X. ELE VIRÁ

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Na forte tempestade, tudo na natureza parecia se calar, para dar espaço somente aos turbulentos sons que se faziam na passada daquele furacão. As árvores se torciam e retorciam com o vento, como se chegassem ao seu extremo e jogassem uma roleta russa, podendo se quebrar a qualquer rajada de vento. Os animais se escondiam em suas tocas e pareciam cada vez mais encurralados com a passada daquela tempestade, que lentamente alagava e tornava tudo em um cenário catastrófico.

Cindy caminhava debaixo desta tempestade, sem nenhum guarda-chuva ou outra proteção, quase que hipnotizada com um objetivo. Ainda mais cedo, o cristal que a mulher carregava em seu corpo havia ganhado um brilho inexplicável, e que começou a faze-la se sentir mal e por isso, decidiu tira-lo do pescoço. Quando sua filha desapareceu, no entanto, a mulher decidiu recorrer novamente a pedra a qual tinha uma devoção profunda e imensurável. Toda essa devoção se deve a alguns acontecimentos nos primeiros meses após a posse do cristal, quando uma onda de sorte e bons acontecimentos tomou sua vida, como se ela extraísse a energia presente naquele cristal até que acabasse.

Quando a mulher pegou o cristal de volta do chão, desesperada para encontrar sua filha, teve uma intensa e estranha sensação, como se algo em seu interior se despertasse e começasse a funcionar, depois de tanto tempo. Parecia o mesmo sentimento que ela havia tido em 1999 quando o pegou pela primeira vez, mas desta vez era mais intenso e voraz, como se ela recebesse um choque pela primeira vez na vida. Ela sentia todo o seu corpo vibrando e sua consciência parecendo ser puxada com toda a força na direção do cristal, e tal impacto havia sido tão intenso que havia levado a mulher ao desmaio.

Quando a mulher acordou, se sentia fraca e com leves tonturas mas com um sentimento diferente, como se fosse uma luz interna se acendendo e iluminando algo à ela. As informações pareciam correr em sua mente e tudo soava tão confuso e indecifrável, mas a causava uma grande dor de cabeça, a ponto de fazê-la revirar a casa em desespero atrás de um remédio que ela possuía guardado. Enquanto corria para achar o remédio, a mulher começava a se dar conta da ausência dos filhos em casa e começa a se preocupar com o paradeiro deles em meio a tempestade, que estava violenta e incessante.

Naquele momento, tudo parecia tão confuso e sua mente não conseguia pensar em nada, a não ser tudo voltar a ser como era antes:
- Hans... - Dizia  a mulher confusa em suas memórias, como se sua noção de tempo de desfizesse e ela ainda acreditasse que o marido estava vivo - Hans... - Falava a mulher com a mão em sua cabeça, tentando organizar sua mente.
Cindy olha o cristal no chão,se ajoelha e o agarra com força, dizendo para si mesma:
- Eu quero a verdade... - Fala a mulher começando a chorar - Eu não aguento mais viver desta forma - Ela diz para si e para o cristal, finalmente conseguindo organizar sua mente.
- Eu só preciso ser livre - Ela fala chorando e apertando o cristal com cada vez mais força, na busca de obter alguma resposta. Repentinamente, uma forte rajada de vento atinge a casa, batendo todas as portas e janelas abertas e arrepiando a mulher por completo, fazendo com que ela sentisse uma presença no local:
- Venha a floresta... - A mulher consegue ouvir esta voz no ambiente, como se sussurrasse lentamente para ela, deixando cada sílaba ecoar separadamente. Aquelas palavras foram hipnotizantes e sutis o suficiente para induzir Cindy a sair andando pela chuva, com o cristal em mãos.

Na cada dos idosos, a severa tempestade não era mais assustadora do que as palavras daquele velho casal para Leon. O rapaz estava sentado boquiaberto no sofá, olhando para os dois senhores que sorriam intensamente em sua frente, como se estivesse fazendo uma pose para uma foto que seria emoldurada por décadas. A xícara de chá nas mãos do Leon já esfriava em suas mãos, perdendo todo o seu calor e virando uma bebida fria, antes que o garoto pudesse dar a primeira golada. Aquele momento de silêncio parecia durar uma eternidade com um clima super estranho na casa, que é quebrado quando a mulher diz:
- Ora, estou brincando - Ela diz começando a rir e quebrando o silêncio da sala com uma gargalhada penetrante e intensa.
- Ela é uma comédia - Diz o senhor rindo também intensamente, mesmo não sendo algo engraçado.
- Ah sim - Fala Leon soltando uma risada desconfortável e desconexa.
- Ai ai, esses jovens, tão inocentes - Diz a mulher com uma risada histérica, agora finalmente se controlando e contendo o riso - Tão... inocentes... - Ela reforça olhando para o garoto.
- Esse planetinha é  só um grão de areia, garoto - Fala o velho, reassumindo seu tom sério - Não leve as coisas tão a sério, porque elas não são.
- Bom... você tem razão - Diz Leon apenas para tentar encerrar a conversa com o casal de idosos.
- Bem, vou trazer mais chá - Diz a mulher indo até a cozinha a passos largos, como se arrumasse uma desculpa para ir até a cozinha. Leon olha a sua frente e vê sua xícara cheia e todo um bule a sua frente cheio de chá.
- Já tem bastante chá - Fala o garoto para o senhor, que se sentava de volta em sua poltrona lentamente.
- Chá nunca é o bastante, você precisa tomar bastante - Fala o senhor, como se o ignorasse por completo e voltasse a ser um idoso clichê, sempre sentado em sua velha poltrona com seu jornal.

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