03

8 1 0
                                    

Eu estava me remexendo naquela pedra por um bom tempo, minha garganta seca suplicava carne fresca de um animal em específico, depois de muito sacrifício eu acordei.

Cervo- Falo assim que me sento no chão.

Essa cor de olhos não significa algo bom- O yeti fala um pouco suspeito- Come uma fruta.

Eu preciso de sangue...- Me transformo em uma loba e saiu correndo de imediato da caverna.

Corro na linha, pois mesmo louca de fome, sei onde fica a divisão e as regras, eu passo apressada pelas árvores secas pois consigo sentir um odor diferente nesse lugar, pra falar a verdade, tem até um cheiro bom em meio ao suor dos cervos.

Sem mais muita demora, foco meu olfato no cheiro impregnante de cervo, com água na boca e com a minha vontade aumentando, minhas patas tomam uma velocidade imensa que impedi da neve afundar onde passo.

Nos poucos meses que estudei na escola do Luar, eu sempre estive em primeiro lugar em corrida, não existe um lobo mais rápido do que eu nesse mundo e eu sei disso, minha capacidade na corrida supera a de um líder.

Avisto o cervo de longe, mas ele se encontra mais perto a cada batida do meu coração, ele nem ao menos teve chance, pois eu o ataquei pelo pescoço para que não pudesse escapar.

Não é uma coisa que eu goste muito de fazer, mas é a lei da vida, ele se mantém vivo graças às plantas, e os predadores se mantém vivos graças a eles, o que sobra os urubus se alimentam, justo.

Cravo minhas garras das patas traseiras no chão e puxo com força o cervo para que ele venha a cair, mordo seu pescoço com força, tentando acabar logo com aquilo e não trazer maiores sofrimentos.

(...)

Depois que tive minha sede saciada e come o suficiente para dois dias, me sentei ao lado dos restos do corpo do cervo, fiquei olhando o jeito que deixei ele sem precisão alguma, mas foi necessário...

Me levanto ao perceber que devo voltar para casa, ou melhor, para casa do yeti. Me veio a cabeça a lembrança de que não tenho casa e então imagino o que será de mim, olho para a direção de onde vim e me pergunto se o yeti ainda irá me querer lá.

Mas se bem que não era para eu estar aqui. Essa parada só estava me atrasando, e sentia que deveria ir embora o quanto antes. Farejava problema.

Me levanto de cabeça erguida, apesar de tudo, eu ainda era uma líder, e volto a andar devagarosamente até a caverna, onde eu estava pedindo para Lua me dar coragem. Eu ainda estava com medo, não do que poderia acontecer comigo, mas sim com eles...

(...)

Onde estava?- Ele pergunta rígido e se levanta de seu trono- Por que demorou tanto Lupita?!

É que eu tava com fome- Paro na entrada da caverna.

Imagina se alguma raposa te encontra? Entra, vai!- Ele suspira insatisfeito e se senta novamente olhando para o teto- Tem um água quente na banheira para você tomar um banho.

Eu olho para ele e tenho certeza de que meus olhos estão brilhando com esse feito, mas antes que eu pudesse me aproximar dele, ele aponta para o suposto lado onde está a banheira.

Sigo a linha imagimaria feito por ele com uma careta, eu estava louca para abraçar aquele yeti que se finge de durão, vai ser a minha maior decepção descobrir que o pelo deles não é macio, viro uma entrada da caverna encontrando um lugar completamente escupido por neve, estava muito frio, mas supostamente, a água está quente.

Me transformo em humana e começo a me despir com pressa, entro na banheira quentinha e me aprofundo nela de cabeça, ficando uns bons minutos de baixo d'água só me esquentando.

Saio devagar por causa do temível choque térmico e respiro animada, meu sorriso se desfaz quando eu tento prestar atenção no yeti conversando sozinho.

Não- Faço um barulhinho de negação com a boca- Ele não está sozinho...

Achando que seria melhor ficar quieta, me aprofundo novamente e fico mais minutos debaixo d'água, se eu não estivesse com frio eu poderia até dizer que essa água está muito quente.

Vejo pelo vidro embaçado da banheira o yeti entrar então eu me sento de imediato na banheira, ele não olhou para mim e tinha algo em sua mãos, uns tecidos diferentes, roupas.

Isso, são roupas?- Pergunto vendo ele colocar aquilo em um canto no chão.

Sim, tem uma toalha aí também- Ele limpa a garganta e vai em direção a saída.

A onde você...- Me interrompe como de costume.

Seja breve!- Exigiu.

(...)

Depois de vestir aquelas roupas em lã de cordeiro super quentinhas, calço minhas botas novamente e pego um cobertor mais grosso deixado por ele para cobrir meu rosto.

Saio bem enroladinha e decido ficar na forma humana, com a pontinha do cobertor, cubro uma parte no chão e me sento em cima esperando o pronunciamento do yeti que encara o lado de fora.

Será que...- É impressionante como ele nunca deixa eu falar nada, na verdade, acredito que ele já sabia o que eu iria perguntar.

E nós, seres frágeis para eles, tivemos que obedecer- Ele nega com a cabeça- Raposas junto com os Meia-noite e coiotes junto com os Luares.

E os yetis?- Pergunto percebendo que ele não citou sua espécie.

Você tá falando de mim, o único que sobrou?- Fez sarcasmo mesmo com um olhar triste- A guerra só começou por que as matilha queriam colocar fêmeas para um lado e machos para o outro, e nós lutamos por que não queríamos nos separa de nossas famílias...todos morreram na guerra- Ele volta a olhar para o lado de fora- Como único sobrevivente, os Meia-noite tiveram piedade de mim e me colocaram para ser o vigia, ninguém entra sem a autorização... e eu faço questão de matar se assim for... Luar- Ele me olha frio como se eu tivesse alguma culpa- Você ainda está viva... por que eu senti que você deveria ficar viva.

Eu sinto muito- Encaro o chão triste- Eu não sabia o quão difícil era você conviver comigo sendo que eu sou da espécie que aniquilou sua família- Tiro o coberto dos meus ombros e me levanto do chão.

Não foi só o Luar, os Meia-noite também tem sua culpa no cartório- Ele me olha indiferente quando me levanto- Oque está fazendo?

Me preparando para ir embora- Ajeito minhas botas mas pensando em me transformar em uma loba- Obrigada... muito obrigada por ter deixado eu ficar aqui.

Lupita, eu não quis ofender- Ele se levanta e vem até mim.

Eu sei, mas já está bem na hora de eu ir embora- Ponho a mão na testa evitando ser enfeitiçada.

Não!- Ele diz alto e rígido- Você não pode ir embora...- Pela primeira vez desde que estou aqui, ele se deu a liberdade de aparecer em sua forma real- Não, não pode...- Pareceu um pouco nervoso.

Eu não pode evitar em abrir minha boca impressionada em ver ele pela primeira vez, e tenho que admitir que ele me impressionou com tamanha beleza, com certeza um pecado.

Por causa da surpresa acabo abaixando minha mão dando liberdade para ele me enfeitiçar e eu cair em seus braços quase encostando meus joelhos no chão, mas ele impediu que isso acontecesse.

Depois disso eu sinto que estou sendo carregada e mesmo no sonho deduzo ser o yeti, eu sentia o cheiro dele em sua blusa e mesmo querendo, eu não conseguia abrir os olhos para saber a onde ele estava me levando.

Lobos- Saga| The Seven Days IIOnde histórias criam vida. Descubra agora