Não tardaria para ele abrir um trincheira no chão, passos firmes e apressados ecoaram no templo. Tarden aparentava tão ansioso quanto ela.
Seria um momento oportuno para repassar todo seu sermão sobre o quanto estava certas, as consequências do romance estavam ali, inegáveis. Entretanto, Bastet também ressentia e joga toda essa carga nele não seria justo.
— Se você não parar vou amarrá-lo nessa cadeira — ela advertiu, a felina tocou no ombro do garoto.
Mesmo contrariado ele parou comprimindo a mão, suas íris faiscaram por um determinado momento. Que Sekhmet retornasse logo, ele não aguardaria por muito tempo.
— Ela deve estar com medo? — ele inquiriu num sussurro.
— Malu sabe se virar — disse, querendo acreditar nas suas próprias palavras.
— Com sangue de deuses — Sekhmet interviu. —, ela saberá se defender.
Os dois assentiram, aguardando mais informações da deusa, que se aproximou de ambos.
— Há séculos não me divirto tanto assim —Sekhmet riu baixinho, mostrando os lábios perfeitos.
— Isso não é uma brincadeira, tia — Tarden disse incomodado, mas Bastet já estava acostumada com o humor peculiar da irmã.
— Sentimentalismo é seu ponto fraco garoto — ela retrucou, pegando a taça.
Apesar da orientação que foi dada, Bastet seguiu a mais velha até sua casa. Rá precisava de alguns papiros antigos de volta, a felina havia pegado eles anteriormente com o intuito de pesquisas, na sua visão não tinha muito que reiterar naquelas escrituras, ervas, formas de evitar alguns inimigos, nada que ela já não tivesse conhecimento.
Pequenos grãos rodopiaram quando sua casa se materializou diante de si. Cores entre branco e amarelo claro recobriam as paredes, simples e sem muitas considerações.
Tarden impaciente foi o primeiro a entrar, cruzando os braços na espera das duas. Aguardar estava sendo uma tortura interna para ele, observou a felina. Sekhmet ficara lá fora por alguns segundos, mas adentrou encontrando um garoto emburrado e sua irmã junto à lareira.
— Você pode ir pegar os papiros, Tarden — Sekhmet ordenou, sem olhá-lo. — Sabe quais são.
Sua voz não carregava nada além de uma ordem seca, o que por sua vez fez Bastet erguer o rosto em sua direção. Sekhmet não costumava ser assim.
— Algo errado? — Bastet questinou, quando Tarden entrou no escritório.
Sekhmet negou se aproximando, um sorriso triste se fez em seu lábios, a deusa entalaçou suas mãos num gesto inesperado de carinho que levou a felina a arquear as sobrancelhas. O que foi aquilo afinal? Sekhmet não seria o melhor exemplo de carinho e muito menos saia distribuindo sem motivos.
— Recorda-se quando nós éramos novatas nesse mundo mortal? — ela inquiriu. — Creio que foi momentos bons, ouso dizer que éramos quase felizes, sempre brincando em templos, correndo sobre o deserto. Seu lado protetor estava em constante alerta, quando eu ensinei Hathor a lutar e por um acidente acertei ela forte demais, eu não mensurava minha força naquela época, você lembra?
Ela estava desacordada, o medo me consumiu neste dia, porém você me tranquilizou, queria até levar toda culpa.É claro que ela lembrava, foi a única e última vez que viu Sekhmet chorar. Os pequenos bracinhos de sua irmã tremiam com os soluços, enquanto via Hathor desmaiada na areia. Bastet podia relembrar minimamente quando tentava acordar Hathor e fazer Sekhmet se acalmar. Entretanto, a deusa voltar com esse assunto de séculos estava sendo incomum.
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Ascensão [LIVRO 2]
FantasyMarcas são lembretes de feridas recentes ou não, Bastet tem muitas delas, invisíveis aos olhos de humanos e deuses, mas ainda estão presentes lembrando de suas escolhas e ressentimentos. O mundo se reinventou, mais moderno e conectado, os deuses est...