A garotinha já estava infiltrada, impregnada em tudo que via, fazia e pensava. Estava fazendo-me perder o controle. Não, não estava a ponto de agarrá-la e usurpar-lhe o corpo, e sim prestes a cometer algo que nem eu sabia, por isso temia.Temia por mim, por Carmen, por nossas vidas, nossos sentimentos, principalmente por mim. Se alguém nos visse? O que os diria? "Somos apenas amigos". Isso soaria estúpido e logo seria indiciado por estar envolvido com uma menor de idade.
Indago-me sobre os pais da menina. O que fazem? O que fazem sobre Carmen? A deixam livre pela cidade selvagem, pronta para cair nas mãos de alguém mal intencionado. Não que minhas intenções com Carmen sejam das mais puritanas, porém nunca a faria mal, nunca a forçaria a algo, para começo de conversa, planejava mantê-la o mais longe possível, algo impossível nessa altura do campeonato.
Já conheço bem seu cheiro doce, um perfume adocicado, qual dá-me uma nostalgia inexplicável. Não consigo lembrar de onde conheço esse cheiro melado, acho delicioso e afrodisíaco... A pele macia da qual já toquei, os lábios cheios, as órbes verdes que me direcionam um olhar lânguido, muitas vezes triste, perdido.
O que será que aqueles olhos já presenciaram e aquela pele já sentiu? De que medo a menina compartilha? Pensa em mim? Gosta de minha aparência esquisita? Sente-se confortável com meus olhares, muitas vezes não controlados?
Pergunto-me tudo isso e sinto-me idiota de novo. Adolescente idiota, totalmente estúpido. Carmen faz-me sentir estupidamente idiota. Contudo não consigo tirá-la de minha mente... e sei do fundo de minh'alma que estaremos condenados se continuarmos assim, juntos.
O hábito de aparecer em minha casa havia tornado-se normal para a garota. Sua presença não me era cômoda, agradava-me muito, parecia preencher o local com sua aura e perfume doce. Na maioria das vezes não fazia nada, vinha com a desculpa de apenas querer ver-me ou simplesmente estar comigo. Não a impediria de fazê-lo, seria bem-vinda.
Nesse exato momento andava descalça pelo recinto, o vestido branco com uma alça caída, as pernas pálidas expostas, de certa maneira a menina emanava inocência, ao mesmo tempo que não. Sentia-me enojado por almejá-la.
– Algum problema? – indaguei fazendo com que levantasse o rosto e parasse para fitar-me.
Ela sorriu sem mostrar os dentes e negou num aceno de cabeça.
– Estou bem, só estava pensando numa coisa.
– No que?
Carmen aproximou-se de mim, que estava sentado no sofá.
– Você esperaria por mim? – perguntou de pé em minha frente.
Franzi o cenho.
– Como assim?
– Digamos que você me queira, você me esperaria? Esperaria que eu fizesse dezoito anos para ficar comigo?
– Mesmo assim você seria nova pra mim.
Ela suspirou inflando as bochechas.
– Então por quê? – indagou abaixando-se e ficando entre minhas pernas. Apoiou as mãos pequenas em minhas coxas, não num ato carnal, mas sim de súplica. Suas íris verdes me fitando com fervorosa apreensão – Por que não me faz sua agora? Já que não faz diferença mesmo. Não sou inocente, se é isso que pensa. Eu... eu já estive com outras pessoas.
– Não é bem assim, Carmen – a interrompi – Ao mesmo tempo que eu... que eu quero, isso me aterroriza, entendeu?
Ela levantou as sobrancelhas e entreabriu a boca, talvez espantada por eu finalmente admitir meu desejo quanto a ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dangerous Girl | Jake Gyllenhaal
RomanceJake; um professor de história que leva uma vida pacata e regrada, vê-se, aos poucos, sucumbindo ao desejo descomunal que nutre por sua aluna, a intrigante e vívida Carmen. A garota não esconde a reciprocidade do sentimento e o jogo perigoso começa.