CAPÍTULO 6 - Há motivos para ser forte!

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RAQUEL

Meu fim de semana tinha sido muito legal. Na manhã seguinte ao jantar na casa de Bernardo fui dar uma volta pelos arredores do prédio, numa pracinha que ficava ali perto. Sentei-me num banco da praça e fiquei observando as crianças brincando na grama, tendo a ideia de qualquer dia convidar o Bernardo para trazer a Bebel para passear ali.

Meu telefone tocou naquela hora, conferi o número no visor, era minha mãe.

- Oi Mãe? Tudo bem com a senhora?

- Oi minha filha, tudo indo como Deus permite, né? Seu pai e eu já estamos preocupados com você, desde terça-feira que você não liga para cá.

- Ah, mãezinha, me desculpe. Eu estava numa correria tão grande para arrumar meu apartamento e conseguir um emprego que ficava exausta. Mas eu converso quase todo dia com a Bia, o Alberto e o Théo pelo WhatsApp. Também converso muito com meus sobrinhos, eles fizeram um grupo só dos primos e tios solteiros.

- Mas você não é solteira, Raquel. Ainda não me conformo com isso! Um casamento de tantos anos, um marido tão lindo, trabalhador, bem de vida!

- Tá bom, mamãe, pode parar.— Interrompi antes que começasse o drama - Eu sei que o João era o genro dos seus sonhos. Mas acabou. Mãe, se acostume.

- Não, acabou ainda não. Seu divórcio ainda não saiu e eu tenho muita fé na reconciliação de vocês.

- É só uma questão de tempo. Mas eu não quero falar mais disso. Como o papai está?

- Está bem, né! Mas se você estivesse aqui, estaria tudo melhor. Já me basta o Alberto morando longe.

- Mãe, o Alberto mora a 50 quilômetros da sua casa. Isso não é morar longe.

- É sim. Se não dá para ir a pé, pra mim é longe.

- Ai, ai, dona Maria Inês. A senhora quer todos os seus pintinhos debaixo de sua asa. Já somos adultos, mãe. Mas, me conte. Fez os exames que o dr. Paulo solicitou?

- Fiz sim, minha filha. Na próxima sexta-feira o Alberto pega o resultado e na segunda-feira seguinte mostrarei ao médico. Assim, ele passa o tratamento certo para acabar com esse mal-estar que sinto. Tem dias que como um pouquinho e já fico agoniada, com náuseas, horrível, Raquel.

- Ah, mãe! Se cuide, não deixe de levar os exames ao médico e seguir as orientações que ele fizer.

- Tá, minha filha. E esse emprego que você arranjou? A Bia me falou que você estava muito feliz. Vão te pagar bem?

- O salário não é grande coisa, mas as condições de trabalho são ótimas, tem um plano de saúde e vou ter tempo pra fazer faculdade.

Mamãe ficou calada por um tempo, eu sabia que ela discordava da ideia de eu fazer faculdade à essa altura do campeonato, mas eu não iria desistir por nada.

- Então tá certo, filha. Eu vou desligar que preciso falar com a Micaela, Alberto me disse que o Antony chegou em primeiro lugar na natação. Ele está todo orgulhoso do menino.

- E é pra todos nós ficarmos orgulhosos mesmo. Cada conquista de Antônio é motivo de festa. Os autistas fornecem muitas limitações e esses tipos de estímulos como atividades esportivas são importantíssimos.

 - Isso mesmo! Fica com Deus minha filha! Que Ele te proteja! E não esqueça de ligar, sentimos saudades.

- Amém, mamãe! Dá um beijo no pai. Eu amo vocês.

Depois de conversar com minha mãe, voltei pro apartamento, arrumei as coisas, fiz um bolo e chamei a Carmen pra um café da tarde.

Conversamos bastante, a Carmen é uma pessoa sensacional! Estreitamos a amizade e ela me chamou pra uma festa surpresa que estava combinando com outra moradora do prédio para comemorar o aniversário de Almeida. Fiquei feliz, assim já teria programa para o próximo sábado e conhecer outros vizinhos de prédio. Para quem sempre morou em cidade pequena, onde todo mundo se conhece, morar sozinha, numa cidade grande me deixava melancólica e apesar de conversar por mensagens com meus irmãos e sobrinhos, eu me sinto muito solitária.

EM CADA PASSOOnde histórias criam vida. Descubra agora