Aqueles olhos negros que se igualam ao mais escuro dos céus, embora pincelado pelas estrelas, um olhar que jamais esqueci, afinal, esse ousado coração jamais forçou tamanho delírio. Durante muitas primaveras me imaginei esquecendo, mentira, esse fardo de engano se quer atrevi-me a carregar, pois, bastava fechar os olhos e rever sua face pintada em minha memória, digamos que um retrato se petrificava e esquecer aquele olhar seria como olvidar uma parcela inesquecível da minha vida.
— Quando chegaste ao Brasil, Valentine? — Ele suspirou um tanto nervoso. — Perdão, — Ele tocava em minhas mãos aveludadas. — Srta. Leblanc, creio eu.
— Graças ao desafeto de vossa senhoria, ainda sou uma senhorita. — Disse rispidamente.
— Eu gostaria de vê-la mais vezes, claro se a senhorita assim permitir. — Argumentou.
— Eu também adoraria, — Logo me afastei e aceitei a companhia de Margot — mas imagino que o trabalho seja um grande empecilho, Sr. Jackson.
— Valentine! — Gritou — Valentine!
— Ele está a gritar, criatura, não irá atendê-lo? — Indagou, Margot.
— Não. — Respondi a seco.
— Não compreendo, Valentine. — Queixou-se como de costume — Tamanha viagem fora para encontrá-lo e agora o despreza.
— Não está aqui para entender, Margot, todavia para me acompanhar. — Contestei — Agora caso não venha a lhe perturbar providencie uma carruagem até a antiga casa de meu pai.
— Vamos nos hospedar na antiga casa do barão de Liverpool? — Perguntou ensaiada sobre um espanto como se viver sobre aquele teto fosse uma grande ofensa.
— Qual o problema?
— É a casa de um assassino, Valentine.
— É minha casa também, — Sorri — não esqueça, ela também é meu pai.
Quando adentrei na carruagem pude avistar em meio à multidão que o Sr. Jackson ainda nos observava, em especial, seus olhos eram como um farol e até que a carruagem não se perdeu no horizonte de sua vista, ele não fitou outra paisagem se não a minha, embora meus olhos fizessem o mesmo trajeto o orgulho que corria meu coração impedia de ceder aos caprichos do amor.
Andar por essas ruas de pedras me faz sentir-me aliviada e um tanto culpada, não nego, embora sejam as mesmas ruas que um dia teve o prazer de receber os passos de meu pai, um tanto sádico, hoje testemunha o meu caminhar. No final daquela rua e bem próximo ao palácio da Quinta, avistei a antiga casa da duquesa de Madrid, para os mais próximos, Victoria Ward, uma mulher que arrebatou corações e inclusive teve o dom de cegar os caprichos do Sr. barão de Liverpool. Segundo boatos a residência fora vendida, mas pelo estado da mesma afirmo não haver um novo dono, pois, o tempo corrói suas estruturas e imagino que nem se quer testemunhe um século de existência. Um tanto distante da corte carioca, mas ainda no Rio de Janeiro as árvores floridas em um amarelo-ouro que rodeiam a estrada de terra denunciam que estamos no caminho certo, não demora muito e uma dezenas de palmeiras esconde um lindo palacete laranja com enormes janelas brancas, sim, a antiga casa do barão hoje minha por direito.
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Açúcar: O último beijo/ Livro 3 da série Açúcar.
Historical FictionValentine Leblanc Ward é filha do horripilante barão George Ward. A jovem garota é neta do barão da Normandia, mas fora criada em um convento na França e sem a figura de uma família seu coração se encheu de mágoas. Porém, após ser dada em casamento...