Capítulo 7

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SN

Acordei com o peito apertado, a respiração irregular. As sombras do meu pesadelo ainda se arrastavam pela minha mente, mas não eram essas imagens que me faziam tremer agora. Não era o que eu sonhava. Não era o medo que meus pais me impuseram a vida inteira. Quando abri os olhos, o que me causou o maior pânico não foi a escuridão ao meu redor, mas a presença ao meu lado.

Ele estava ali.

Yoongi.

A visão dele foi como um choque direto no meu peito. Eu sentia os olhos queimando, o nó na garganta apertando, uma angústia profunda tomando conta de todo o meu corpo. Eu queria gritar, perguntar o que ele estava fazendo ali, mas algo em mim ficou preso. Como se, no fundo, o que eu mais queria era que ele estivesse ali, que fosse real, que não fosse um pesadelo.

Mas ele estava ali, tão tranquilo, tão em paz. Os anos que passaram não pareciam ter alterado muito sua expressão, mas ele estava diferente, mais... sereno? Mais seguro. Não havia aquela aura de sofrimento que eu me acostumei a ver quando o conheci, aquela tristeza nos olhos, como se ele estivesse sempre em fuga. Agora, ele parecia... bem. Sem as ameaças do pai pairando sobre ele, sem o olhar frio que sempre associei à opressão que ele sofreu. Ele estava ali, com as mãos sobre as pernas, respirando de forma calma, mas a distância entre nós dois era palpável.

O medo, a raiva, a saudade... tudo se confundia dentro de mim enquanto ele me observava com a mesma intensidade de sempre. Mas, nesse momento, o que eu mais sentia não era raiva. Era um alívio. O tipo de alívio que sentimos quando vemos alguém que amamos vivo, bem, depois de tanto sofrimento.

Eu nunca imaginei que o ver novamente fosse me provocar algo tão devastador. Eu queria estar irritada, queria dizer algo amargo, me distanciar dele como sempre pensei que deveria fazer. Mas, ao olhar para a expressão tranquila de Yoongi, a raiva não dominava meus pensamentos. Era uma dor antiga, uma saudade misturada com algo mais pesado, um vazio por tudo o que ele representou para mim.

Uma lágrima quente escorreu pela minha bochecha. Eu estava chorando de alívio. Eu, que passei tantos dias tentando apagar o nome dele da minha memória, que pensei em odiá-lo até o fim, agora estava ali, olhando para ele, sem saber o que fazer com o que sentia.

- Yoongi... - minha voz saiu frágil, quebrada, como se estivesse finalmente tentando lidar com tudo o que não soubera dizer antes. - O que você está fazendo aqui? Eu... Não é seguro para você. O senhor Min pode aparecer ou ver.. e ele pode ser perigoso.

Eu queria me afastar, mas meu corpo não respondia. Eu estava colada à cama, presa a essa cena que parecia irreal. Ele me olhou com a mesma calma, uma calma que me dava raiva, mas também alívio. Ele não estava mais me ameaçando, não estava mais sendo usado contra mim. Ele não era mais um peão nas mãos de ninguém.

Ele não era mais um jogo.

Foi então, com o nó na garganta e a mente turva de pensamentos conflitantes, que ele falou.

- Fui eu que te comprei, SN. Min Yoongi, não lembra mais meu nome completo?.

É claro que eu lembro idiota..

Eu congelei. Minha respiração falhou. Aquela frase caiu como uma pedra, pesada, irreais, mas profunda. Eu não sabia o que dizer. O quê?

Aquelas palavras, aquele som, tinham um peso que eu não estava preparada para carregar.

Ele me comprou... ele me comprou? Foi ele que deu a ideia absurda para os meus pais? Foi ele que armou tudo? Quem ele era agora? Ele mudou tanto assim?

Os meus pais... Aqueles monstros. Eles usaram o nome dele para me manipular, para me ameaçar, para me fazer acreditar que o que eu fazia, o que eu vivia, não era meu. Eles usaram o nome dele para me destruir por dentro... Mas agora, ouvindo aquelas palavras saindo da boca dele, parecia que algo dentro de mim se virou. Como se ele tivesse tirado a máscara que eu nem sabia que estava usando.

- O quê?.- Foi tudo o que consegui dizer. Eu queria gritar, queria perguntar por que ele fez aquilo. Por que ele foi o responsável por essa troca. Mas as palavras me faltaram. O que eu sentia, o que eu queria dizer, estava confuso demais. Eu só estava ali, olhando para ele, com as mãos tremendo, sem saber se aquilo tudo era realmente verdade.

Eu queria entender. Queria gritar, acusá-lo de que ele não tinha o direito de fazer o que fez. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em mim que o reconhecia naquele momento, que sabia que ele estava me dizendo a verdade, porque a vida dele também fora um leilão de escolhas, uma prisão disfarçada de liberdade.

Ele me olhou, sem pressa de se justificar. Não havia urgência em suas palavras. Ele apenas me dava a verdade. E isso fez minha raiva derreter mais rápido do que eu gostaria.

- Eu... eu precisava de você livre de tudo aquilo, SN. Não queria que você ficasse sob o controle deles, não depois de tudo o que eles fizeram com você. - Ele respirou fundo, seus olhos fixos nos meus, como se também estivesse esperando uma reação. - Eu te comprei. Mas eu não fui eu que te fiz ficar aqui. Isso foi a minha forma de te proteger.

As palavras dele me rasgaram de dentro para fora, mas de uma maneira diferente. Ele não me comprou para me controlar, mas para me proteger de algo que, até agora, parecia irreal. Eu não sabia se acreditava nele. Não sabia como acreditar. Mas, olhando para ele, vi que a única coisa que ele realmente queria era me manter segura. Mas... mesmo que fosse um reencontro, eu não poderia me deixar levar.

- Me proteger? Você agora cria essas merdas ilegais de vender mulheres?.- Perguntei, me afastando ainda mais dele. - Você tem ideia do que aqueles caras fazem com as meninas? Meninas que são enganadas, achando que é um concurso?.- Me levantei. - Foi você que deu a ideia pros meus pais, não foi?.- Olhei nos olhos dele.

- São... negócios, SN. - Ele se sentou na cama, abaixando a cabeça. - E teoricamente, foi o meu pessoal quem deu a ideia... - Disse, com a voz sem energia.

- Que merda de homem você se tornou.- Eu disse, e o olhei com desprezo, mas pude sentir sua dor em cada palavra que ele não disse.

- Me tornei isso para proteger você, para ser poderoso o suficiente e não ser pego de novo pelo dinheiro sujo do seu pai. - Ele se levantou e, sem dizer mais nada, saiu do quarto. Corri atrás dele, e antes que eu pudesse alcançá-lo, ele trancou a porta do meu quarto.

- Vamos conversar... outra hora. - Ele disse, do outro lado da porta.

- Eu preferia continuar sem te ver, do que te ver e não te reconhecer. - Soquei a porta.

Vi sua sombra por baixo da porta e, em seguida, ele saiu, sem dizer uma palavra.

Continua...

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