Quando a quarta pessoa naquela noite perguntou a Sylvie como andava seu relacionamento com Arvid Larsen, ela considerou seriamente a possibilidade de se jogar da sacada do castelo. Talvez ela tivesse mesmo feito isso caso não soubesse que sua morte prematura causaria um enorme embaraço ao seu pai, um senhor que, acima de tudo, prezava pelo bom nome da família.
Naquele instante um dos funcionários do palácio passou perto dela com uma bandeja cheia de taças de champanhe. Mais que rapidamente, a filha do primeiro-ministro pegou uma, se escondeu atrás de um arranjo de rosas vermelhas - que deveriam ter custado uma fortuna naquela época do ano - e bebeu todo o líquido em um longo gole.
Aquela era sua terceira taça.
Infelizmente, não estava nem perto de estar bêbada como gostaria.
"Sempre quis que servissem algo mais substancial", uma voz disse de repente, fazendo com que Sylvie se assustasse e virasse para trás. Uma moça jovem em um vestido preto sorria para ela. Mas não era uma moça qualquer, era a princesa. "Quem sabe Vodka, talvez?"
"Alteza." Utilizando de suas boas maneiras, Sylvie se curvou diante da garota mais nova. "A senhorita não é jovem demais para beber?"
Sylvie e a princesa Ada de Nystrand tinham se visto em ocasiões o suficiente na vida para que ela se sentisse à vontade em falar de forma direta com a filha da rainha. E, mesmo se não fosse esse o caso, era do conhecimento de todos que Ada estava longe de ser um membro frio e distante da família real. O povo a adorava.
"Dezessete anos não é muito jovem", a princesa rebateu, e, como que para provar seu ponto, balançou a taça de champanhe que segurava em uma das mãos. "Além disso, preciso de um incentivo para aguentar essa festa."
Nem me fale.
Sylvie encarou sua taça vazia. Não sabia se seria capaz de enfrentar mais uma conversa enfadonha com um político metido à besta, muito menos se o político em questão começasse a fazer perguntas sobre seu relacionamento com o filho de um dos banqueiros mais notórios do país.
"Você parece melancólica, Sylvie", a princesa disse, a analisando com aqueles insondáveis olhos verdes. "Sei que não somos muito próximas, mas podemos conversar sobre isso se quiser."
"Obrigada, mas estou bem", mentiu, porque não sabia se seria capaz de falar sobre aquilo sem se sentir um lixo outra vez. "Só preciso... de ar fresco. Aqui está abafado demais."
"Foi o que Tom disse agora a pouco, antes de abandonar seus deveres como príncipe herdeiro e roubar uma garrafa de uísque do escritório do papai", Ada reclamou, sacudindo a cabeça com tanta força que mechas do seu cabelo preto desprenderam do coque elaborado. "Não duvido nada que aquele idiota ainda acabe abdicando e passando a responsabilidade toda para mim, como vem fazendo desde o dia em que nasci. Mas eu o mataria se fizesse isso, e depois mataria a mim mesma para não precisar assumir a maldita coroa."
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Princesa por um Natal
Short StorySylvie Karlsen não sabe muito bem o que fazer agora que terminou um relacionamento de três anos com o homem que aparentemente era perfeito para ela. O Natal está chegando - a melhor época do ano em sua opinião - mas é difícil se alegrar qua...