A Gata

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Já era noite em Carovy. Poucas pessoas andavam nas ruas, e cada cantinho da cidade estava coberto de sombras. Era a hora perfeita para fazer o trabalho. Cathy levantou bem devagar a tampa do bueiro e olhou em volta com seus olhos amarelos. Não havia ninguém. Com a velocidade e agilidade típica dos felinne, saiu do bueiro e foi para as sombras.

Agora ela estava dentro da cidade murada. Era onde as pessoas com mais recursos moravam. As ruas eram limpas, havia alguns postes com lampião a óleo nas ruas principais e mais largas, a vizinhança era organizada com algumas belas construções. Quanto mais próximo da ponte que levava para o castelo, mais a riqueza aparecia. Uma quantidade maior de soldados patrulhava à noite, mas isso não era problema. Cathy conhecia bem a região, já havia feito vários trabalhos por ali, conhecia todos os becos, atalhos e ruas sem iluminação.

Ela se movia como um fantasma, seus passos não faziam nenhum ruído. Deslocava-se de sombra em sombra com sua roupa escura colada ao corpo. Mesmo quem estivesse a procurando, teria dificuldade de ver.

Faltando duas quadras para seu destino, ela avistou dois soldados no beco. Esperou imóvel atrás de uma carroça por alguns minutos.

"Vamos, seus preguiçosos. Vocês precisam fazer a ronda", pensou.

Escalou uma loja de dois andares e foi para o telhado. A brisa fria da noite lhe cumprimentou, fazendo os pelos laranja e preto dos braços se arrepiarem. Pelos telhados avançou até perto dos soldados, conseguindo ouvir a conversa. Os dois homens eram amigos e um deles havia voltado recentemente da capital do reino, onde tinha ido escoltar o lorde de Carovy para ver o rei.

— Mas que falta de sorte! Essa conversa vai longe e não tenho a noite toda, preciso estar fora da cidade ao amanhecer.

Olhou para o restante da rua e encontrou o local perfeito para atravessar. Um prédio de três andares do lado da rua onde ela estava e um de dois andares em frente. Cathy seguiu pelos telhados e subiu mais um andar. Calculou a distância, correu e pulou. O vulto cortou a noite pelo ar e, com uma graciosa cambalhota, aterrissou do outro lado quase sem emitir nenhum ruído. Com um sorriso nos lábios, seguiu dançando pelos telhados.

Chegou ao destino, a casa de um traficante de ópio. A guilda de ladrões lhe informou do grande carregamento que havia sido contrabandeado naquela semana e como rapidamente tinha sido colocado nas ruas. Seguindo o planejado, desceu do telhado aterrissando na grama bem cuidada do quintal dos fundos da mansão. Pegou seu kit de ferramentas e, quando ia começar a abrir a fechadura, viu o cachorro se aproximar.

— Ora, ora... temos um menino vigiando a casa!

O cachorro latiu uma vez. Cathy abaixou, olhou fundo nos olhos do animal por alguns segundos, depois estendeu a mão e deixou o cachorro cheirar. No instante seguinte, já estava deitada no chão com o animal lambendo sua cara.

— Bom garoto. Agora vá descansar e me deixe trabalhar — sussurrou enquanto rolava para se esconder no corredor lateral da casa. — Será que alguém ouviu o latido?

Os fellines tinham o dom de lidar com os animais, até mesmo os mais selvagens, como lobos e ursos.

Esperou alguns minutos escondida, porém ninguém apareceu. Voltou para a porta, e, em menos de um minuto, ela estava aberta. Entrou na casa com cautela, ouvidos atentos a qualquer ruído, e fechou a porta atrás dela. Esperou um momento para sua infravisão se acostumar com a escuridão no interior da casa.

Subiu as escadas e foi na direção do cômodo principal. Percebeu que a informação da guilda sobre a casa estava perfeita. Olhou para dentro do quarto e viu o baú. Os sentidos se aguçaram quando viu a cama vazia. Ouviu o assoalho ranger atrás dela.

O Feiticeiro MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora