Visão infernal

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Os portões se abriram cada vez mais, parecia uma manada de animais selvagens indo em direção a uma carne pútrida e mal cortada, mas na verdade eram apenas os alunos do primeiro, segundo e terceiro ano, os novos até então. Meu nome é Margarida, sou aluna repetente do terceiro ano e por incrível que pareça, uma das mais inteligentes da classe. Pra explicar isso a gente precisa voltar alguns anos nessa história toda, mais exatamente pra quando eu cheguei nessa cidade no primeiro dia de aula.

-Senhora Margarida, correto? – sussurrou o presidente do corpo estudantil, Leopold- Vamos vamos, preciso mostrar sua fala o mais rápido possível, não queremos que se atrase no primeiro dia. -Ele sorriu de forma meiga para mim e segurou minha mão para me guiar naquele lugar barulhento. - Entendo a situação peculiar a qual se encontra, mas garanto que seremos bem receptivos com a senhorita.

-Por favor, não me trate dessa forma, da pra ver que você ta bancando o bonzinho. -Soltei minha mão da dele e respirei fundo- Eu não sou totalmente cega e muito menos especial. Meu olho pode ser cego, mas ainda enxergo com um e entendo a preocupação de vocês com alunos bomba relógio, mas isso só piora tudo. -Minha voz tomava uma firmeza um pouco maior, meus lábios logo se esbranquiçaram e meus olhos pesaram. - Onde ficam os bebedouros?

-Claro claro -Ele corre até um dos bebedouros e logo me traz um copo de água, ele aparentemente já sabia da minha situação conturbada- Aqui esta

Aqui a gente pausa pra explicação. Então, eu nasci com alguns problemas e esses problemas fazem com que as pessoas ajam como o Leo agiu. Meu olho esquerdo é cego por um simples azar de estar no meio de uma briga entre meus pais, onde um pedaço do copo perfurou meu globo ocular, já meus outros são mais ... complicados. Eu tenho Síndrome de Cotard, que basicamente me faz sentir como se meu corpo mudasse contra minha vontade e o mais difícil de explicar, eu sou hiper criativa. Continuando ...

-Esta melhor, senhorita? Antes de tudo, meu nome é Leopold Von Ford. -Disse ele um pouco confuso e receoso, era visível que ele não queria piorar tudo-

-Ta tudo bem, vampirinho. -Tentei dar um sorriso um pouco forçado para tranquilizar ele, mas só falhei mais na situação. – Olha, vamos continuar antes que eu tenha um surto aqui. -Tentei segurar a mão dele, mas falhei por não conseguir e ele segurou para continuarmos.

Ali tudo começou a cair por terra. A sala era cheia de alunos e todos ficaram encarando meu olho cego como se fosse algo extremamente estranho, até que a professora chamou a atenção de todos para que parassem. Ophelia Sparks, professora de musica e artes, era uma mulher de cabelos curtos, algumas tatuagens nos braços, mãos e pescoço ... uma verdadeira inspiração pra mim. No mesmo dia eu tive aula de francês, história e geografia, só que no fim das aulas tudo começou a desabar quando um grupo de alunos se juntou próximo da entrada e me olharam com um tanto agressiva.

-Qual foi, ceguinha! Ta afim de brincar de esconde esconde? -O garoto era Abraham, que logo acenou para um amigo atrás de mim, que não parecia estar querendo fazer aquilo, mas fez. -

-É ceguinha, mas o esconderijo vai ser você. -Ele tampou minha boca com a mão e começou a me levar para os outros garotos do grupinho. - Mas relaxa, vamos ser muito cuidadosos com esse corpinho lindo.

Aquela escola estava boa o suficiente para ser verdade, quando na verdade virou o verdadeiro inferno na terra em um simples momento, que deveria ser bom já que estava indo pra casa depois de um dia extremamente cansativo. Os garotos seguiram até uma casa próxima dali que estranhamente era bem cuidada e imponente, talvez fosse a casa de um dos alunos daquela escola. Dito e feito, Leopold estava saindo quando os garotos me esconderam atrás de seus altos e fortes corpos, dignos de atletas babacas.

-Não bagunça as coisas, Abraham, a mãe já disse que não quer seu docinho na mesa de jantar de novo. -Destacou Leo com um olhar extremamente ríspido e direto para Abe, que por sua vez seguiu com seus amigos para dentro de casa. -Você ainda fode a nossa família ...

-Cala a boca Leo, você não cansa de bancar o pai? Tu come a mãe pra agir assim porra? -Ele sibilou enquanto entrava em casa com seu grupinho e eu, até que me jogam sobre o sofá da sala- Espero que não grite, não queremos ter de apagar você pra isso.

Aviso de cena especifica e forte

Abraham começou afastando seus amigos e se aproximando de mim de forma lenta, como se estivesse apreciando a visão de uma garota completamente rendida, meu único olho funcional se fechou e minhas mãos saíram de meu controle, todo meu corpo parecia apodrecer e se encher de sangue em lugares que não deveria, meu pescoço parecia submerso em sangue, logo abri meus olhos e vi Abraham com outra face, parecia um paramédico que geralmente ajudava minha mãe durante as minhas crises, mas seus toques começaram a mudar meus sentimentos em relação ao paramédico, não conseguia falar e muito menos gritas, minha respiração ofegava, mas minha garganta se mantinha cheia de sangue, como um copo cheio quase até a boca. As mãos dele desciam cada vez mais pelas minhas pernas, ate que a abriu de forma brusca e sussurrou para si mesmo com um sorriso maldoso e sedento por tirar um pedaço de mim. Em um último ato pacifico, ele retirou sua calça jeans e começou a de fato fazer o que queria de fato. Todo aquele toque e força me fazia sentir mais mudanças no meu corpo como se o sangue se tornasse larvas, os toques repulsivos dele pareciam cortar minha pele como lâminas e o sangue escorria em uma coloração verde pútrido, de sua boca surgiram dentes afiados e quebrados, seus olhos sangravam num vermelho extremamente vivido e sua voz era ouvida como um rosnado asqueroso e cheirando a remédios vencidos. Ao fim de tudo, via meu corpo como se estivesse cortado por diversas navalhas, meu olho cego parecia não estar mais ali apenas uma bola de sangue, em meu pescoço haviam marcas de dentes tortos e profundos, já meus seios pareciam não estar mais ali, pareciam estar pendurados por algumas veias e os meus braços estavam podres, como se eu fosse um cadáver ambulante. Não poderia ser real, não deveria ser rela, não fazia sentido algum aquele estado decrepito. Em um estridente grito, minhas mãos seguiram para a minha cabeça e meus joelhos foram de encontro ao chão, ninguém naquela casa conseguia me ouvir, afinal fui deixada sozinha e nua naquela sala, onde tudo parecia estar coberto de sangue, as paredes pareciam me olhar como olhos claros, castanhos e roxos, já as portas pareciam pilhas de carne viva como se fosse o interior de um ser vivo, as luzes pareciam cortinas de fogo e os moveis pareciam membros decepados de forma bruta. Uma voz logo sussurrou na minha cabeça e criou forma na minha frente, um homem esguio de coluna recurvada como uma corcunda, sua barriga inexistente assustava pelos ossos amostra, seus olhos verdes cintilantes me assustava juntamente de suas mãos longas e magras.

-Minha querida flor, esta na melhor parte do nosso show. Esse é apenas o primeiro ato de muitos, afinal você achou que seria diferente aqui? -A mão dele segurou meu pescoço e me sufocou, como se algo prendesse em meu pescoço- Você é uma cega imunda, veja só isso, está morrendo ... Não ache que será fácil nossos jogos. -No mesmo momento a porta se abriu brutalmente, com um garoto de cabelos curtos vindo me socorrer- Vejam só! O cavaleiro branco veio buscar seu corcel. Preste mais atenção na próxima, guerreiro.

-Moça? Consegue me ouvir? Droga ... esses merdas fizeram mais uma vez, dessa vez eu vou na justiça. Vem comigo, eu te levo daqui. -O rapaz me levou dali e a voz mais uma vez disse antes de sairmos dali-

-O próximo ato será GLORIOSO, não perde por esperar, querida flor. Descanse e decore o roteiro ou apenas viva, não pode fugir do que criou.

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⏰ Última atualização: Nov 03, 2021 ⏰

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