Capítulo 5

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 Uma vez a mestra de Mona fez um previsão completa do destino da jovem aprendiz. Ela disse que a então futura astróloga estava destinada a retirar os véus que escondem a essência do mundo, que ela seria a astróloga do século, que ela teria a mesma grandeza do fundador de sua linhagem: Hermes Trimegisto, o pai da astrologia e dos estudos mágicos. Só que uma sombra manchava o mapa astral da jovem, algo envolvendo uma anomalia não provinda do mundo natural, um ser estranho aos designíos dos céus e portanto perigoso. Em suma, um assassino - ou pelo menos essa foi a leitura feita pela mestra.

 Desde que ouviu as previsões ou melhor profecias de sua mestra, Mona sempre tomou o cuidado de nunca se envolver com pessoas de moral duvidosa. Como era de se esperar, com o tempo a vontade de honrar sua linhagem e também de assegurar sua própria grandeza, fizeram com quem cada vez mais a maga detestasse pessoas maléficas, assassinos, fatuis, ladrões do tesouro, etc. Até que Scaramouche a ajudou.

 Nos dois meses que se seguiram entre ele literalmente impedir que ela morresse de fome até ele reaparecer em sua casa, Mona tentou ao máximo conseguir informações sobre as atividades dele mas sem muito êxito. Ela queria muito acreditar que suas próprias ações eram movidas por um sentimento de desconfiança, de que queria se precaver de fosse lá qual fosse o propósito maligno dele.

 Mas tudo isso não passavam de desculpinhas que ela criava para si própria, e ela mesma sabia disso. Era obrigada a admitir isso para si própria.

 Ele a atraia, sim isso mesmo. Ela o desejava e muito! Os arcontes - menos a de Electro, maldita fosse aquela megera- deveriam estar muito decepcionados com ela. Seu lugar em Celéstia a essa hora já deveria estar sendo ocupado por outra pessoa... bom, não sendo a riquinha de merda que roubou o seu espaço - e o sustento dela daquele mês- estava até que tudo bem. E por quê é que estava tudo bem?

 Porque ela estava duvidando de Celestia!

Isso mesmo.

 Sim, o objetivo que toda a sua linhagem, sua mestra, seu meio acadêmico, e seu coven - o Hexenzirkel - lhe deram por toda a sua vida talvez não fosse tão bom assim. Ela sentia um desconforto ao pensar em Cesléstia desde que Scaramouche fez a fatídica declaração de que o céu de Tayvet era falso. Maldito fosse ele que trouxe a semente da dúvida, o veneno que estava matando sua fé.

 Mentira.

 Ela mentia para si mesma, queria um vilão para jogar a culpa de estar duvidando da vontade dos céus, e como era fácil colocar a culpa nele. Ele fazia de tudo para gritar ao mundo o quanto desdenhava do que era bom e sagrado. A verdade, a mais pura verdade era que Mona tinha duvidas desde que percebeu que ninguém nunca mais transcendeu para os céus. Num primeiro momento atribuiu o fato á humanidade ter degradado, só que isso nunca se sustentou - haviam muitas pessoas boas em sua vida- depois atribuiu a si mesma o objetivo de ser a primeira dessa nova era a transcender.

 Só que tudo isso não passava de um tentativa infantil de tapar o sol com uma peneira. As previsões de sua mestra junto com as suas próprias descobertas, e a leitura que ela fez de sua jornada, tudo isso dava sinais de que suas suspeitas...não nem suspeitas chegavam a ser ainda, eram mais para presságios de algo ruim, um sentimento de agonia engasgado em sua garganta... de qualquer modo tudo dava sinais de que esse mau agouro não estava tão errado assim não. 

 Ela e Scaramouche tinham que chegar ao fundo do abismo a todo custo! Isso era uma necessidade até mais forte que o próprio destino. Não havia lugar para falhas.

 Ahh Scaramouche, onde ele ficava naquilo tudo?  Por quê ele a atraía? Ele se instalou em sua mente como uma gota de tinta roxa se espalhando por um copo de agua cristalina. A princípio a infecção era pouca, quase não pensava nele. Aí do nada, cá estava ela pedindo para que aquele assassino a abraçasse para ela conseguir dormir, e ela dormiu, E DORMIU BEM.

A visita que ninguém quer ( finalizado)Onde histórias criam vida. Descubra agora