Capítulo 1

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 Scaramouche estava mais furioso do que o de costume, e obviamente quem sofria com isso eram seus pobres subordinados - os quais já estava pedindo arrego desde o último surto dele. Dessa vez sua explosão de brutalidade tinha um motivo, e dos bons, a mui nobre arconte de Cryo Tsaritsa havia resolvido o punir pelo fracasso no caso dos meteoros, além da tradicional tortura ela ainda havia o rebaixado - temporariamente- de posto. Mesmo sendo algo temporário, era uma situação muito humilhante.

  Como poderia ele, o sexto mensageiro de Vossa Majestade ser ( temporariamente) rebaixado a um reles guarda de comboio comercial? Logo ele famoso pelo temor que inspira em todos que o veem, tinha que ficar de olho em míseros objetos transportados de um lado para outro por preços exorbitantes. Em teoria esse serviço era feito pelo banco central de  Snezhnaya mas na realidade eram os fatui que faziam isso, e lucravam muito.

  As ordens da arconte de Cryo eram  absolutas, inquestionáveis, e inelutáveis portanto Scaramouche não se deu ao luxo de perder tempo pedindo por uma audiência real para tentar convencê-la a mudar de ideia. Ele apenas aceitou a ordem e ficou ruminando o ódio enquanto o comboio partia. Ele foi de Snezhnaya até Fontaine e de lá partiu para Mondstat.

  De todos os lugares por quê pelos arcontes ele tinha que voltar para aquele fim de mundo? Aquela terra maldita que presenciou sua vergonha, sua derrota, sua fuga de um missão das mais simples. E o mais importante, quem naquela pocilga teria dinheiro o suficiente para pagar um serviço de luxo aos fatui? Aliás para falar mal dos fatui todo mundo enchia a boca mas na hora de fazer algo de útil todos contratavam um fatui, em fim humanos hipócritas.

  Enquanto caminhava quilómetro a quilómetro sua raiva diminuía e era gradualmente substituída por uma curiosidade saudável a respeito de sua carga - não sem a ajuda de alguns espancamentos totalmente justificáveis.  Ele não queria bisbilhotar o que estava transportando pois a integridade da carga era um valor absoluto, e quebrar essa regra era enfrentar diretamente uma ordem da própria arconte, e a Tsaritsa não era conhecida por deixar passar transgressões. Então tudo o que o mensageiro poderia fazer era criar hipóteses do que diabos estava levando.

  Uma a uma as fronteiras dos países eram cruzadas e Mondstat estava próxima. Agora faltava pouco para saber o que era aquela carga misteriosa. Para não perder a grande revelação, Scaramouche se auto- voluntariou para participar da entrega da carga na casa da cliente. Essa vontade repentina de fazer um trabalho braçal tão abaixo de sua posição foi um choque para todos os seus subordinados mas ninguém ousou contradizer, entretanto o mensageiro percebeu a cara de desgosto de todos. Como no momento não estava a fim de torturar ninguém, ele fingiu não perceber nada.

   Nessa situação toda, Sacaramouche só tinha um objetivo ou melhor dizendo uma obsessão : saber o que caralhos estava transportando. O que de precioso seria levado para aquele lugarzinho incivilizado populado por um notório bando de vagabundos? Tentou usar as informações que recolheu em sua última estadia na cidade para ver se jogava alguma luz naquele mistério. O resultado foi ele se lembrando de um barman ruivo reclamando do nível de vagabundagem da cidade enquanto dava uns cascudos num freguês de tapa-olho. Uma memória inútil como tudo naquela cidade.

  Mondstat não tinha uma economia forte nem diversificada pois só sabia fazer duas coisas: vinhos e planadores. O primeiro era um comércio de luxo restrito a poucos compradores. O ultimo ninguém queria - apesar de Scaramouche os achar extremamente práticos e quem sabe chegasse a um dia cogitar de comprar um. Em termos de importação eles também não era lá grande coisa. A barbárie da população local era tão grande que qualquer tecnologia nova só chegava lá depois de uma ou duas gerações; cultura então era um sonho longínquo.

A visita que ninguém quer ( finalizado)Onde histórias criam vida. Descubra agora