XIII. Entre amigos

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O som do último trovão havia sido o mais alto já ouvido. Era como se a chuva avançasse cada vez mais em direção a cidade e que o pior ainda estava longe de chegar. A escola servia como um escudo para os jovens ali abrigados, uma vez que a tempestade parecia cada vez mais tomar conta da cidade e impedir qualquer um de sair de lá.

Encharcados, Leon e Ellen estavam agora sentados na cantina, ocupando apenas uma entre as mais de vinte mesas vazias. As luzes estavam apagadas e o ambiente ficava ainda mais escuro devido ao tempo fechado, fazendo com que a única luz viesse dos corredores, que iluminavam apenas parte da sala.
As gotas de água iam pingando do corpo dos dois, fazendo uma poça ao redor de onde sentavam, cada vez crescendo mais e já estando grande o suficiente para rodeá-los por completo. O som das gotas se chocando a poça parecia alto o bastante para distrair a atenção de todos, a cada segundo em que caiam.

Melissa se pega viajando, prestando atenção em cada gota que caia ao invés da voz de Leon. Quando ela é despertada do seu transe que durava quase um minuto completo, volta a sua atenção para Leon conversando com a professora Ruth:
- E, tive que sair para buscar minha irmã que estava com a amiguinha na rua - Fala o garoto, justificando o motivo das roupas molhadas e da ausência, mesmo que a professora parecia relutante em aceitar suas desculpas.
- Você deveria ter me comunicado - Fala a mulher de braços cruzados, olhando o garoto, que a olhava de volta com o corpo todo molhado e com água escorrendo de seu cabelo por todo o rosto. Ao redor deles, a maioria dos estudantes olhavam curiosos e ansiosos para saber qual seria a decisão tomada pela mulher.
Na falta do diretor, como era naquele momento, a Ruth assumia as rédeas da escola. A mulher também era vice-diretora da escola, e por isso tinha toda a liberdade e autonomia para decidir como seria a situação a ser tomada.

Como estavam no programa de recuperação, ao todo haviam 40 alunos na escola, em conjunto com seis professores, o monitor e o policial. Todos estavam ilhados dentro da escola, esperando que a chuva diminuísse sua intensidade para que eles pudessem deixar a escola e irem para o conforto de seus lares. No entanto, os burburinhos entre estes estudantes eram nítidos, com todos ficando preocupados com o fato de ficarem presos na escola até depois do sinal. Faltavam apenas vinte minutos para que os alarmes tocassem, anunciando o fim de mais um dia letivo e os alunos pareciam ignorar a severa chuva, desejando mais do que nunca voltar para a casa. Ruth adiava o inevitável discurso que teria que dar a qualquer momento. A mulher não queria que os estudantes se arriscassem saindo na chuva, ainda mais com o rádio de alerta emitindo avisos sobre fortes e destrutivas rajadas de vento se aproximando, mas sabia que não poderia obrigar que os alunos permanecessem na escola após o sinal e nem poderia impedir os pais de virem buscar seus filhos.

A mulher fita Leon, que neste momento estava com um olhar triste e cansado, lembrando de tudo o que havia passado e de tudo o que sua irmã havia vivido naquele dia. Ela faz um contato visual penetrante e que parecia durar mais de dez segundos, até finalmente dizer:
- Tudo bem, está perdoado por ter saído - Fala ela - É melhor procurar nos achados e perdidos alguma muda de roupa para você e sua irmã, e irem se trocar.
- Muito obrigado, de coração - Fala Leon, com um sorriso abrindo em seu rosto e se levantando em empolgação.
- O resto de vocês, voltem para a sala - Fala a mulher para as pessoas próximas. Então, todos ali vão saindo lentamente, um por vez e indo em direção aos corredores. Melissa permanece até que a última pessoa sai e é quando se aproxima de Leon, se sentando do lado do garoto:
- Achei que o pior havia acontecido com você - Fala a garota mostrando um ar de preocupação, que contradizia com sua personalidade.
- Mas, não foi muito longe disso - Fala Leon, finalmente desabafando e se sentindo confiante em contar a verdade dos fatos - Eu vi coisas... sem explicação alguma.
- O que você viu? - Fala Melissa curiosa e com um semblante de preocupação ainda sendo exibido em seu rosto.
- Era... tinha um casal de idosos que agiram super estranho - Fala o garoto - E além do mais, senti algo muito estranho sobre essa chuva.
- Nossa, acabei de ver algo bizarro também - Fala Melissa - Tinha uma luz na porta e... tudo ficou girando ao contrário - Fala a garota começando a chorar - O que está acontecendo?
- Ei, calma - Fala Leon - Vai ficar tudo bem - O garoto mostra um semblante desesperançoso, que contradizia com suas palavras.
- Eu vi um monstro - Fala Ellen, chamando a atenção dos dois e quebrando o silêncio que se fazia com o abraço entre Leon e Melissa.
- Como assim? - Pergunta Leon em sinais.
- Havia luzes e alguma coisa alta - Fala a garota em sinais - Eu vi um monstro na floresta também - Termina a garota, fazendo sinais para Leon
- O que ela está dizendo? - Pergunta Melissa curiosa.
- Ela disse algo sobre luzes e ter monstros na floresta - Fala Leon um pouco confuso e pensando ser um devaneio da irmã.
- Vai ficar tudo bem, já passou - Fala Leon, fazendo sinais com a mão e abraçando fortemente a garotinha e fazendo cócegas nela, o que a forçava a rir em um sorriso alegre e espontâneo.
- Eu não sei o que está acontecendo - Fala Leon - E também não quero saber, seja o que foi, estou a salvo com minha irmã.
- Eu não sei não Leon - Fala Melissa - Tirando as coisas bizarras que você falou, teve as coisas ontem na floresta, e essa chuva... Tem alguma coisa bizarra acontecendo.
- Ei, esqueça isso tudo, ok? - Fala Leon - Eu preciso urgentemente ir tomar banho - Fala o garoto abrindo um leve sorriso - Pode levar minha irmã até o vestiário feminino?
- Claro - Fala Melissa inconformada com Leon, mas estendendo a mão para a garotinha.
- Ela vai te levar para se trocar - Fala Leon - Aproveita e pega umas roupas bem legais para mim - Fala Leon para a menina, em sinais.
- Vamos pegar roupas... para Leon e eu e depois... trocar - Fala Ellen em voz alta para Melissa, se arranhando nas palavras e tentando soar o mais nítido possível, receosa de não ter falado certo.

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