VI. Desaparecimento

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Envoltos na densa neblina, rodeados pelo desespero angustiante de estar em uma situação apavorante, encarando algo nunca antes visto, Melissa e Leon corriam desesperados, tropeçando em pedras e se arranhando em galhos, demonstrando um pânico tão angustiante que mal poderia ser descrito.
Ambos corriam tanto, que era possível ver em suas faces o suor escorrendo e sentir suas respirações tão ofegantes, a ponto de parecer que o coração iria sair pela boca.

Leon, enquanto corria e gritava, não deixava de prestar atenção no som dos grilos e sapos que orquestravam a sinfonia da natureza, que diferente de como soavam sempre, desta vez pareciam um som mais intenso e desesperador.
Os animais silvestres também emitiam sons diferentes. Era como se todos os animais fossem afetados pelo estranho fenômeno que ocorria naquela mata. Eles pareciam saber do que se tratava e seriam testemunhas silenciosas do que quer que ocorresse ali.

Leon no entanto, percebe que agora a névoa parecia menos densa, como se quanto mais eles corressem, mais ela se dissipava. Ele conseguia iluminar a frente uma silhueta de uma garota desesperada, que deduz ser Melissa:
- Melissa, espera! - Grita o garoto parando. Leon então apoia suas mãos em seus joelhos, como se buscasse fôlego para aquela situação. O garoto havia deduzido que, por ter a visão mais clara agora, estaria fora da zona de perigo.
- Leon, é você? - Constata Melissa também parando. A garota então se debruça em uma árvore e começa a chorar, enquanto recuperava o fôlego.
- Calma, eu acho que estou reconhecendo essas árvores - Diz Leon - Se estiver certo, estamos próximos da saída.
- Ai meu Deus - Diz a garota soltando um suspiro de alívio - Vamos logo!

Leon se aproxima de Melissa e abraça a garota a acalmando:
- Calma, vai ficar tudo bem - Diz o garoto olhando compassivo para a situação aterradora que ambos haviam vivenciado. Neste momento contudo, um grito distante porém reconhecível é ouvido por ambos.
Soava como um intenso grito, com a voz de Peter, com um tom desesperador nunca antes emitido pelo garoto. Ele parecia gritar por socorro, enquanto algo terrível ocorria.
Leon e Melissa se olham assustados e dizem:
- O que houve com Peter? Ele não beio com você? - Fala a garota assustada com o som.
- Não, eu o puxei, mas ele ficou para trás - Afirma o garoto também preocupado.
- Vamos ajuda-lo? - Pergunta Melissa nervosa
- Eu não sei o que foi aquilo, mas com certeza só quero dar o fora daqui - Diz Leon. A menina concorda com a cabeça e eles começam a correr em direção a saída.
Como num passe de mágica, em menos de dois minutos os garotos conseguem achar a saída e quando se dão conta estão do lado de fora da floresta, de volta no velho posto.
Era engraçado, como a floresta parecia ter aprisionado eles de propósito. Como se queria capturar alguém, e iria deixa-los ali até que conseguissem uma vítima. Leon e Melissa haviam escapado daquela vez e olhavam assustados para as coníferas que, o que antes parecia algo harmônico e pacífico, agora eram inóspitas e assustadoras. Leon então diz:
- Vamos voltar para nossa casa - Diz ele.
- Tem razão - Diz ela se acalmando - Mas e o Peter?
- Ele... bem, espero que esteja bem - Fala Leon puxando a garota pela mão e andando pela rodovia.

Na manhã seguinte, Leon chega em sua escola exibindo suas olheiras obtidas após passar a noite toda em claro, remoendo os ocorridos na floresta. Era difícil para sua jovem e rebelde mente compreender todos os ocorridos e o quão estranho e fora da realidade eles era, pois por mais que o garoto havia vivenciado diversas experiências, nunca nada havia sido tão sombrio e inexplicável.

O garoto entra em sua sala e se depara com todos os colegas se sentando na mesma roda que o dia anterior, com a exceção da presença de Peter. Até mesmo Melissa estava sentada ali, e de longe Leon já podia constatar a mesma expressão de pânico e cansaço nos olhos da garota. NO entanto, quando a garota percebe a presença do amigo seus olhos se arregalaram num misto de felicidade e alívio, como se encontrasse conforto para aquela situação complicada. Ela se levanta rapidamente da carteira e corre em sua direção, evidenciando seu cansaço conforme se aproxima e tem suas olheiras, que mesmo escondidas pela maquiagem, são visíveis. Ao ficar frente a frente com Leon, a garota olha em seus olhos para dizer:
- Achei que tinha sido tudo um pesadelo - Ela fala agora se conformando com a veracidade do ocorrido.
- Eu diria o mesmo, se tivesse dormido a noite - Fala Leon com a voz rouca, provavelmente devido a tantos gritos na noite anterior.
- Eu mal consegui dormir também - Fala a garota - Nem consigo acreditar naquilo.
- E você soube do Peter? - Diz Leon levando a mão em seu cabelo, para tentar ajeitar seu penteado.
- Nada, o Oliver estava contando que a mãe dele havia ido reportar a polícia - Fala a garota com a voz trêmula - Acho que... ele se foi - Diz ela contendo uma lágrima em seu rosto.
- Calma, fique calma - Diz Leon - Tenho certeza que ele conseguiu escapar.
- Hmm, estão de segredinhos - Fala Maverick, interrompendo a conversa dos dois com um tom de provocação e chamando a atenção de todos.
- Não sabia que vocês tinham um lance - Fala Emily enquanto fingia olhar o esmalte da unha.
- O que? Não é nada disso - Fala Leon desfazendo as histórias - Estávamos conversando sobre o Peter.
- Ficaram sabendo que a mãe dele estava desesperada gritando pela rua? - Fala Emily fazendo piada da situação.
- Era só colocar alguns computadores na rua, tenho certeza que ele vinha correndo - Fala Maverick rindo.
- Como vocês conseguem fazer piada disso? - Diz Oliver, tentando defender a situação.
- Sim - Fala Melissa se intrometendo na conversa - Ele pode estar em perigo.
- Com certeza, só ficava em casa, nem deve saber se defender - Fala Maverick ainda provocando o garoto. Neste momento, a professora entra na sala de aula, acompanhada de um oficial de polícia.
Ambos os dois estavam com a cara séria e fechada, como se quisessem demonstrar autoridade e exigir respeito dos alunos. O policial segurava seu quepe em mãos e estava com o semblante tão sério que parecia estar até forçando para estar naquela forma. A professora estava apenas com a sua cara de sempre.
Ambos se centralizam no meio da classe, e a professora começa a falar:
- Alunos, tenho uma triste notícia para vocês - Diz a professora - O colega Peter de vocês está desaparecido - A mulher falava como se discursasse para cem pessoas, não cinco.
- Vamos iniciar uma força tarefa de busca - Continua o policial - Porém uma forte tempestade parece estar se aproximando e tememos que isso possa acabar atrapalhando as buscas - Diz o homem.
- Tempestade? - Pergunta Leon, sussurrando para Melissa.
- Cara, não viu os jornais? Parece que uma formação no oceano, similar a um furacão vai passar pela nossa cidade - Responde Melissa sussurrando - Disseram que quanto mais ela avança, mais parece ficar perigosa.
O policial se incomoda com os sussurros e chama a atenção dizendo:
- Mocinhos, vamos parar de conversar - Assim, Leon e Melissa ficam em silêncio e voltam sua atenção para o homem.
- A mãe do Peter no entanto, me relatou algo curioso - Fala o homem - Pouco antes de sair, avisou que iria fazer um trabalho com uma amiga da escola - Ao dizer isso, Melissa faz uma cara de medo e parecia querer se esconder dentro de si mesma. O rosto da garota ficou branco, como se toda a cor simplesmente se esvaísse dela.
- Como só há duas meninas aqui - Fala a professora - Vocês duas deverão prestar um depoimento ao policial, fala ela.
- Isso é um absurdo - Diz Emily - Eu nunca sequer falei com aquele nerd.
- Bom, isso é o que você deve dizer para mim então em seu depoimento - Fala o policial - E você menina, porque está tão quieta? - Fala o policial apontando para Melissa, que estava extremamente nervosa.

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