Pigorn levantou e levou a mão à cabeça, sentiu o líquido pegajoso escorrer pelo pescoço e conferiu a coloração vermelha na ponta dos dedos. Levou alguns segundos para entender o que havia acontecido. Ouvia sons de batalha, mas, de dentro da carruagem, só podia especular o que estava acontecendo.
"Fomos atacados, o condutor tentou fugir em velocidade e a carruagem tombou de lado, foi isso? Quem seria ousado para atacar uma caravana tão bem guardada? Próximo ainda da Vila de Taure...", muitas dúvidas surgiram na cabeça de Pigorn. Ele tentava entender a situação para então pensar em como sair dela.
Ouviu os gritos de dor dos mercenários e não tinha mais dúvida de que estava com sérios problemas.
— Droga, não consigo alcançar a saída. Vou me lembrar de acrescentar um alçapão no fundo desta carruagem para situações como essa.
Com a carruagem tombada, a única saída era a porta da direita, que agora estava para cima.
Uma cabeça de lagarto apareceu na porta da carruagem e o fitou com a língua bipartida para fora.
— Olá, meu amigo! Imagino que você não veio aqui para me ajudar a sair, não é mesmo? — falou Pigorn olhando para o kobold.
O kobold pulou dentro da carruagem com a faca preparada para atacar. Pigorn acionou seu lançador de dardos e o atingiu na perna. A criatura gritou mais de raiva do que de dor, mas, imediatamente depois, caiu no chão desacordada. A dosagem do veneno do sono foi calculada para derrubar um humano. Uma criatura pequena como o kobold não teve nenhuma chance.
Outro kobold colocou a cabeça na porta para olhar e Pigorn o acertou na testa. Mais dois apareceram e ele conseguiu acertar mais um. O segundo fugiu a tempo.
— Podem vir, nesta distância eu não tenho como errar.
Pigorn conferiu e viu que tinha mais três dardos no lançador e mais seis na sua bolsa. Recarregou e esperou. Passaram-se mais alguns minutos e nenhum kobold apareceu, apesar de Pigorn ainda conseguir ouvir os sons das criaturas se comunicando, batendo na carruagem, às vezes perfurando com a lança e correndo de um lado para o outro.
— Se eles abrirem buracos nas laterais da carruagem, posso atirar através deles e derrubar mais alguns.
Pigorn então começou a sentir o cheiro de fumaça. Logo imaginou o que seria e, para seu desespero, ele estava correto. Os kobolds haviam recolhido grama seca na beira da estrada e tinham colocado fogo na carruagem. Pigorn podia ouvir sons ritmados sendo emitidos por todos os kobolds. Não precisava ser proficiente na língua gutural das criaturas para saber que eles estavam rindo do cruel destino que se aproximava do goblin.
***
Aron imediatamente reconheceu a voz e toda tensão se foi. Era sua amiga de infância Cathy, ela tinha quase a mesma idade que ele e haviam brincado e treinado juntos quando criança. Aprendeu a ser silencioso e a se esconder nas sombras com os fellines enquanto morou na vila deles. A aldeia ficava dentro da floresta dos elfos, a poucos quilômetros de onde eles estavam.
— Agora que já teve sua pequena vitória particular, será que podia deixar eu tirar minha cara do chão? — perguntou Aron em um tom brincalhão.
— Agora está vinte e oito a zero para mim — zombou Cathy.
Aron levantou e se virou para olhá-la. Não podia nunca deixar de reparar na beleza exótica que ela tinha. Pensou que estava linda como sempre. Tinha olhos amarelos como de tigre, a pele era branca, próxima aos olhos e boca, e alaranjada no restante da face; as orelhas eram pontudas e se mexiam ao redor para captar melhor os sons, e seu cabelo era na altura dos ombros, laranja com mechas pretas. Ela estava usando um top castanho que deixava a barriga, que era branca com as laterais laranja, de fora, e as pernas e os braços eram cobertos por pelos laranja com linhas grossas pretas. Usava também calças compridas marrons que iam até os tornozelos com uma tira presa na sola dos pés descalços. Na cintura, tinha uma adaga e um chicote pendurados.
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O Feiticeiro Mestiço
FantasiO livro conta a história de Aron, um meio-elfo feiticeiro em um mundo onde a relação entre humanos e elfos não geram descendentes. Após ser rejeitado pelos elfos, passou anos ocultando sua identidade e morando numa pequena vila com medo de descobrir...