O Elfo

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Os primeiros raios de sol surgiram, porém ele já estava de pé. Aron estava vestido com suas surradas botas de caça, camisa e calça de caçador verde-escuro e, por cima, sua armadura de couro batido. Não poderia faltar, é claro, seu inseparável gorro marrom. Nunca saía sem ele. Deslocado em um mundo onde não era possível nascer descendentes fruto de relacionamento entre humanos e elfos, ele não entendia como tinha sido possível seu nascimento.

O gorro escondia suas orelhas. Eram menores do que orelhas de elfo, eram do tamanho de orelhas humanas, porém se estreitavam nas pontas como as dos elfos. Não fosse isso, ele passaria totalmente despercebido. Era meio-elfo. Sua estatura era um pouco menor do que um humano médio e seu corpo um pouco mais franzino, mas já havia visto outros humanos como ele. Usava cabelo curto e tinha deixado o pouco de barba e bigodes castanhos que possuía crescer para ajudar a esconder seu rosto mais fino e sua origem élfica, já que os elfos não possuíam barba nem bigode. Havia acabado de completar dezoito anos e tinha envelhecido o mesmo tanto que um humano da mesma idade. Sua idade aparente acompanhava a dos outros jovens da vila. Os elfos eram conhecidos por viverem centenas de anos.

Com um aceno da mão direita, Aron extinguiu o fogo da lareira que o havia aquecido durante a noite, saiu de sua cabana e caminhou alguns metros até um túmulo. Lá estava escrito:

"Edward, amado pai e brilhante caçador."

Seu pai havia falecido fazia dois invernos. Edward havia criado Aron desde que os fellines o deixaram na Vila de Taure com dez anos de idade. Edward acolheu a criança meio-elfa como nenhum humano faria, o havia ensinado tudo sobre a sociedade humana e tudo o que sabia sobre caça e uso de arco e flecha. Edward dizia que ele tinha um dom natural para usar o arco e flecha, Aron imaginava que deveria estar relacionado aos seus antepassados e à excepcional destreza élfica.

Os fellines disseram que o haviam encontrado na floresta dos elfos ainda bebê e decidiram protegê-lo. Quando tinha idade suficiente, achavam importante integrá-lo à comunidade humana, foi quando Edward o acolheu como o melhor pai do mundo acolheria o filho.

Edward nunca revelou para o restante da vila que Aron era meio-elfo e o ensinou a manter isso em segredo. Tinha medo da reação das pessoas, deles falarem que era amaldiçoado, que tivessem medo ou simplesmente ódio. Agora estava ele ali, pronto para pegar a estrada e ir para Carovy.

— Será que vão desconfiar ou descobrir? Será que estarei seguro?

Aron nunca havia ido para Carovy. Tinha passado toda sua discreta vida parte na aldeia dos fellines, e parte na Vila de Taure.

Mas ele estava decidido, já se considerava um adulto e sabia se virar sozinho. Notícias haviam chegado sobre um festival próximo a Carovy, e haveria competições diversas, dentre elas a de arco e flecha.

— Irei vencer e todos saberão que o filho de Edward Brown, "o Caçador", é o melhor arqueiro do reino. Não deixarei seu nome ser esquecido, pai.

***

Após um dia inteiro viajando, começou a perceber o aumento do número de pessoas na estrada, era gente de toda a região. Reparou alguns brasões desconhecidos, provavelmente de famílias de cidades além da montanha ou que chegaram de navio. Um grande mercado temporário havia se formado.

— Veja se algo lhe interessa, meu lorde. Também aceito encomendas — disse um animado jovem. Provavelmente um aprendiz de ferreiro.

— Poções! Poções! Para curar suas feridas, aumentar sua força ou fazer crescer cabelo no rosto. Temos poções para o que você precisar! — gritava um simpático gnomo alquimista com uma bela barba grisalha.

O Feiticeiro MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora