Capítulo 14: Batalhas, Palavras, e um tempero de loucura

59 2 0
                                    


  - Nem da tempo de eu dar uma bronca em vocês; a torre já emitiu um sinal. A caçadora nos aguarda em seu covil.

  Foi assim que Deodoro os recebeu quando ele e Mona saíram de seu transe/ viagem espiritual na Árvore da Vida. O ex fatui estava com sua mente funcionando um tanto quando de vagar por conta da experiência toda, por isso demorou um pouco para entender o significado das palavras do outro. Só   conseguia gastar suas forças para se levantar, manter o equilíbrio, e servir de apoio para a maga se manter de pé - o corpo dela parecia estar sofrendo as consequências de seu encontro com aquele ser tão superlativo de uma maneira mais intensa que o ele.

  Mas por fim entendeu o que o Apóstolo disse, e por um breve momento se deixou ter a esperança de uma bela caminhada silenciosa e pacífica, só para que esse pequeno fragmento de sonho  fosse  esmagado logo em seguida.  Claro que Deodoro  não conseguiria ficar quieto! Ele era praticamente o resultado ideal de algum experimento maluco de algum deus de Celestia, para criar o maior tagarela de todos os universos; uma ave misturada com um pregador de uma seita obscura.  Era óbvio que não conseguiria se conter, e cacarejou o caminho inteiro.

  " Eu entendo que são os escolhidos mas uma conexão direta com a Árvore da Vida não é brincadeira não."

  " Como assim vocês só tocaram na raiz e já estavam conectados? Nem uma meditaçãozinha vocês fizeram?"

  " ... podiam pelo menos terem me avisado né, vocês tem ideia de como eu fiquei quando vi que tinham sumido?"

  Ele não parava.

  Simplesmente não parava!

  A maldição de Celestia poderia ter sido menos competente, e não ter dado pulmões de ave aos Apóstolos, não era a toa que ficavam berrando toda hora enquanto lutavam. Até ele que era afeito ao silêncio e a meditação, se tivesse pulmões como aqueles daria uns berros também - só para causar sustos em pessoas desavisadas e rir muito na cara delas.

   Afundar em sua própria mente enquanto pensava em hipóteses absurdas foi a melhor coisa que poderia ter feito, pois não só o Apóstolo não parou sua verborragia por nenhum segundo, como  em um momento a voz de Mona se juntou a dele. Normalmente isso o faria prestar atenção na conversa, mas pescou algumas das palavras da maga e percebeu que eram respostas as reclamações do pássaro, aí voltou a seus pensamentos e tentou organizá-los.

  Claro que o lugar para onde estavam indo deveria seguir a lógica de insanidade do Abismo. Em qualquer lugar uma torre estaria na parte mais alta para servir como ponto de vigilância e proteção. Só que pelo jeito nada ali funcionava como deveria, nada, nadinha de nada, e não estava lidando com isso muito bem. Era irritante qualquer coisinha funcionar de uma maneira aberrante, e mais do que isso, era ruim para planejar suas ações. Ele ia batalhar e não sabia nem se caso ele caísse seria para baixo como o esperado, ou para cima!

  A Torre de Phanos por exemplo nem ficava na parte mais alta das ruínas, como também não era uma construção que se elevava pelo terreno. Ela estava numa numa distante do conjunto que formava a... cidade? Da cidade que a Ordem do Abismo vivia, ela estava invertida na parte de baixo da sua raiz e presa com alguns cipós - os quais em certos ângulos pareciam também correntes- acima dela, ou melhor mais embaixo no Abismo, havia uma espécie de superfície espelhada que mostrava o que parecia ser uma prisão.

  Já que tentar entender o que eram as coisas que ele via no Abismo, para quê elas serviam, e como funcionavam, era uma perda de tempo, resolveu apenas aceitar tudo o que visse e seguir  o fluxo. Estava com problemas demais para resolver para desperdiçar energia com isso. Seu foco deveria ser aprender a usar o poder que a Árvore da Vida deu para ele, antes de chegar na caçadora.

A visita que ninguém quer ( finalizado)Onde histórias criam vida. Descubra agora