CAPÍTULO 8

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A semana passou num piscar de olhos. O trabalho no escritório foi ficando cada vez mais intenso e as horas passavam que eu nem via. Também conheci melhor a equipe de advogados, eram cinco ao todo. Dr. Samuel era o presidente, um homem extremamente educado e gentil. Ele fez questão de conversar pessoalmente comigo explicando o funcionamento do escritório e como cada advogado e sua equipe atuava em cada área do direito.

Todos os dias em casa depois do trabalho, eu conversava com minha família, ora por vídeo-chamadas, ora por mensagens de texto. A única pessoa com quem eu não conseguia conversar era o meu pai. Ele não gostava de telefone, muito menos de trocar mensagens. Tudo o que eu sabia dele era minha mãe que me contava.

Na sexta-feira à tardezinha quando chegue ao prédio, um dos porteiros que revezava com o Almeida me disse que um homem já tinha pergunta ligado por mim. Perguntei se já tinha deixado recado, mas ele negou, afirmando apenas que o homem fez diversas perguntas, mas se identificou apenas como um amigo do trabalho. Fiquei tentando imaginar quem poderia ter sido, mas não consegui suspeitar de ninguém. Será que algum dos advogados ou dos funcionários do escritório estavam investigando minha vida? Melhor nem criar minhocas na cabeça.

Entrei no elevador e um pensamento se instalou em minha mente. O que será que o Bernardo tinha feito durante a semana? De repente me bateu uma saudade da Bebel, como será que eles estavam?

Não sei como tive coragem, mas ao invés de apertar o botão do quinto andar, o o do sexto. Cheguei ao apartamento do Bernardo e quase dei meia volta, a velha insegurança atacou novamente. Pensei o quão inapropriado era para uma mulher separada tocar a campainha de um jovem pai solteiro. Ora, que mal tinha isso? Não existia nada demais entre mim e o Bernardo, apenas o meu interesse em brincar um pouquinho com a bonequinha loira que morava ali.

Criei coragem e toquei a campainha. Bernardo atendeu imediatamente com a menina nos braços e uma mamadeira na mão. Ficou feliz comigo ver e foi logo me entregando a neném e se explicando:

— Noossa, Raquel! — Foi bem enfático. — Parece que você adivinhou que eu estava precisando de ajuda aqui! Toma, segura ela aqui um pouquinho.

Ao entrar no apartamento, eu assustei com a bagunça. Brinquedos espalhados pelo tapete. Mamadeiras em cima do balcão que dividem o cômodo, mantas e fraldinhas de tecido pelo sofá. Parecia que uma bomba já estava esgotada na bolsa de maternidade.

— Olha, não repara a bagunça — falou passando a mão nos cabelos desgrenhados - É que a diarista que a Carmen me indicou, adoeceu justo nessa semana. Eu passo as tardes com a Bebel, mas ainda não consigo dar conta de cuidar dela e manter o AP em ordem.

Observei o rapaz com mais atenção. Como olheiras denunciavam como noites mal dormidas, a barba tinha crescido um pouco desde a última vez que o vi, e sua aparência geral era de puro cansaço. Ainda assim, continuar sendo muito bonito e atraente. Os cachos do cabelo castanho claro estavam desalinhados e davam um ar de rebeldia ao quase aspecto angelical. Olhei para a garotinha esperta em meus braços compreender, parecia o que seu pai falava. Agitava os bracinhos felizes como se soubesse que era responsável pela zona de guerra na sala.

— Não se preocupe, eu ajudei a cuidar de vários sobrinhos. Sei o quanto esses anjinhos têm o poder de colocar uma casa de pernas pro ar. Eu diga, em que eu posso te ajudar?

— Você pode dormir aqui? — essa resposta, ou melhor, pergunta essa eu pegou de surpresa.

— Como?

— Digo, ai meu Deus, eu sou um idiota! Não digo dormir aqui, não comigo, digo com a Bebel.

— Você quer que eu durma aqui para cuidar da Bebel?

EM CADA PASSOOnde histórias criam vida. Descubra agora