Guloseimas enfeitavam a mesa antiga, enquanto se dedicava a experimentar cada uma sem ligar se ganharia um quilo a mais, uma das coisas que aprendera na eternidade era nunca deixar de tentar coisas novas, encheu o prato mais uma vez arrancando risinhos de uma das servas, elas sentiam-se grata por uma deusa aprovar seu feito. Em sua maioria os servos acabavam tornando-se uma família, uma pena eles não poderiam viver por séculos, ela lamentou.
Mas tomou mais um gole do líquido no cálice, as vezes ela podia desfrutar de uma calmaria em dados momentos. No entanto sua presença em Heliópolis tinha outro propósito.
— Por que sempre a encontro comendo? — Rá indagou entrando no recinto, os servos tomaram seus respectivos lugares.
— É um dos meus passatempos preferidos — ela divagou com humor, recebendo um sorriso afetuoso do deus sol.
Ele se juntou a ela no banquete, dispensando a ajuda de alguns servos próximos, serviu-se do vinho com tranquilidade.
— E Sekhmet? — questionou a felina, fazia alguns dias que não via pelos templos.
— Com Tarden — informou o deus. — Ele precisa desenvolver suas habilidades ou não vai dura uma década.
A deusa suspirou em concordância, mas sabia o quanto essa tarefa era difícil quando se tratava do garoto.
— Com a mãe que tem... — ela murmurou recebendo um olhar de censura do deus.
Atritos entre ela e Perséfone viraram hábitos e não escondia seu desafeto por ela. Após aquela briga no Olimpo ela conheceu melhor a deusa da primavera e poucos adjetivos podiam ser empregado na sua personalidade.
— Nutrir ódio no seu coração é uma escolha perigosa, filha — aconselhou Rá.
— Não se preocupe — ela garantiu, bebendo novamente. — Como estão as coisas no Olimpo?
O que ocorria em terras distantes não lhe despertava interesse antes, no entanto, de forma indireta quis saber sobre alguém específico, nada melhor questionar quem detém maior informações. Mais uma vez o sono deu lugar a pensamentos importunos, era real, ele havia voltado e isso inferia na sua vida, restava saber como.
O deus patriarca pressionou cálice quando ouviu a indagação da mais nova, aparentando estar ponderando escolher as palavras certas.
— Instável — falou por fim, depois solvendo o que restava do líquido. — Alguns olimpianos querem ela morta, por sua conduta — acrescentou.
Com certeza alguns deuses gregos não queriam deixar essa imagem percorrer diante dos outros deuses, mas não era só do feitio deles esconder coisas, a natureza humana também era referência nesse quesito, a felina constatou. Embora era um pouco tarde para eles exigir alguma coisa, afinal Perséfone estava inalcançável por enquanto.
— Vão caçá-la? — ela quis saber, quem sabe não se divertiria finalmente.
Sua expectativa na voz fez o deus rolar os olhos, duvidava muito que ela deixasse o ódio de lado.
— Ela está sobre nosso domínio — relembrou. — Não iniciariam uma guerra por causa de relações extraconjugais.
Bastet tinha que concordar que não, mas eles teriam outro motivo e esse a fez engolir seco ao mesmo tempo que um instinto materno se apossou dela. Ela nutria um amor por Tarden como se fosse seu filho, dessa maneira como toda mãe ela desejava seu bem estar, talvez uma vida mortal como de Malu, simples com tranquilidade, sem deuses que o cercavam por suas ambições e sede de poder.
— E Hades? — indagou entrando onde queria chegar, o deus ergueu as sobrancelhas com a pergunta inesperada.
— Não há o que falar dele, apenas continua em suas terras — respondeu com desagrado. — Bastet, nutrir amor pelo inimigo faz qualquer um refém dos seus próprios sentimentos.
— Não fui eu que entrei nas cobertas de uma deusa grega, senhor. Essa advertência também não se destina para mim.
Nenhum dos dois se pronunciariam, terminou sua refeição e seguiu para o treinamento, mas era nítido seu pouco interesse em ensinar seu aprendiz. As palavras do deus deixaram ela num transe de divagação, o qual não ajudava na sua concentração, logo dispensou Tarden que deu graças pra fugir novamente para o Cairo, mas não antes de abraça-la e perguntar o motivo da sua pouca atenção durante o treinamento, no fim das contas ele também via como uma segunda mãe.
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Ascensão [LIVRO 2]
FantasíaMarcas são lembretes de feridas recentes ou não, Bastet tem muitas delas, invisíveis aos olhos de humanos e deuses, mas ainda estão presentes lembrando de suas escolhas e ressentimentos. O mundo se reinventou, mais moderno e conectado, os deuses est...