Capítulo 16

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Sabe aquela sensação de ter milhões de coisas na mente e não conseguir pensar concretamente na solução de nenhuma delas? Essa era eu agora, multiplicada por sete. Parecia que eu tinha centenas de problemas e medos, confissões para fazer, assuntos mal resolvidos e não conseguia tomar a iniciativa nem para segurar um pouco os nervos. Acho que eu ficaria assim durante um tempo.

Eu estava do lado de fora da caverna, precisava ficar longe das pessoas e pedi aos guardas. Eles me liberaram por algum tempo, para esfriar a cabeça. Mas, parecia que estar sozinha só me deixou ainda mais enérgica, porque foi aí que comecei a parar para pensar nas coisas.

Olhei para o céu, da pedra em que estava sentada, e, ao longe, consegui avistar a Lua. O sangue subiu por minhas veias e semicerrei os olhos para aquela bola brilhante no céu.

_Isso aqui- fiz gestos com as mãos- é tudo culpa sua. 

Respirei fundo e me concentrei no som que eu conhecia mais do que nunca, o barulho dos pássaros. Pelo menos uma coisa aqui era familiar para mim. Pelo menos isso era real. 

Me concentrei no único desejo que tinha, estar em casa com minha família, rever meus amigos. Mas, uma sensação ruim veio na boca do estômago quando me lembrei que isso nunca seria possível, estavam todos sabendo sobre mim, atrás de mim. Era inevitável não surtar, eu nem sabia se minha vó e minha tia estavam bem... se estavam vivas. Por isso, não pensar nelas e nas coisas que me esperavam tinha virado rotina. 

Observei o céu, estava repleto de estrelas, parecia até mesmo sorridente. Inalei o ar pelos pulmões. Híbrida pura. A voz de Amelia ainda ecoava na minha mente. E tudo o que eu precisava fazer também. Por isso, eu estava lutando para não chorar de novo, não ali.

Ouvi passos se aproximando, mas não me virei para ver quem poderia ser. Não estava a fim de dar explicações a bruxo nenhum. Porém, ao ver um semblante familiar sentando-se ao meu lado na pedra, aquilo me aliviou. Era Christopher.

Nós não trocamos uma palavra desde antes do ritual com Amelia. Tê-lo ali, próximo a mim, me fazia sentir segurança, assim como ocorrera dentro do meu subconsciente há horas atrás. De um jeito estranho, ele fazia eu me sentir mais protegida do que nunca.

Assim que ele se sentou, virei o rosto e percebi que ele me olhava. Os olhos amarelos, de sempre, me estudavam como um físico estuda seu livro mais difícil. Depois de um tempo em silêncio, ele resolveu dizer:

_Como você está?- ele perguntou, com a voz baixa e preocupada. 

Olhei para minhas palmas das mãos e mordi os lábios. Eu, por incrível que pareça, não estava sentindo nada. Sem emoção alguma. Tentei escolher as palavras certas, mas estava tão confusa.

_Bem, e você?- optei por parecer casual, sem rodeios. A verdade, é que não queria falar daquilo com ninguém, mas Christopher fazia com que uma parte de mim quisesse, mais do que tudo, se abrir.

Ele desviou o olhar para o chão e voltou novamente para mim. Sorriu fraco, de lado, como se não acreditasse naquilo que eu acabara de dizer.

_Preocupado- ele disse rapidamente, e me encarou também com um olhar preocupado. 

_Com o quê?- indaguei, como se estivesse mais interessada em seus sentimentos do que nos meus inúmeros problemas.

_Com você - disse ele, umedeceu os lábios e continuou com o olhar sustentado em mim, como se esperasse uma resposta. Mas, eu apenas encarei o chão. Não sabia o que dizer.

Olhei para o céu, na esperança de poder pedir ajuda com as palavras, mas logo notei a Lua e minha esperança sumiu. Como tudo desaparecia e se afogava em escuridão tremenda. Nada na minha vida perdurava. 

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⏰ Última atualização: Dec 29, 2021 ⏰

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