° Capítulo 11 °

152 25 0
                                    

— Você sabia? — retrucou incrédula.

Ela não pode evitar a frustração como se murmúrios de segredos vagassem secretamente dela. No entanto, Hathor deu de ombros como se aquilo fosse irrelevante, o fato de Tarden estar namorando com uma humana específica não chocou os demais deuses.

— Era algum tipo de segredo? — Bastet tornou a alfinetar irritada.

Chutou a água que escorria entre seu dedos, apesar da sensação térmica o rio Nilo contracenava tornando um equilíbrio entre o calor e a umidade.

— Sabíamos que sua reação não seria uma das melhores — a voz suave proferiu, fazendo as duas deusas pararem.

Perséfone se destacava com sua pele pálida no vestido escuro, sua expressão calma era oposta desde a última vez que vira, mas a felina não demonstrou menos que indiferença. Não seria tão fácil vê-la como igual.

— Não me surpreende vocês me excluírem de algo — ela argumentou fitando a deusa da primavera.

— Vocês duas — Hathor interveio apontando para elas. — Estão parecendo crianças birrentas, não estamos aqui pra isso.

As duas assentiram contragosto, havia um motivo maior para aguentar a presença uma da outra, suas vidas à mercê da morte. O livro ainda permanecia desaparecido e Bastet seguia inquieta ao decorrer dos dias, o fato de o detentor do livro não evidenciar sua presença ou impor uma chantagem era o que a atormentava. Silêncio demasiado não trazia bons ventos.

As três deusas prosseguiram pela margem do Nilo em uma parte pouco povoada, alguns indícios a levaram ali. O cheiro adocicado era quase imperceptível, mas Toth havia identificado levando as duas a averiguar sua suspeita.

Outrora, a felina levara suas suspeitas sobre Perséfone, pois era a única a mais que saberia sobre o paradeiro do livro e era recente entre os egípcios, mas a deusa descartou sua teoria de antemão. Era óbvio demais e facilmente faria a confessar, mas o aroma não coincidia com ela.

— Nada ainda? — Perséfone inquiriu, fitando o horizonte.

Alguns arbustos, areia e o Nilo chegava quase no seu fim, as três alternaram o olhar na mesma constatação.

— Não me admiraria — Hathor falou, seu cabelo preso foram soltos com o vento.— Toth anda ficando velho.

A felina repuxou os lábios em um riso fraco, poderia imaginar a expressão de ultraje se o deus da sabedoria ouvisse aquilo.

— Você ofende o orgulho dele assim — Bastet disse, caminhando ao lado das duas.

— Pergunte ao Tarden como anda o humor dele — Perséfone interveio, em relação ao seu filho e o deus da sabedoria.

O jeito extrovertido de Tarden não inibia Toth, logo o garoto usava seu bom humor para aprontar brincadeiras contra o deus, enquanto o mesmo tentava arduamente fazê-lo compreender um de seus muitos papiros. Contudo, Tarden apenas conseguia deixar Toth carrancudo ao final do dia, ele conseguia deixa o deus mais sério que o limite.

— Aquele garoto — Hathor balançou a cabeça, sabendo de todas as travessuras dele.

Apesar de predominar o bom humor na caminhada, algo no horizonte foi captado por ambas, talvez Toth não estaria tão errado.

Se aproximaram fitando o rosto pálido cadavérico, o mortal estirado na mata ciliar estava encolhido como se estivesse se protegendo de um suposto agressor, mas não apresentava marcas ou mutilação. A felina parou diante do mesmo, seguida pelas duas deusas, observando algum indício despercebido.

Ascensão [LIVRO 2] Onde histórias criam vida. Descubra agora