O Diabo e suas Facetas

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"Encontro mentiras em verdades e desconfio das verdades, porque sei que um dia elas se transformarão em mentiras." Vanessa Carvalho.

Março de 2013. 16h, dia 29.

Junmyeon perdeu a conta das vezes em que seu telefone tocara só naquela manhã, devido à preocupação de sua família e amigos por não conseguir contatá-lo durante a semana. Ele estava abalado pelo fato de ainda não terem encontrado Baekhyun, e as mensagens que recebia dele antes do noticiário, nunca mais foram notificadas em seu celular.

A chuva caia demasiadamente do lado de fora, abafando o choro constante do homem estirado no sofá de couro preto, a cabeça enterrada entre os braços cruzados numa tentativa de esconder as lágrimas sofridas e de abafar os barulhos que fazia enquanto se martirizava.

Os soluços se tornaram parte da canção natural com trovoadas e relâmpagos, trazendo então, de minuto em minuto, iluminação para o cômodo escuro.

Quando o celular tocou mais uma vez, sentiu que deveria atender para evitar não jogar o aparelho no chão, e como o som ensurdecedor da chuva, o toque perturbava seu juízo tanto quanto seus pensamentos referentes à Baekhyun. Inclusive, a canção repercutida se chamava “A Forest” do The Cure, umas das músicas que ele apresentou para si quando tinha o conhecido.

"Venha mais perto e veja, veja
entre as árvores... Procure a garota, enquanto puder..."

"Venha mais perto e veja, veja
na escuridão... Apenas siga seus olhos, apenas siga seus olhos..."

— Alô? — perguntou num tom baixo, não sabendo de quem se tratava, sua única reação foi atender sem olhar para a tela.

— Jun, sou eu, o Jongin — Avisou. Talvez não soubesse da saudade que estava sentindo dele, até ouvir sua voz. O moreno voltou a se jogar no acolchoado, de barriga para cima e com a cabeça encostada no braço do sofá, sem deixar de fungar após outra choradeira repentina. — Estou preocupado com você, não nos falamos desde semana passada...

Junmyeon fechou os olhos com força, tentando reprimir a vontade de lamuriar. — Desculpa, Nini. Você tem notícias do Baek? A polícia descobriu algo? — Sem evitar, deu os primeiros soluços.

— Junmyeon, eu disse que tô preocupado com você, porra. Por favor, me diga como está, se já comeu ou algo assim! — Implorou, nunca deixando de adicionar uma pitada de agressividade nas palavras que proferia.

Jongin tinha o pavio curto e isso às vezes o tornava perigoso para quem ousasse cruzar seu caminho em momentos de surtos extremos.

Junmyeon realmente não entendia qual era a dele, no começo, mas ao navegar pela internet e pesquisar sobre transtornos de bipolaridade, se tornou mais compreensível diante das crises que ele tinha e se permitiu ficar íntimo dele, porque tirando toda aquela raiva de urso, Jongin era um homem bom e aos poucos foi conquistando sua confiança.

— Você sabe como... — Choramingou, engolindo o bolo formado em sua garganta. — Não consigo suportar.

— Todos estão procurando, sem parar. Uma hora ou outra ele aparece! — Esbravejou, sem se conter e sem pensar no abalo que seu tom causava no mais novo.

Junmyeon odiava a exasperação, a voz grosseira e alterada do moreno quando ficava impaciente, ouvir Jongin gritando era só uma perturbação a mais para si.

O choro intensificou-se no decorrer da fala dele, não conseguindo reter a tristeza que martelava seu peito dia e noite. Seus olhos, já inchados, denunciavam o quanto ele havia chorado na noite passada e dava continuidade pelo dia todo, enquanto se lembrava dos momentos passados ao lado de Byun.

ANECDOCHE: não há pior inimigo que um falso amigo.Onde histórias criam vida. Descubra agora