Embora os olhos estivessem todos errados

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— Puta merda! – Catarina gritou de frustração para a TV quando o Arsenal não conseguiu marcar mais uma vez.

Ragnor escondeu seu sorriso no ombro de Catarina. Ao contrário de sua namorada, ele não gostava do Arsenal, então o fracasso contínuo deles em marcar era muito divertido para ele. 

Ele sabia melhor do que dizer isso em voz alta, no entanto.

O sorriso de Ragnor desapareceu quando ele avistou Magnus esparramado no outro sofá. 

"Esparramado" provavelmente era a palavra errada para a forma como seu amigo estava sentado: havia algo rígido e anormal na postura de Magnus. 

Não era a primeira vez que Ragnor notava isso em Magnus, desde seu retorno para casa. Ragnor não conseguia definir o que era. 

Não que Magnus parecesse infeliz, por si só. Ele não parecia. Havia simplesmente algo estranho nele. Às vezes.

Ragnor mordeu o lábio. Ele tinha pensado que oferecer a Magnus um emprego na empresa de sua família iria distraí-lo do que tinha acontecido com ele. 

Embora tivesse parecido ajudar – Magnus estava claramente feliz em fazer o que ele fazia bem e feliz por não ter que depender de seu pai –  algo ainda estava errado. 

Magnus não era o mesmo. 

Ragnor não tinha certeza do que fazer a respeito. Ele deu a Magnus algum espaço, não querendo pressioná-lo até que ele estivesse pronto para falar, mas já haviam se passado três semanas desde o seu retorno e Magnus ainda fugia do assunto completamente. 

Era como se... como se algo tivesse acontecido com ele enquanto estava na Rússia. Algo que Magnus não queria pensar ou falar.

Ragnor estremeceu e se aconchegou mais perto de Catarina, respirando seu cheiro familiar.

Catarina virou a cabeça. 

— Rag?

Ragnor apontou com os olhos para Magnus e sussurrou:

— Você também vê, certo?

O olhar de Catarina mudou para Magnus. Ela assentiu.

— Você acha que algo aconteceu com ele, enquanto aquelas pessoas o tinham? – Ragnor perguntou, tomando cuidado para manter a voz baixa.

Catarina franziu a testa. 

— Rag,  alguns criminosos o sequestraram por dois meses. Não foi exatamente um feriado. É natural que ele pareça um pouco deprimido.

— Acho que sim. – Ragnor respondeu,  mas não estava convencido.  – Magnus era a pessoa mais positiva e otimista que já conhecera. Ficar preso por dois meses não deveria tê-lo afetado tanto, se isso tivesse  realmente sido tudo o que aconteceu, como Magnus tinha garantido. – Eu quero tentar falar com ele novamente.

Catarina o estudou antes de assentir. 

— Se  isso vai fazer você se sentir melhor. – Ela disse, beijando o canto da boca de Ragnor, depois o outro. – Não é sua culpa, ervilhinha. Você sabe disso, certo?

Ragnor enterrou o rosto na curva do pescoço de Catarina, se aninhando nela. 

— Sim. – Ele disse, sem muita convicção. 

Logicamente, ele sabia que era improvável que ele pudesse ter evitado o sequestro de Magnus, mas havia uma parte dele que ficava se perguntando o que teria acontecido se ele tivesse arrastado sua bunda para fora da cama e insistido em acompanha-lo a São Petersburgo. 

Síndrome de Estocolmo Onde histórias criam vida. Descubra agora