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16/05/1995

- Ju, você pode nos contar como tudo começou? - O repórter perguntou, fazendo a câmera desviar a atenção de Bento para mim, logo quando eu estava acendendo meu cigarro.

- Puta merda vocês me pegaram no pulo, minha mãe não pode ver isso cara. - Dei risada - Crianças, não fumem. Só fumem se for o cigarro de chocolate viu? Esse pode. - Todos riram.

Então, comecei a contar a minha história com os Mamonas.

- Tudo começou em julho de 1990. Eu tava no bar de boa, tomando uma cervejinha com a Valéria, que hoje é a namorada do Dinho. Aí do nada uma banda furreca de boate surgiu no palco. O Bento com aquele cabelo liso dele, escorrido, o Samuel e o Sérgio. Vocês precisavam ver, todos com carinha de neném. E o público pediu pra tocar Sweet Child O' Mine do Guns'N'Roses, a minha banda favorita, só que nenhum desses 3 imprestáveis sabiam como cantar a música. Eu até criei coragem pra subir ao palco, mas o Dinho foi correndo na minha frente e começou a fazer graça no palco.

- E você sabia cantar a música? - o repórter me cortou

- Eu sou metade canadense Carlos, passei praticamente a vida no estrangeiro, não sei se isso 'tá nas informações que os meus fãs repassam por aí, mas eu venho de Toronto, que fica no Canadá. - Soltei a fumaça do cigarro. - Eu morei lá dos 5 anos até janeiro de 1989. Tenho dois irmãos mais velhos que moram lá até hoje.

Os meninos deram risada, afinal eu havia sido um pouco grossa

- Mas enfim, isso não vem ao caso. Continuando a minha história. Ele cantou aquilo da forma mais absurda possível, e mesmo com aquele inglês de quinta, eu só conseguia pensar no potencial que eles tinham. Me encantou a forma como mesmo improvisando eles ainda soavam bons.

- É tão animador ver você falar isso, Ju. - Dinho deu risada

- Ah, mas é a verdade pitchulo, você não sabe absolutamente nada de inglês - eu apaguei o cigarro no cinzeiro que estava ao lado e tomei um gole de café. - Você e inglês não cabem na mesma frase.

Todos ao redor riram, fazendo Dinho ficar sem graça.

- E desde aquele dia, eu seguia a banda pra todo lugar. Todos eles já me conheciam, eu era quase um membro da banda. Eu toco violão né, aí um dia eu cheguei nos bastidores e me apresentei pra eles: "Oi, eu sou a Ju, sou muito fã de vocês e aprendi até uma música de vocês" e toquei a música pra eles.

- A gente adorou o jeito que ela se atrapalhou toda com o violão. - Bento disse, demonstrando em seguida.

Samuel riu, concordando.

- Em 92, quando eles foram gravar o primeiro vinil da Utopia, eles me chamaram pra fazer parte da banda, como segunda voz. Eu comecei cantando com o Dinho, mas viram que eu era péssima de segunda voz e eu acabei optando por ficar com a segunda guitarra. E aí pronto. Eu era praticamente a assessora da banda, mesmo fazendo parte da banda. É o que dá colocar uma mulher no meio de 5 homens. Desde então, eu estou com eles. E agora temos a Simone, nossa belíssima assessora que tomou o meu posto.

- Mas conta pra gente Ju, como você lidou com a rotina de morar com 5 homens? - perguntou Carlos

- Ah, é normal. Eu cresci com 2 irmãos mais velhos, como eu disse antes. A parte mais difícil é a bagunça, mas graças a Deus nós temos a Paulinha, que arruma a casa pra gente. - Dei risada, acompanhando os meninos. - A parte mais chata é quando eu quero levar alguém pra namorar, eles ficam me enchendo o saco o tempo todo, eu não posso nem dar umazinha.

- É só não levar. - Bento disse, dando de ombros.

Eu estranhei a frase, mas fingi não ouvir.

- Isso é muito legal, essa irmandade de vocês. Algum de vocês pretendem seguir carreira solo? - Carlos disse, cruzando as pernas.

O silêncio se instalou, pois não sabíamos a verdadeira resposta para essa pergunta. Dinho viu que ficamos quietos e resolveu agir:

- Ah Carlos, acredito que com muita conversa e confiança algum dia a gente se acerte sobre isso. Mas no momento não tivemos nenhuma discussão ou planos pra isso.

- Certo. - Carlos assentiu. - Queridos amigos do Domingo Legal, estivemos aqui hoje com a Banda Mamonas Assassinas. Vocês querem deixar um recado?

- Queremos sim, queridas fãs por favor lavem as calcinhas antes de jogar no palco. - disse Samuel, fazendo todos rirem.

- E meninos, por favor, não joguem cuecas para a nossa querida Ju. Ela é sapatona! - Samuel disse, pronto para sair correndo pois sabia que eu iria atrás dele.

- Volta aqui seu capeta! - gritei ao correr.

Não deu pra ouvir o resto, mas sabia que a produção do Domingo Legal já havia encerrado a entrevista e acertava com Simone, nossa assessora, como seria a edição.

- Seu diabo em forma de gente! - xinguei Samuel, rindo ao mesmo tempo.

- Vamos embora pessoal, vocês têm mais 3 dias de folga e depois tem mais um show. - disse Simone, como sempre com a sua bolsinha de lado e sua calça boca de sino.

Todos seguiram para os quartos, estávamos no Copacabana Palace, divididos em 2 quartos. Samuel, Júlio e Dinho no quarto 213 e Eu, Bento e Sérgio no quarto 214.

- Oh Japonês, pega minha mala aí por favor. - Sérgio pediu, voltando pro quarto

- Pega você, folgado. - Bento respondeu se jogando na cama.

- Nossa, o amor de vocês é tão lindo! Fico emocionada. - Fingi secar uma lágrima

Bento ia responder algo, mas foi interrompido pela outra metade da banda, que invadiu nosso quarto.

- Pitchula, se aprochegue mais pra lá. - Dinho disse com a sua típica voz de imitação, me empurrando da cama.

- Ah Dinho, vai se foder! - levantei arrumando o cabelo. - Vai atazanar sua mulher vai!

- Não dá Pitchula, minha mulher tá longe de mim! - enfiou a cara no travesseiro e fingiu chorar

- Dramático. - Dei risada

Todos se acomodaram nas camas dos quartos e começamos a assistir um desenho, enquanto comíamos alguns snacks e tomávamos coca cola.

Naquela noite, fizemos mais alguns shows, mas ainda continuaríamos lá para a participação que faríamos no Faustão, o cachê seria alto o suficiente pra dividirmos uma boa grana.

Chegando domingo, nós nos apresentamos no Faustão, o que gerou muito Ibope pro programa. O Faustão fez algumas perguntas pessoais, como sempre nós respondemos e quando ele veio me perguntar, perguntou sobre as paqueras.

- Ah Fausto, sabe como é né. Um mágico não revela seus truques! - agitei o público masculino - Eu estou solteira, o meu número de telefone está passando em letrinhas miúdas agora mesmo na sua tela. Caso esteja interessado entre em contato com a Simone, nossa assessora, que eu vou fazer questão de dizer "Não!".

Todos da plateia soltaram um "Ahhhhhh"

- Mas ó, se vocês quiserem o Japonês, ele tá de graça! É uma em cada estado viu meninas? - Eu gritei e o Japonês tocou a guitarra, rindo em seguida.

- 'Oloco meu, essa fera aí bicho! - Faustão gritou, fazendo a plateia rir.

Encerrado mais esse programa, finalmente fomos pro hotel. Não via a hora de voltar pra minha casinha, ou melhor, nossa casinha. Eu estava morrendo de saudades do Mr. Moustache, que era o meu gatinho.

A pior parte de voltar pra casa, é o avião. Eu tenho fobia, o que me faz sofrer toda vez que tenho que pegar um. A tremedeira, o suor e tudo o que eu tenho direito. Felizmente, o voo foi curto e logo estávamos em casa.

E agora, Creuzebeck?Onde histórias criam vida. Descubra agora