arte: aminiyard
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- Olá, Junior.
A voz era tão familiar que praticamente lhe causara dor física. Ele tinha visto seu pai entrando no cômodo, mas de alguma forma foi apenas quando ele falou que Nathaniel realmente sentiu a gravidade da situação. Ter sido o brinquedinho de Lolla pelas últimas horas não haviam sido o suficiente para fazê-lo perder a cabeça, mas apenas uma frase de seu pai parecia ter tido o efeito desejado pela mulher, visto que sua gargalhada ecoou pelo local.
Nathaniel sentiu toda a cor ir embora de seu rosto, mesmo enquanto seu corpo ainda queimava com todos os ferimentos, ao sentir uma das mãos de Nathan em seu ombro em algo que poderia - se eles fossem pessoas completamente diferentes - ser considerado um gesto tranquilizador. Nathaniel se preparou para o que viria a seguir, mas não foi o suficiente para impedir que ele sentisse seus joelhos bambearem quando o soco de Nathan atingiu a queimadura recente em sua bochecha - onde algumas horas antes estava o número 4 tatuado, agora deveria ser uma mera cicatriz esquisita que parecia latejar cada vez mais.
- Eu disse olá. - Nathan disse quando Nathaniel pareceu recobrar os sentidos.
Os lábios de Nathaniel se moveram, mas nenhum som escapou - ele quis gritar por ajuda, fazer o que fazia de melhor e fugir dali, da pessoa que deveria representar conforto, mas que, ao invés disso, fora a que mais o fizera sofrer.
Mas não podia fazer nada disso. Se fizesse, apenas sofreria mais e não achava que conseguiria aguentar.
- Oi... - um sussurro foi tudo o que ele conseguiu pronunciar.
Nathaniel só queria ser Neil novamente. Era pedir demais?
- Olhe para mim quando estou falando com você.
O grito que ele estava contendo parecia prestes a destruí-lo de dentro para fora, mas Nathaniel levantou o olhar, encontrando o de seu pai.
- Meu filho. - ele começou de forma dramática, como se estivesse contando uma história para uma criança - Minha maior decepção. Onde está a segunda?
- Mamãe está morta. - Nathaniel falou, tentando deixar sua voz o mais apática possível - Você a matou, não se lembra? - seu olhar dizia que ele não acreditava em uma palavra que saía da boca de seu filho - Você a quebrou. Não conseguiu passar da Califórnia.
- Acredito nele. - Lolla disse após alguns segundos de silêncio e Nathan assentiu, aparentemente aceitando seu julgamento.
- Você deveria ter me deixado ir. - Nathaniel disse, sua voz começando a demonstrar a agonia que estava sentindo naquele momento - Você me vendeu. Eu não era mais seu problema!
- A transação nunca foi concluída, o que quer dizer que você ainda pertence a mim.
Nathaniel arregalou os olhos, sentindo seu corpo pinicar com a repulsa da informação.
Por que sua vida era assim? Por que ele tinha que pertencer a alguém? Por que não poderia pertencer a si mesmo?
- Você sabe o que eu vou fazer contigo? Acho que nem eu mesmo tenho certeza. - ele riu fraco, quase como se tivesse contado uma piada, quando na verdade estava falando sobre como torturaria seu próprio filho - Tive anos para me fazer essa pergunta e agora que a hora chegou estou indeciso. Posso cortar sua pele viva. Posso te destruir centímetro por centímetro. Acho que independente do que eu escolha fazer, vou começar cortando os tendões em suas pernas. Você não vai fugir dessa vez, Nathaniel. Eu não vou permitir.
- Vai se foder! - Nathaniel sussurrou horrorizado.
Ele precisava fugir.
Precisava de ajuda.
Precisava de um plano.
Qualquer coisa.
Nathan empurrou Nathaniel no chão e estendeu a mão na direção de DiMaccio, que cruzou o quarto para se aproximar, lhe entregando a o machado ancião de Nathan.
Familiar o suficiente.
Familiar o suficiente para ele saber quais seriam os próximos passos de Nathan.
Familiar o suficiente para ele saber que não sobraria um pedaço dele para contar a história.
E foi nesse momento, com seu pai cada vez mais próximo, que ele gritou. O pior já aconteceria de qualquer forma e, por mais isolados que eles estivessem, ser ouvido era sempre uma possibilidade, certo?
Nathaniel estava sendo estúpido e provavelmente pagaria por isso em breve, mas o que tinha a perder?
- Criança idiota!
Ótimo, agora não apenas seu pai, mas Lolla também se aproximava para tentá-lo fazer calar a boca.
Por favor, por favor, por favor - implorou em sua cabeça, se permitindo um milissegundo de fé - Alguém me ajude.
Estava sendo tolo e agora estava sem tempo, pois Lolla já estava à sua frente com a faca apontada para Nathaniel e a irritação evidente em cada linha de expressão em seu rosto.
Nathaniel tentou desviar, mas foi então que algo muito curioso aconteceu.
Todos ao seu redor congelaram.
Ele demorou alguns segundos para compreender - e mesmo quando compreendeu, não sentiu que havia realmente entendido.
Lolla estava congelada em uma posição que parecia bem desconfortável e seu pai, pela primeira vez, não tinha os olhos cheios de fúria focados em Nathaniel, mas sim no ponto em que ele estava segundos atrás.
- O que...
Não teve tempo para terminar a pergunta. Um homem surgiu em sua frente antes mesmo que Nathaniel pudesse reagir
- Então você acredita em algo, no fim das contas. - o homem sorriu, mas seu sorriso era estranho, não apenas seu sorriso mas ele como um todo, era como se ele fosse feito de algum tipo de fumaça, de alguma forma - Você me chamou, então eu vim.
- Quem...
- Podemos pular essa fase de apresentação. - ele passou por Nathaniel, parando em frente a Nathan e parando para analisá-lo - Ele não parece muito contente com você. Por isso que me chamou?
- Eu não te chamei! - Nathaniel respondeu indignado, ainda confuso e entrando na defensiva - Sequer sei quem você é.
- Alguém me ajude, você disse, com por favor e tudo. - seu olhar se voltou para Nathaniel - Você e educação não costumam andar lado a lado, então tive que vir conferir e agora compreendo que o pobre Nathaniel Wesninski - Nathaniel se encolheu com o nome - estava apenas tentando se livrar de seu papai.
- Não fale dessa forma. Não preciso de ajuda. - precisava sim, e ele sabia que estava agindo como uma criança petulante, mas sinceramente não conseguia alcançar o que tinha acabado de acontecer.
- Assim que eu for embora eles voltam ao normal. - apontou para Lolla e seu pai - Não imagino que você terá tempo suficiente para correr dessa vez. Em um estalar de dedos eu posso fazê-los esquecerem completamente de você e ainda farei a gentileza de te tirar daqui. Então tic tac, Nathaniel. Quanto está disposto a pagar pela sobrevivência?
Ele já não tinha pagado o suficiente?
Parecia bom demais para ser verdade, e provavelmente era. Talvez estivesse alucinando pelas dores, mas a resposta escapou de si surpreendentemente fácil.
- Eu pago qualquer coisa.
Era isso que Mary gostaria, certo? Era para isso que tinha criado Nathaniel por todos aqueles anos e, apesar de querer provar para o mundo que não era como seus pais, agora Nathaniel percebia que talvez tivesse mais de sua mãe dentro de si do que gostaria de admitir.
Um sorriso repleto de crueldade surgiu no homem.
- Aparentemente ninguém nunca te ensinou, criança. - ele se aproximou de Nathaniel novamente, e o garoto precisou de toda a força de vontade que ainda existia em si para não se afastar - Nunca faça preces aos deuses que atendem depois do anoitecer.
E então a escuridão surgiu e Nathaniel não viu mais nada.
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forgotten | andreil
FanfictionNeil precisa fugir de seu pai e acaba fazendo um acordo com um deus que atende depois do anoitecer e a existência dele é basicamente apagada da mente de todo mundo que ele conhece - incluindo de Andrew. fanfic da trilogia all for the game inspirada...