Oito anos atrás...
— Oi gatinho? — A loirinha se sentou perto de mim na lanchonete da faculdade — Tá esperando alguém?
Fiquei surpreso com a aproximação, eu não a conhecia, mas ela me parecia ser uma daquelas garotas descoladas, cheias de atitude e muito extrovertida. Enquanto eu era apenas um calouro, ainda meio deslocado, sem uma turma. O único conhecido que eu tinha ali era o Arthur que já estava no segundo período de administração. Como eu não tinha carro e quase sempre tínhamos aulas no mesmo horário, ele me dava carona até o meu departamento e depois seguia para o dele. Quando dava certo voltávamos juntos, quando não, eu tinha que pegar um ônibus para voltar pra casa. Era uma rotina bem enfadonha porque minha casa ficava bem distante.
— Não, na verdade, apenas esperando a aula do meu amigo acabar pra poder ir pra casa.
— Você mora com seu amigo?
— Não, na verdade eu só pego carona com ele. Moramos no mesmo bairro.
— Você sempre inicia uma resposta com um "não, na verdade"? — Fiquei alguns segundos tentando entender, quando ela sorriu.
— Relaxa, estou te zoando! Prazer, meu nome é Sabrina como você se chama?
— Bernardo, mas os amigos me chamam de Bê.
— Ai que fofo! Posso ser sua amiga e te chamar de "Bebê"?
Eu sorri sem acreditar na ousadia daquela menina, acabávamos de nos conhecer e ela estava claramente dando em cima de mim. Apesar de ter ficado sem graça, eu gostei. Uma moça tão bonita e inteligente tomando a iniciativa, era bom demais pra ser verdade.
Eu sempre fui muito tímido e tinha dificuldade em tomar a iniciativa para novos relacionamentos, ficava travado, gaguejava e me atrapalhava todo. Certa vez uma menina zombou de mim e disse que não ficaria com um idiota como eu. Isso contribuiu ainda mais com minha insegurança.
Eu admirava muito o meu amigo Arthur, sempre foi muito extrovertido, fazia sucesso com as garotas desde a quinta série. Era bastante desinibido e sabia chegar nas meninas quando estava a fim. Minha primeira namorada foi ele que arranjou pra mim. Aliás, meu primeiro beijo foi arquitetado pelo Arthur. Eu já tinha quase dezessete anos e ele dizia que tinha vergonha alheia por mim. Daí combinou com umas meninas do colégio e, nem preciso dizer o final. Acho que se não fosse pelo Arthur eu estaria na mesma até hoje.
Bem, a Sabrina continuou puxando uma conversa à toa e quando o Arthur chegou, foi logo se apresentando. Perguntou se a gente topava assistir ao show da banda das amigas dela que fariam no sábado, num barzinho perto da faculdade. O Arthur que não perdia oportunidade topou por nós dois.
E lá estávamos nós no barzinho lotado de estudantes. O show estava marcado para iniciar às 21h, mas antes disso já tinha uma galera bêbada, dançando e paquerando.
A banda "Arretadas", composta por quatro garotas, começou a tocar um forró estilo universitário. A vocalista Nayara era muito animada e colocava o povo pra dançar. Arthur logo tratou de chamar uma colega da turma dele pra dançar e eu fiquei, um pouco mais distante do som, encostado no balcão apenas observando a movimentação. Foi aí que escutei a voz dela novamente.
— E aí, Bebê! Não gosta de dançar ou estava me esperando? – Ela tinha um talento extraordinário de me deixar sem graça.
— Oi, Sabrina! Eu, não gosto muito de dançar.
— Como assim? De onde você saiu? Quem nesse mundo não gosta de um forrózinho, rapaz?
— Na verdade, eu até gosto de ouvir, mas dançar, não é bem a minha praia.
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EM CADA PASSO
RomanceRaquel é uma jovem mulher, marcada pelo fracasso de seu casamento e por sentir que mal viveu os seus 33 anos. Ao perceber que sua vida esteve sempre sujeita às vontades e opiniões alheias, ela resolve tomar uma decisão. Deixará para trás o seu pass...