II. A floresta tortuosa

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1999

Cindy voltava para a casa de sua faculdade remoendo suas memórias de uma vida de solidão. Neste caminho foi surpreendida pela chegada de uma tempestade, e enquanto voltava para a casa, foi abordada por um sujeito de carro, que agora a intimidava com uma faca para que ela entrasse em seu carro.

A garota o olhava ainda com pânico, mas conforme a chuva começava a cair, e ia molhando seu penteado e sua maquiagem, ela remoía em sua mente algo que pudesse ser útil naquela situação pois ela já havia muitos documentários na televisão sobre estupradores e precisava mais do que nunca de se lembrar de uma tática de defesa, antes que fosse tarde de mais.
O sujeito começa a dar passos lentos em sua direção, e tira a faca de sua cintura. Com um olhar cínico e um sorriso de escárnio aquele homem tinha o perfil certo da pessoa que definitivamente queria fazer mal ao próximo de tanto desejo e raiva de sua vida frustrante e sem sentido. Ele só conseguia pensar em ter o corpo de Cindy, sem pensar em consequências ou se aquilo era certo ou não... ele estava disposto a fazer o que fosse preciso para ter aquilo naquele momento, mesmo que isso custasse violar a moça.
- Eu estou avisando... me deixa em paz - Fala a garota tomando coragem para falar algo, agora se encurralando no canto da rodovia.
- Fique calma - Fala o homem apontando a faca para a garota e se aproximando cada vez mais. A chuva engrossava a cada instante, e era tão volumosa, que incomodava e até chegava a machucar a pele pelo impacto causado pelas gotas de água. Os raios eram assustadores, e ninguém em sã consciência ficaria debaixo dessa chuva. Mas ambos os dois estavam lá, sem se importar com a chuva ou os raios, um olhava para o outro.
- Já pedi para me deixar em paz - Fala a garota em voz alta - Me deixe em paz!
- Vamos nos divertir - O homem fala apenas isso e começa a ir mais perto dela. Sem reação, a garota rapidamente começa a pensar em algo que pudesse fazer para escapar daquela situação. a única coisa que vêm em sua mente é uma ousada ideia de se embrenhar na floresta e tentar se esconder dele. E sem pensar muito, é isso que ela faz, junta todas as suas forças em um impulso e corre da estrada até dentro da mata, levando o homem a correr junto também.

O desespero tomava o coração de Cindy, que sentia calafrios só de imaginar que estava sendo perseguida por aquele homem. Cada passada que ela escutava era como uma sensação de pavor e repulsa. E mesmo diante de tanto desespero, o ambiente não cooperava para que a situação fosse um pouco melhor; muito pelo contrário a chuva caía cada vez mais intensa e atordoante. A garota sentia sua respiração pesada e os batimentos eram tão altos que ela sentia como se seu coração estivesse prestes a sair da boca. Seu rosto estava pálido e sujo da maquiagem, que escorria conforme a chuva molhava seu corpo. O solo começava a se encharcar e ficar pegajoso, o que dificultava a corrida - ainda mais com o modelo de sapato que Cindy usava - mas além do solo, as pedras no caminho e os galhos caídos eram uma armadilha perfeita para se tropeçar. As altas coníferas - ora exuberantes - eram responsáveis por deixar aquele ambiente inóspito e sombrio.

O sujeito por sua vez, era frio e não demonstrava reações em sua face. Enquanto corria parecia tão determinado a alcançar Cindy que nem se importava em olhar o caminho. Sua visão estava fixada nos movimentos da garota e ignorava quaisquer outros obstáculos no caminho. Com os olhos sedentos pela garota, em sua mente passavam pensamentos mais sombrios que condenariam sua alma pela eternidade. Mas naquele momento, nada parecia importar para ele além de caçar a pobre e indefesa garota e tê-la como um troféu.

A tempestade como um terceiro elemento desta eletrizante e angustiante fuga também exercia um papel fundamental na construção do épico cenário. A forte chuva parecia algo nunca antes visto, com água caindo em proporções terríveis, inundando todo o chão com poças de barro. O som dos trovões era tão intenso quanto os clarões formados pelos relâmpagos, que iluminavam toda a floresta por alguns milésimos de segundos.

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