capítulo 4

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-Caio pov-

Desde aquele pequeno incidente no carro com o meu padrasto eu tenho evitado ele a qualquer custo. Sempre almoçando mais tarde, jantando mais cedo e nunca descendo pro andar de baixo enquanto ele estivesse lá.
Mas evitá-lo está ficando cada vez mais difícil já que hoje minha mãe resolveu que deveríamos dar um passeio em "família" porque é sábado e nenhum dos dois tem que trabalhar.

Eu estava terminando de me arrumar para esse evento indesejado quando minha mãe me chamou.

- Caio! Já está pronto?

- Já. (respondi com uma carranca)

- Então vamos, o Gabriel está esperando lá embaixo.

- Por mim ele pode esperar sentado. (murmurei tão baixo que ela nem ouviu)

Enquanto descia as escadas sentia o nervosismo me dominar cada vez mais por ter que encará-lo.

Eu terei que olhar pra ele e fingir que ele não fez aquilo comigo.
Eu vou ter que olhar pra ele e fingir que ele não me tocou.
Eu vou ter que olhar pra ele e fingir que eu não gostei.

Assim que cheguei ao último degrau ele levantou os olhos do celular e me observou com um olhar de um predador olhando a presa. Me olhou de cima a baixo com certa malícia. Senti vergonha e baixei meu olhar na mesma hora.

- Mãe, hum... pra onde vamos?

- Eu estava pensando em irmos ao shopping almoçar em algum restaurante, o que vocês acham?

- O que você escolher está ótimo amor. (ele disse sorrindo e plantando um beijo na bochecha dela)

Como ele consegue ser tão falso? Eu sei que não fico muito atrás pelo fato de também estar mentindo pra minha mãe, mas pelo menos eu sei disfarçar o meu cinismo.

A culpa por essa mentira me corrói cada vez mais, mas eu não vou abrir a boca. Eu não vou estragar o sonho de família feliz da minha mãe, mesmo que seja tudo uma ilusão.
Mesmo que seja o maior teatro que eu já vi.
Mesmo que seja a coisa mais difícil que eu tenha que fazer, eu não vou estragar.
Ela já sofreu demais, tudo só pra de repente ser eu, seu próprio filho, a puxar o tapete dela? Não mesmo.

Entramos no carro e Gabriel dirigiu até o shopping com todos nós em silêncio.

Quando chegamos abri a porta e ao sair soltei um suspiro que nem notei estar segurando. Estar naquele carro me deixou cada vez mais ansioso pra sair, em vários momentos do trajeto cogitei simplesmente abrir a porta com o carro em movimento e pular.

- Ok, chegamos. Filho, o que você quer comer? (minha mãe perguntou me observando)

Porque esse olhar fez eu me sentir como se estivesse num tribunal e fosse o culpado?
Eu sentia como se o simples olhar amoroso dela estivesse queimando todo o meu corpo. Senti como se ela soubesse tudo que eu estava escondendo.

- Eu, hum, eu...

Desnorteado demais pra responder, Gabriel falou por mim:

- Tenho certeza que ele vai estar bem com o que você escolher, amor.

Ufa. Salvo pelo gongo.

- Ah... ok. Hoje eu estou com uma vontade louca de frango à parmegiana. Que tal?

- Eu adoro. (respondeu Gabriel)

- Ok... (eu disse ainda confuso)

Fomos até um restaurante na praça de alimentação e lá fizemos o pedido.
Enquanto esperávamos minha mãe e Gabriel conversavam e eu enfiei a cara no celular pra fingir não estar totalmente desconfortável.

- Caio, como você e o Gabriel estão se saindo? Estão se dando bem?

Haha. Bem até demais.
Meu subconsciente ironicamente pensou.

Eu olhei pra ela e vi aquele olhar esperançoso, torcendo pra estar dando tudo certo entre nós pra podermos ser felizes.
Eu sabia que essa mulher faria de tudo por mim. No momento em que eu dissesse que não conseguiria conviver com ele ela largaria tudo por mim.
Ela largaria sua felicidade.
Ela largaria seus sonhos.
Ela desistiria de tudo, somente por mim.

E foi nesse momento que eu soube que desistiria de tudo por ela também, mesmo que significasse desistir da minha própria dignidade.
Abri meu melhor sorriso pra ela e disse:

- Está tudo ótimo mãe.

Não sabia se era o certo a se fazer. Talvez estivesse cometendo o maior erro da minha vida quando pronunciei essas quatro palavras.

Mas agora não tinha mais volta.

Meu novo padrasto (boyxboy) [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora