Capítulo 26

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- A Dona Lily não iria almoçar com a gente? - pergunto vendo que a mulher havia se retirado com Hévora para que Toni e eu pudéssemos almoçar.

- Ela é teimosa, insiste que não pode almoçar comigo então insiste em comer na cozinha. - Toni revira os olhos e eu rio da sua reação - Mas gostou do apartamento? - me olha levando um pouco de arroz com feijoada até sua boca.

- Uhum, seu apartamento é lindo.

- Obrigada, reformei a uns meses atrás. - sorri orgulhosa.

- Como sempre, o seu gosto é impecável. - elogio a fazendo sorrir ainda mais.

- Bom, como está a feijoada? - pergunta preocupada e dou um gole no suco a minha frente.

- Está divino, Toni! Essa de longe é a melhor feijoada que eu já comi. - suspiro e seu sorriso permanece em seus lábios enquanto ela me olhava.

- Vindo de uma ótima cozinheira como você, eu me sinto lisonjeada. - empina o nariz e eu rio - Como foi a apresentação? Desculpe não tido como comparecer. - seus ombros caem e ela volta a comer.

- Ocorreu tudo bem, apenas Hévora que começou a chorar no meio da apresentação e eu precisei sair.

- Colocou aqueles protetores de ouvido que eu sugeri? - afirmo com a cabeça.

- Sim, creio que era fome. - aperto meus lábios e vejo seus lábios levemente inchados - Como foi no hospital? - pergunto insegura se devia perguntar ou não mas mee arrependo assim que seu sorriso morre aos poucos.

- Depois conversamos sobre isso. - força um sorriso e solto a faca, coloco minha mão sobre a sua e a aperto.

- A Dona Lily não se importa mesmo de ficar com Hévora? Eu posso colocar ela no bebê conforto... - mudo de assunto e Toni nega com a cabeça.

- Ela reclama que eu quase não dou trabalho para ela aqui dentro então acho que ficar de olho um pouquinho em Hévora irá fazer ela parar de procrastinar. - brinca e eu rio negando com a cabeça e solto sua mão.

- Quanto tempo ela trabalha com você? - pergunto interessada voltando a comer.

- Se eu não me engano, fazer treze anos e dois meses. - faz carinha de quem estava pensando e eu mordo minha bochecha para conter um sorriso bobo.

- Nossa, é bastante tempo... Isso explica a relação de vocês. - Toni afirma com a cabeça e sorri.

- Ela é uma segunda mãe, mesmo ainda com esses detalhes de não comer comigo. - faz careta - Ela sempre me da puxões de orelha.

- Depois eu vou perguntar a ela se você fica trazendo mães de seus pacientes para almoçar com você. - brinco e Toni faz uma falsa cara horrorizada.

- Meu Deus, eu estou ferrada. - leva a mão até o peito e eu rio - Mas se quer saber, você é a única pessoa que vem almoçar comigo, além da Veronica. - da um gole no suco.

- Me sinto lisonjeada agora. - brinco e Toni sorri.

[…]

- O que aconteceu para te deixar tão tristinha? - pergunto abraçando Toni por trás.

Nós três estávamos deitada em sua enorme cama, Hévora dormia calmamente em volta de vários travesseiro, Toni estava ao seu lado e eu atrás da médica.

- Sabe as gêmeas que eu fui chamada as pressas? - pergunta sem tirar os olhos de Hévora.

- Sim...

- Uma delas precisaram fazer um transplante de fígado, uma iria doar para a outra mas uma teve ataque cardíaco pelo coração estar mais fraco... - suspira - Nós não conseguimos a reanimar... Tivemos que entrar em uma cirurgia de separação das duas urgentemente porque o sangue de uma iria coagular e matar a outra. - segura a mãozinha de Hévora - Nós não conseguimos e as duas acabaram morrendo... Elas eram juntadas pela a perna. - me olha - Eu as vi nascer, estava no meu primeiro ano de residente, eu acompanhei elas até que saíssem do hospital. - me olha e vejo que seus olhos estavam marejados - Eu odeio perder meus pacientes, ainda mais duas de uma vez. - murmura e a abraço - Eu sabia que o coração de uma estava fraco mas se não fizéssemos o transplante imediatamente, a outra iria morrer. - continua a falar e apoio minha cabeça em seu ombro - E eu perdi as duas.

- A culpa não foi sua. - beijo a linha do seu maxilar.

- Eu sei mas... - murmura baixinho e ficamos em silêncio ali, abraçadas e olhando para a minha filha que dormia serenamente - Depois que Hévora e você entraram na minha vida, parece que a dor de perder um paciente dói ainda mais. - tenta me olhar sobre o ombro - Quando o coração para de bater, a única coisa que vem em minha cabeça é: "e se fosse a Hévora ali". - volta a olhar para minha filha.

- Eu não sei o que dizer... Desculpe.

- O seu abraço e seus beijos já dizem bastante. - acaricia meu braço e ficamos vários minutos em silêncio, até que Toni respira fundo e então me olha por cima do ombro, cobre meus lábios com os seus e começa os mover iniciando um beijo lento.

- Eu tenho um quarto vago, acho que irei transformá-lo em um quarto de bebê para quando Hévora e você vierem dormir aqui, Hévora possa dormir lá. - sugere assim que afasta nossos lábios.

- Nada disso, eu comprei um berço móvel e quando vier dormir aqui, eu posso trazê-lo. - belisco sua cintura e ela ri baixo.

- Poxa, meu sonho é decorar um quarto de bebê. - faz um bico mimado e eu rio.

- Um dia você vai montar um para o seu filho. - beijo sua bochecha - Não para a minha.

- Eu sei mas não pretendo engravidar por enquanto então me deixar montar um para a Ellen, uh? - nego com a cabeça.

- Teimosa. - murmuro passando meu nariz por seu pescoço e ela se encolhe.

- Sou a tia legal da Hévora, ela tem que ter um quartinho para ela dormir aqui.

- Quando ela tiver lá seus dois anos a gente conversa sobre isso. - Toni revira os olhos mas então afirma com a cabeça.

- Sabia que eu tenho uma piscina só para mim no terraço? - pergunta.

- Sério?

- Normalmente as piscinas particulares são apenas para as pessoas da cobertura mas a uns dois anos atrás, uma Senhora comprou a cobertura e como não iria usar a piscina, ela me "vendeu". - faz aspas e eu solto uma risada nasal - Quando a Hévora completar cinco ou seis meses nós podemos ir lá.

- Talvez. - afirmo com a cabeça - Amanhã é o seu dia de folga, estou certa? - Toni afirma com a cabeça - Que tal você dormir lá em casa? Leve algumas peças de roupas e amanhã nós já nos arrumamos lá em casa e então vamos juntas para o bar... Se você ainda quiser ir.

- Eu vou levar muita coisa, já aviso. - brinca.

- Uh, sério?

- Uhum... Você vai gostar das minhas amigas. - me olha novamente - A Veronica terminou com o namorado dela então prevejo ela enchendo a cara mas sorte sua que ela fica divertida bêbada.

- Menos mal. - sorrio aliviada.

- Quem vai sofrer na mão dela vai ser a Betty, ela tem um sotaque forte e Veronica vai a obrigar dizer várias coisas apenas para se divertir com o sotaque dela. - comenta risonha.

- Sorte minha que não sou gringa.

- Concordo. - boceja e fica em silêncio - O sono da Hévora está tão gostoso, estou sentindo inveja dela.

- Se quiser, você pode dormir... Eu fico aqui com você.

- Quero ficar acordada com você, nós quase não temos tempo para ficarmos juntas e quando temos eu vou dormir? - pergunta juntando as sobrancelhas - Nunca.

- Você que sabe. - beijo seu pescoço e olho para Hévora - Ela quase não dormiu de noite, estava com febre. - entorto minha boca.

- Infelizmente não temos como fazer nada sobre isso. - Toni suspira e passa seu dedo indicador na bochecha de Toni - Passou a pomada anestésica?

- Sim, aliviou um pouco mas ela continuou enjoadinha. - levo uma de minhas mãos até os cabelos de Toni e começo um cafuné calmo.

- Quando o dente apontar por completo, vai aliviar um pouco. - explica.

Toni começa a falar sobre como eu poderia ajudar Hévora com isso e aos poucos sua voz vai ficando baixa até que para de falar por completo. Eu rio baixo percebendo que meu cafuné havia feito efeito e fico a observando com a mão sobre a barriga de Hévora, meus olhos sobem para seu rosto e tiro alguns fios de cabelo do seu rosto, depósito um beijo em sua bochecha e começo a soltar para poder ir atrás de um banheiro.

Adorável Hévora - ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora