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O yeti voltou a sentar, e eu fiquei me perguntando como tão rapidamente ele sabia de quem eu estava falando.

Tinha que ser ele- O yeti nega com a cabeça, irritado só por dizer seu nome.

Você... o senhor conhece ele?- Pergunto franzindo o cenho.

Ele era da matilha Meia-noite antes mesmo de descer para a Luar- Se senta fazendo um estrondoso barulho na caverna- Não faz ideia dos problemas em que me meteu.

Então eu estou...- Ele me interrompe.

Sim, você está na divisão entre a matilha Meia-noite e a Luar- Se recosta de olhos fechados- Retorne para sua matilha, você não deve ficar aqui.

Mas senhor...- Ele me interrompe novamente.

Não tem essa de senhor. Existe uma lei...- Eu o interrompo dessa vez.

Estamos em paz, podemos ajudar uns aos outros...- Um arrepio passa nas minhas costas e eu me transformo em loba, o frio parecia querer tomar conta do meu corpo, e eu não sabia se aguentaria muito naquela caverna- Será que...

Será que nada, eu não posso deixar você passar enquanto o superior da outra matilha não aparecer- Disse o que eu já imaginava, eu deveria respeitar, mas não estou em posição de esperar nada.

E por que você deixou Amarok passar sem a autorização do meu pai?- Pergunto achando que dei o xeque-mate.

E quem disse que seu pai não autorizou?- Eu engulo seco- Não tem mais o que se discutir, arrume outro lugar para você ficar.

Onde? Você sabe que não à mais nada além daqui, os que sobraram se juntaram aos lobos e tudo foi dividido em dois...- Cheguei mais perto dele, pronta para suplicar para que me deixasse passar.

Pra onde você estava indo antes de me encontrar?- Faz um gesto com seu machado, e eu desvio com medo de ser atingida.

Eu já planejava ficar nessa caverna, e... não sei para onde ao certo eu estava indo- Respondo negando com a cabeça, mentindo obviamente.

Então descubra!- Diz rígido- Vai, eu detesto crianças!

Ei!- O repreendo com meu olhar- Eu não sou uma criança, beleza?

E quantos anos a filhinha de papai tem para fugir de casa e só para não se casar com o escolhido de seu pai?- Ele põe em jogo sua ironia e se inclina para frente.

Eu tenho vinte e um anos e os meus pais não chegaram a decidir isso por mim- Digo alto- E tenho certeza que não sentiriam vergonha ao morrerem sem que sua filha se casasse.

Isso não é problema meu- Pós com mais seriedade seu motivo para não ter pena de mim- Eu não tenho nada a ver com isso.

Espere...- Ergo minha cabeça mas ele me interrompe.

Vai dormir- Ele olha para o lado e faz um gesto com a mão me fazendo cair de imediato, sem ter tempo de me defender de seu feitiço.

(...)

Abro meus olhos devagar tentando imaginar o que aconteceu, mas dou de cara com frutas perto de mim em cima de um prato de cristal em gelo.

Olho para o lado de fora que denúncia o novo dia e aparentemente a tarde, me transformo em humana e me sento com as pernas cruzadas vendo o yeti no mesmo local que antes.

O que aconteceu?- Esfrego os olhos.

Eu te coloquei pra dormir, você fala de mais- Respondeu sem humor nenhum.

Não tava falando bobeira- Pego uma pêra e a mordo- E aí? Ficou com pena de mim? Vai me deixar passar?

Ahh, cala boca!- Ele suspira fundo.

Eu posso até ter fugido, mas não deixei de ser uma princesa não viu?- Junto a sobrancelhas mordendo novamente a pêra, falando mais séria com ele- Eu te chamo de senhor, mas estamos de igual pra igual.

Primeiramente que você não é princesa, é infanta- Eu quase me entalo quando ele fala isso- E na divisão você não tem poder nenhum.

E por que não?- Me levanto do chão sentindo a dor de ter dormido em uma pedra, e levo as mãos às costas para me exercitar.

Quando as duas matilhas entraram em concordância precisaram de alguém para a divisão, alguém que ficasse sempre alerta- Ele aperta seus olhos para o nada- Eu mando na divisão, você é uma mera refeição aqui- Engulo seco- Literalmente os yetis só ficaram com alguns quilômetros depois da guerra.

Você...você pode me dizer mais sobre a guerra?- Mudo de assunto parando em sua frente- Eu sempre quis saber o por que... eu me lembro de poucas coisas, me lembro dos líderes Meia-Noite, mas são poucas lembranças, na guerra mesmo, eu não podia sair de casa.

E você por acaso queria participar da guerra?- Me olha irônico.

Não, mas também eu lembro de um garoto da minha idade que participou- Vejo sua feição mudar- Eu só queria saber...

Então vai ficar querendo, não te interessa Lupita, vai dormir de novo vai...- Ele ergue a mão pretendendo lançar seu feitiço em mim.

Não ouse me enfeitiçar nunca mais- Digo rígida protegendo minha testa com a mão.

Ficamos em silêncio enquanto eu exalo poder lupino o fazendo parar e se encostar em sua cadeira, ontem eu até poderia estar fraca e demonstrar medo, mas hoje, é diferente.

Eu sou traiçoeira igual uma raposa- Falo em um tom de humor por saber que raposas são os guardas dos Meia-noites.

Para de graça e senta aí Lupita- Ele gira seu machado e o bate contra o chão fazendo tudo mudar para um escuro onde só à nós dois. Fico boquiaberta sentindo aquela sensação de estar flutuando, minha mãe conseguia fazer isso- Senta aí garota!- Me sento em sua frente e cruzo as pernas.

Onde estamos?- Olho o completo nada até ver uma fumaça azul começar a planar no ar.

Antes, todos eram apenas um- A fumaça ganha uma forma de estrela, um símbolo que eu já tinha visto, mas não lembrava onde- Os mais resistentes moravam no norte e os mais sensíveis, mas não menos fortes, moravam no sul, onde se encontrava sol e era de sua naturalidade- A fumaça vira lobos subindo essa mesma montanha enquanto outros descem- Viveram muitos anos assim, em união, harmonia, simpatia, eram felizes mesmo estando todos sempre muito cansados- Ele nega com a cabeça um pouco triste.

E...?- Pergunto para ele continuar.

Até que Menan, não queria mais essa vida de subir e descer essas montanhas todos os dias atrás de alimentos- Aparece um lobo enorme em minha frente.

Mas não somos resistentes para o frio, assim como eles sofriam no calor também sofremos em um frio que maioria das vezes duram meses- Falo incrédula com um dos possíveis problemas que encarretou a guerra.

Eu sei, mas também não era justo sempre dividir todos os meses igualmente sendo que não era todos os meses que o sul rendia mais que o norte- Ele me dá um olhar indecifrável- Não posso dizer que as quatro raças decidiram assim, mas os lobos decidiram assim e os coiotes e as raposas...- Sua voz fica distante.

Todos nós éramos uma família yeti...- Senti do nada a minha cabeça rodar e pesar, eu não consegui mais prestar atenção nas suas palavras, porém, conclui que poderia ser ele me lançando novamente seu feitiço, para eu me aprofundar em um sonho conturbado.

Lobos- Saga| The Seven Days IIOnde histórias criam vida. Descubra agora