei a cabeça. Thayná pareceu girar com o pequeno garoto no colo, até finalmente deixar ele no chão.

— Trouxe um presente pra você — ouvir ela dizer baixo para Leonard — Só não conta para o Theo que eu te contei antes dele — Leonard riu, animado.

— Pode deixar, não irei contar — Leonard prometeu — Ah, já ia me esquecendo. Um amigo do Theo veio aqui.

— Um amigo do Theo? — Thayná pareceu confusa.

— Ele tá bem alí — tive uma leve vontade de correr. Mas apenas me encolhi mais no banco — Posso ver meu presente?

Narrador pov.

— Claro — Thayná falou dando um fraco tapa na touca do garoto, que apenas riu — Sacola vermelha — então começou a caminhar em direção à Liam, enquanto de longe tentava adivinhar quem era.

Thayná tentou olhar para o rosto, sentindo um pouco de dificuldade por causa da cabeça baixa.

— Posso ajudá-lo? — perguntou para ter a atenção da pessoa.

  O beta demorou a levantar a cabeça, a responder. Liam forçou uma tosse.

— Você é amigo do Theo? – não foi um sorriso, mas foi quase isso. Era notável a preocupação da mulher, uma vez que nunca haviam recebido uma visita para Theo.

— Eu... Eu sou – o que Liam falaria? Nada soaria bem. Aliás, não podia dizer o que realmente pretendia ao chegar alí.
 
— Aconteceu alguma coisa com a... Alcatéia? – Liam rapidamente negou, vendo Thayná procurar motivos para ele estar ali com o olhar. Parecendo querer desvendar o que Liam queria apenas em olhá-lo — Você tá bem? O Theo está no trabalho, deveria ter avisado que vinha.. 

— Theo – interrompeu a mulher — Eu... Eu só queria ver ele – Liam tentou não soar estranho. Thayná parecia confusa.

— Ok, ele não demora pra chegar. Pode ficar lá em casa esperando se quiser.

— Obrigado – Liam demorou para se levantar.

     Por dentro, a casa era tão bela quanto aparentava ser por fora. Paredes em um tom de azul bem fraco, que só com as luzes acesas Liam conseguiu perceber.

    Já sentados, Liam observou a água quente ser despejada na xícara transparente. O vapor cobriu as bordas, a coloração verde do chá se espalhou na água.

— O Theo fala muito pouco sobre os amigos dele, mas me disse que todos eram sobrenaturais – comentou. Liam podia sentir que a mulher era humana — Desculpa perguntar, mas irá dizer seu nome?

— Liam – se tocou ouvindo uma baixa risada— Desculpa, mas eu realmente esqueci.

— Tudo bem, Liam – Thayná se sentou em frente ao beta — Sabe, o Theo já falou sobre um Liam uma vez.

— Sério?

— Sim, ele disse algo sobre cavaleiros fantasmas e caçadores, parecia alegre ao lembrar, mas não falou muito.

  O Dunbar sorriu, sentindo a gota de esperança tomar o coração. Ele realmente queria ver Theo, saber se a quimera realmente sentia algo por ele.
 
   Thayná continuou contando das poucas vezes que o nome do beta foi citado. Isso fez Liam perceber que provavelmente Theo não sentia algo por ele. O Raeken sentiu algo por ele. Já que a futura Raeken contava de maneira doce o passar dos anos com Theo.
 
  Não era capaz de ainda existir um sentimento por Liam em meio a tudo aquilo. E mesmo se existisse, Liam não podia fazer aquilo. No momento ele soube que se olhasse para Theo, se Theo olhasse para ele, o sentimento poderia ser puxado, aquilo destruiria os momentos mais belos que Theo teve e que ainda iria ter.

— Eu e o Theo estávamos pensando em adotar uma criança, já que não podemos ter um filho naturalmente – contou empolgada. Liam ficou surpreso.

— Filhos? Mas vocês ainda são jovens pra isso, não acha?

— Na verdade, não tanto. Eu sempre sonhei em ser mãe. E se chamaria Tara, o Theo escolheu.

— Era o nome da irmã dele...

— É, eu sei – Liam desviou o olhar para pensar — Bem, depois quem sabe um menino... Um Liam – voltou a olhar para Thayná — Em minha defesa, seu nome é muito bonito. Se não for te incomodar.

— De maneira alguma – deixou um fraco sorriso escapar. Thayná suspirou aliviada — Eu sinto dizer, mas tenho que ir.

— Mas já? – se levantou ao mesmo tempo que Liam, vendo o beta assentir.

— Sim, obrigada pelo chá – agradeceu recebendo um rápido abraço — Olha, tem como não contar ao Theo que eu vim? Voltarei, amanhã ou depois, pra tentar fazer uma surpresa. Já que você disse que normalmente é os dias em que ele folga.

— Claro. Suponho que não tenha o número do Theo, nem  obviamente o meu. Você quer? – perguntou. Liam pensou e logo assentiu.

   Ela é linda, a voz é doce. Tem toque delicado e abraço quente. Sua pele é lisa, seu sorriso é encantador.

  O mais importante era: ela amava Theo. Amava sabendo cada defeito, amava dando oportunidades, amava dando recomeços.

  O que a quimera sentiu por Liam foi salvação. Theo o amava, e aquele amor o mateu de pé, mesmo sendo um sentimento sem resposta.

   Será mesmo que o Raeken conseguiu desviar o olhar? Será que o brilho na escuridão daqueles olhos, não eram mais causados por Liam?