Sylvie estava mergulhada em uma névoa doce e profunda quando foi forçada a acordar por cutucadas leves, mas persistentes, na lateral do seu corpo.Ela abriu os olhos e viu um rostinho de olhos azuis e cabelos claros como os dela a centímetros do seu.
"Bom dia, Levi", ela sussurrou, as palavras pesadas.
"Bom dia." Ele coçou o nariz e se aproximou mais, como que para contar um segredo. "Tô morrendo de fome. Tem o que para comer?"
Sylvie soltou uma risada. Ele tinha dito aquilo com tanta seriedade...
"Você pode escolher", uma voz rouca que fez arrepios percorrerem todo seu corpo disse de repente. As cobertas se movimentaram e Tom se ergueu no colchão, os cabelos negros e rebeldes emoldurando o rosto. De alguma forma, sua cara de sono não o deixava nem um pouco menos atraente. Muito pelo contrário. "Pode comer o que quiser, Levi."
O garotinho olhou para Sylvie com os olhos arregalados, como se procurasse confirmação para o que tinha acabado de ouvir.
"É verdade", ela falou, ajeitando os cabelos dele com carinho. "O que acha de ir brincar com as gatinhas enquanto tio Tom e eu preparamos seu café da manhã?"
Levi assentiu animado e saiu do quarto correndo e gritando por Emily, Anne e Charlotte.
Assim que o garoto passou pela porta, Syl se arrependeu do que tinha feito. Não sabia se era capaz de olhar para o lado e se ver dividindo a cama com Tom Hylen. Na noite anterior, quando o álcool entorpecia seus sentidos e o choque e a tristeza por ter encontrado Levi do lado de fora tomava conta de si, a ideia de dormir com o príncipe herdeiro não parecera tão ruim. Nem abraçá-lo. Muito menos deixar que algumas das lágrimas dele molhassem seu cabelo.
Ela se lembrava de tudo. E, à luz dos acontecimentos recentes, o homem ao seu lado parecia menos uma rocha e mais um ser humano com dores e fragilidades como todos os outros.
E aquilo só fazia com que ela gostasse ainda mais dele.
"Preciso te contar uma coisa", Tom disse, se levantando da cama depressa e passando uma mão pelos cabelos.
Tá bom. Ela também podia ignorar o fato dos dois terem dormido abraçados. Com certeza.
Já tinha até esquecido.
"Levi apanha do tio."
Ela ergueu os olhos para o príncipe, que andava em direção ao armário e revirava as roupas na gaveta.
"Como você sabe disso?", Sylvie perguntou, a boca seca.
"Eu vi os hematomas no corpo dele ontem à noite. Quando perguntei, ele falou que o tio era bravo. Não foi difícil juntar um mais um."
Sylvie se levantou e agarrou com força a cabeceira da cama. As lembranças do menino pequeno e frágil encontrado na neve, tremendo com um pacotinho de balas no casaco, invadiram sua mente. Seus olhos arderam e ela precisou fechá-los por um momento para se impedir de chorar.
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Princesa por um Natal
ContoSylvie Karlsen não sabe muito bem o que fazer agora que terminou um relacionamento de três anos com o homem que aparentemente era perfeito para ela. O Natal está chegando - a melhor época do ano em sua opinião - mas é difícil se alegrar qua...