IX. Uma xícara de chá.

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Tudo começou de maneira agitada para Leon. Sua cabeça estava atordoada com todos os acontecimentos que ocorreram nas últimas 24 horas. Desde que decidiu ir até a floresta, uma sequência de acontecimentos se desencadearam mostrando o quão cruel e sombria a realidade pode ser.
O garoto sentia que sua vida nunca mais seria a mesma depois daquele dia e parecia saber no fundo de sua alma que, o que quer que estivesse acontecendo, estava apenas começando.

Para sua infelicidade, ele estava correto. Enquanto sentia-se cada vez mais vulnerável a tempestade, o garoto se encolhia no último espaço ainda seco sob a marquise que ele se escondia. No entanto, as rajadas de vento começavam a tornar aquele local instável também e conforme a tempestade avançasse, a tendência seria piorar ainda mais, haja vista que a passagem dela estava apenas começando.

Doces palavras pareciam ecoar em sua mente, o tranquilizando de que tudo era um terrível pesadelo. Era como se soava uma das únicas memórias que o garoto tinha de seu pai, cuja morte precoce o impediu de criar novas memórias. Leon, no entanto, sempre que fechava seus olhos e se sentia ameaçado, conseguia se lembrar de uma das únicas cenas que tinha com ele, ocorrida dias antes de seu falecimento...

2007

Era 2007, o país estava no auge da economia e parecia um paraíso para se morar. No entanto, na pequena cidade de Salisbury tudo parecia mórbido e abandonado, como sempre. Os casos de desaparecimentos estavam mais raros, mas ainda assim todos os moradores relatavam sentir uma tensão no ar, como se algo estivesse convivendo entre eles, sussurrando nas sombras palavras incompreensíveis.
A jovem mulher Cindy, parecia ocupada demais com sua criança recém-nascida enquanto passava as roupas e assistia um programa fabuloso sobre culinária. Ela se sentia feliz e protegida, como nunca havia sentido antes. A verdade é que o acontecimento de 1999 havia abalado muito sua mente e a deixada insegura de forma a não se sentir mais a vontade nem para sair nas ruas sozinhas por um tempo. Contudo, a garota nem preferia sair, uma vez que todos queriam saber sobre o ocorrido ou fazer piada sobre sua história de ter testemunhados os eventos sobrenaturais. Toda essa pressão midiática e pública estava cansando e desgastando a mente dela.

O único porto seguro que a garota podia sentir, era seu marido Hans. O homem havia a conhecido alguns meses após o ocorrido e parecia ter um jeito único de saber como conversar e entendê-la. Ele parecia estar sempre no lugar certo e na hora certa, como se já tivesse vivenciado tudo uma vez. Hans sabia quais palavras usar, quais formas de abraçar e beijar e até mesmo formas de conseguir todas as respostas que quisesse.

Hans além de um ótimo e atencioso marido, não deixava de ser um ótimo pai. O homem parecia carregar seus filhos em um lugar especial no coração e sempre que estava próximo, fazia de tudo para ser um bom pai.
Naquela noite em específica, o pequeno Leon estava chorando em seu quarto após ter quebrado seu brinquedo favorito um carrinho que se transformava em um robô, se as peças fossem dobradas da forma correta. O brinquedo instigava a imaginação e a coordenação motora, mas sempre algumas pecinhas emperravam e, se o brinquedo fosse montado corretamente, poderia apertar um botão, e o robô começava a andar.
O fato do brinquedo que ocupava a mente de Leon o tempo todo e ter quebrado, o fez chorar sem parar, como se perdesse algo de muito carisma e valor. Ele chorava sentado no chão, com a cabeça nos vãos das pernas e se lamentando, como se as lágrimas o fossem fazer voltar no tempo.

Hans ao entrar no quarto do filho, logo o vê naquela triste e comovente situação, e calmamente se ajoelha em frente do filho, se comovendo com a situação conturbada do garoto. Ele passa a mão em seu cabelo, escorrendo-a lentamente pela cabeça e face do menino, e junto com isso levantando sua cabeça, para ver o rosto do menino chorando. Com a maior calma e tranquilidade, o homem diz:
- Por que está chorando coisa linda?
- É porque... porque... quebrou - Fala o pequeno Leon em lágrimas
- Olha... - Fala Hans se abaixando para perto do menino - Isto não foi nada, nós podemos consertar.
- Mas papai... ele nunca mais vai ser o mesmo - Diz o garoto enxugando suas lágrimas
- É claro que não, mas quem garante que ele não pode ficar melhor? - Fala Hans - Ele vai ficar ainda mais incrível, mas poderoso e mais forte.
- É? - Diz o garoto em um tom animado - Tipo um super-herói?
- Tipo um super-herói - Diz Hans soltando uma risada calma e pacífica - não se preocupe, o papai vai consertar ele pra você depois que eu voltar do trabalho.
- Ebaa - Diz a criança
- E quem é o meninão do papai? - Diz Hans abraçando o menino e começando a fazer cócegas em sua pequena barriga. O garoto logo solta risadas e se esquece completamente do ocorrido, depositando sua confiança em seu pai.

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