Tom Hylen havia enfrentado consideráveis centímetros de neve na rua, pessoas felizes desejando "feliz natal" a cada meia frase pronunciada e enfeites extravagantes em todo canto durante sua rápida ida ao mercado. Isso, sob todos os efeitos, era demais para qualquer um aguentar.
Quando chegou à casa alugada, as roupas sujas de neve e as extremidades do corpo geladas pelo frio, tudo o que queria era se enfiar em um banho quente e aproveitar o silêncio refugiado em seu quarto com o Kindle que tinha trago na mala. Mas, pelo jeito, aquilo era pedir demais para Sylvie Karlsen.
Enquanto atravessava o curto corredor até o quarto dela, desejou um milhão de vezes que ficasse momentaneamente surdo.
"O que é isso?", ele gritou para ser ouvido apesar do barulho na soleira da porta.
Sylvie, que estava pintando as unhas dos pés em cima da cama, sorriu para ele.
"Eu posso fazer as suas também, se quiser."
Tom revirou os olhos e diminuiu o volume do celular que berrava perto dela.
"Eu estava me referindo a isso, Karlsen."
"Ah! É ótimo, não é? Sempre gostei do rock nacional, em especial o dos anos oitenta. É meu estilo de música favorito."
"Não sei se esse som saído das profundezas do inferno, usado para castigar as almas dos pecadores, pode ser chamado de música", ele disse, admirado por tamanho mau gosto.
Sylvie revirou os olhos de uma maneira que faria Ada se sentir orgulhosa.
"Você deveria ser coroado rei do drama um dia, isso sim. Não me diga que não aprecia a cultura do próprio país."
"Eu aprecio. Muito. Mas isso não é cultura. É tortura."
Sem remorso, ela lhe acertou com um travesseiro.
"É horrível viver vinte e quatro horas com o espírito de um senhor rabugento de noventa anos", ela suspirou.
"E que tal namorar um?" Tom sacou o celular do bolso e mostrou a ela prints das matérias que tinha visto mais cedo. "O país inteiro está falando de nós, sabia?"
Ela observou as fotos tiradas às escondidas naquela noite que tinham saído juntos. Eram imagens dos dois no restaurante, no lago congelado e no banco do parque tomando chocolate quente. Sylvie desviou os olhos. Ela não parecia muito feliz.
"Não me diga que está arrependida do plano", Tom desdenhou, quando viu a sombra de dúvida nos olhos dela.
"Não! Eu só..." Ela suspirou e fechou o tubinho de esmalte, apanhando a gata mais próxima e a abraçando junto ao peito. "Arvid ligou ontem, enquanto você estava no banho. Eu não atendi, mas sei que ele está acompanhando tudo e quer falar comigo. Sinto que devia dar explicações."
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Princesa por um Natal
Historia CortaSylvie Karlsen não sabe muito bem o que fazer agora que terminou um relacionamento de três anos com o homem que aparentemente era perfeito para ela. O Natal está chegando - a melhor época do ano em sua opinião - mas é difícil se alegrar qua...