CAPÍTULO 7 - A minha loucura é você.

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CAPÍTULO 7

JOÃO PEDRO

Raquel foi embora de casa levando apenas a bolsa com o celular. Eu mantive minha postura e a observai deixar o nosso lar, acompanhado do seu irmão. Aquele moleque ainda me pago por se meter na nossa vida. Eu tinha certeza de que logo ela se daria conta da besteira que estava fazendo e voltaria para casa. A casa dela, onde desfrutava de conforto e uma boa vida. Mais do que a maioria das mulheres dessa cidade possuíam.

- Meu filho, por que você fez isso? – a voz cansada do meu pai interrompeu meus pensamentos.

- Pai, eu não quero discutir esse assunto!

- Mas você não pode perder a cabeça desse jeito, João Pedro! Não pode tratar a Raquel dessa forma.

- Pai, deixe que com a minha mulher eu entendo.

- Eu não sei, meu filho, o que aconteceu para você ficar desse jeito.

- Claro que o senhor não sabe! – gritei – Você nunca se preocupou comigo!

- João... meu filho! – Os olhos do meu pai se encheram, e sua expressão era de tristeza. Abaixou a cabeça e saiu da minha casa, acompanhado do Lucas. Eu não quis encará-los, não quis constatar a cara de espanto e decepção que eu presumia estar em seus rostos.

Fiquei sozinho. Fui até o bar da sala e tomei um copo de uísque que desceu queimando a garganta seca. Olhei em volta, como paredes muito bem decoradas com belos quadros, uma casa linda onde a Raquel tinha deixado o seu toque em cada canto. Eu não posso perder a minha mulher, sempre fui apaixonado por ela, desde a primeira vez que a vi.

Ainda era uma criança quando minha mãe adoeceu. Ela já vinha demonstrando pequenos sinais de que algo estava errado, mas ninguém prestou atenção, exceto eu. Numa certa manhã, ela colocava o nosso café, quando de repente deixou cair a jarra de leite no chão. Outra vez, eu percebi o andar dela se sernando trôpego, desequilibrado. Perguntei se estava se sentindo bem e ela respondeu que sim, não havia nada que eu deveria me preocupar.

Minha mãe era a mulher mais bonita que eu conhecia, tinha olhos verdes como água do rio e o sorriso mais cativante desse mundo. Eu me adorava deitar em seu colo à noite, enquanto ela assistia TV no sofá, o Lucas choramingava com ciúmes, mas ela o confortava dizendo que tinha colo para os dois.

Certa vez, ela foi na busca na escola e no caminho de volta, desequilibrada e caiu no chão, batendo a cabeça em um paralelepípedo. Foi socorrida pelas pessoas que passavam na rua, mas se recusou a ir ao pronto socorro, recebendo apenas um curativo no lugar machucado.

Eu sempre me perguntava se o papai não percebia como ela estava emagrecendo, os tremores e a fraqueza nas mãos. Como ela sempre estava procurando um lugar para se sentar. Ele passava a maior parte do tempo no escritório e quando estava em casa, gostava de ver telejornal ao lado da mamãe. Mas nunca o vi preocupado com suas mudanças. Às vezes ela reclamava de câimbras nas pernas e de cansaço, ele apenas a olhava e mandava que estava descansar no quarto.

Quando de fato a mamãe piorou e os sinais se tornaram muito salientes, meu pai levou para diversos médicos, foram meses de exames, tratamentos, viagens para outras cidades onde existiam clínicas mais especializadas, até que o diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica foi confirmado. Na época uma doença desconhecida por nós e por eles. Buscaram diversos tratamentos, meu pai a levou para São Paulo na Esperança de que lá em uma clínica particular, ela teve um tratamento que a salvasse, porém, não foi o que aconteceu.

Durante cinco meses, minha mãe ficou internada em São Paulo, meu pai permaneceu com ela o tempo todo. Lucas e eu ficamos aqui aos cuidados de uma babá a dona Lúcia. Ela é irmã da Dona Inês, a mãe da Raquel.

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