Meus pés doíam, minhas costas ardiam pelo calor e eu suava em partes que nem sabia que eram possíveis. Nós andávamos há horas, devia ser meio dia pela ardência grande do sol. Christopher e eu não dissemos uma palavra desde que saímos da alcateia, o que agradeci em silêncio, não estava com vontade de conversar sobre nada, apenas pensar. Falamos apenas o básico da geografia "Agora siga aqui", "Vamos reto, vire ali". E só.
Mas, eu já estava começando a ficar incomodada. Quem estava prestes a morrer era eu, e ele resolve ficar de greve do silêncio como se tivesse um problema gigante com ele?
Eu estava exausta e faria de tudo para parar e descansar. Mas, precisávamos ser rápidos e economizar tempo, até mesmo a comida. Tudo podia acontecer.
Pensamentos cercavam minha mente quando pisei em falso num caminho de pedras e tropecei, caindo.
_Ai!- não achava que faria um estrago tão grande, mas quando olhei para minha perna, a calça tinha rasgado e meu tornozelo estava ralado, com sangue já escorrendo sobre ele. Inacreditável.
Christopher, que estava logo na frente, ouviu o ocorrido e virou-se em minha direção. Não demorou para que ele chegasse até mim e abaixasse, analisando meu tornozelo. Ele colocou seus dedos com delicadeza no tornozelo, fazendo uma leve massagem.
_Isso dói?- ele perguntou baixo, e dei graças aos céus por tê-lo ouvido falar algo. Seus olhos encontraram os meus e o calor correndo por todo meu corpo voltou com toda força, o calor que não senti durante algumas horas. Me lembrei o que ficar perto dele e olhá-lo nos olhos me causava.
Neguei com a cabeça, mas menti. Porque, na verdade, estava doendo sim.
Ele, que pareceu não acreditar em mim, continuou me encarando. Voltou a mexer com mais força em meu tornozelo, e de súbito não aguentei e soltei um gemido alto. Mordi os lábios, envergonhada. Ele voltou a olhar para mim, analisando todo meu rosto e logo abriu sua mochila.
_Está torcido.
Christopher tirou um pedaço de curativo da maleta que sempre carregava junto dele. Tocou em minha pele novamente com delicadeza, como se não quisesse amassá-la. Colocou o curativo e voltou a massagear meu tornozelo com cuidado. Aquilo, ao invés de me causar preocupação ou dor, me causou uma vontade imensa de tê-lo mais próximo de mim. Com esse instinto, abri os lábios como se meu corpo tivesse entendido o tipo de aproximação a qual eu me referia. Droga, se controla, Elizabeth!
_E agora, está doendo?- ele perguntou enquanto fazia o movimento. O calor que não tinha ido embora do meu corpo, voltou com tudo ao ouvir sua voz de novo. O que estava acontecendo comigo?! Respirei fundo, demorando para respondê-lo, até que ele olhou para mim e percebeu minha tensão. Sua resposta foi se afastar um pouco, e eu o odiei por aquilo.
_Não, está tudo bem. - ele ainda me encarava e eu o sustentava com o olhar, até que ele quebrou o contato com um pigarro e levantou com um salto.
_Vamos, tente ver se consegue andar.- ele estendeu suas mãos e eu, relutante como se soubesse o que aquilo podia me gerar, as aceitei e me coloquei de pé com dificuldade.
Testei os tornozelos e eles ainda doíam, mas nada que eu já tivesse passado antes.
_Consigo sobreviver- eu falei, não muito convicta daquilo. Christopher me fitava e observava meus calcanhares. Ele respirou fundo, parecendo preocupado. De um jeito estranho e louco, consegui sentir o que se passava dentro dele. Me aproximei um pouco e agi sem pensar, seguindo meus instintos.
_Tudo bem, eu consigo fazer isso. Vai dar tudo certo- toquei seu braço e ele percorreu o toque com o olhar. Aquilo o deixou tenso, eu percebi, que logo se afastou e fugiu da sensação.
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A Garota de Dois Mundos
WerewolfElizabeth é uma garota comum de dezessete anos. Mas... que não vive numa cidade tão comum assim, com amigos e família também incomuns. Woodsaller é uma pequena cidade na qual vivem humanos e vampiros. Desde muito tempo. Uma guerra antiga entre lobos...