– Aconteceu algo, Carmen? – indaguei-a retribuindo ao abraço repentino. Não esperava vê-la ainda hoje.
A pequena levantou o olhar e vi ali lágrimas espessas que tentavam a todo custo rolar pela face corada. Imediatamente me perguntei sobre o motivo da tristeza e incrivelmente senti-me abatido também, ao vê-la assim, tão apática. Uma vontade imensa de cuidá-la apossou-me.
Trouxe-a para dentro pelos ombros e a fiz sentar no sofá. Tirei a mochila gasta de seus ombros e apoiei sua cabeça em meu peito, seus braços fracos me apertaram.
– Quer me contar o que aconteceu? – perguntei afagando seus fios longos.
A menina fungou já revelando o choro livre.
– Jake, apenas responda minha pergunta. Seria capaz de partir comigo?
Carmen levou seus olhos até os meus e senti-me encurralado diante da questão. Sabia que não a queria longe, a queria perto, contudo, não havia pensado sobre o que seria de nós futuramente, muito menos depois do que fizemos na noite passada. Preferi apenas senti-la quantas vezes fosse preciso para nos saciar e esquecer das consequências.
Teria eu coragem o suficiente para partir com Carmen? Eu não tinha nem mesmo coragem para ficar trancado dentro de um elevador, quem dirá, deixar minha vida pacata para viver com Carmen. Porém, pensar nela longe... Isso sim me assustava mais que tudo, podia sentir o arrepio apreensivo me tomar o corpo.
– Carmen, você está abalada. Que tal descansar? Um banho, talvez?
Ela aprumou-se no sofá limpando os olhos.
– Diga-me, Jake, diga agora. Iria embora comigo? Você já sabe que o amo, eu te amo e não, você não precisa dizer que me ama de volta, apenas necessito de sua presença.
Abri minha boca pra falar, mas nada saía e ficava ainda mais difícil fugir do assunto – como eu sempre fazia quando incomodado – com seu olhar lascivo sobre minha pessoa. Mais uma vez, como um rato encurralado, suspirei.
– Essa pergunta é muito perigosa, Carmen. Por que não descansa? – toquei-lhe a face fazendo a menina fechar os olhos, parecia cansada – Um banho quente, o que acha?
– Você não vai responder minha pergunta, não é?
Sorri de canto analisando seu rosto abatido.
– Que tal me dar um tempo para pensar?
– Então quer dizer que está ponderando a situação? – inquiriu numa entonação surpresa e até mesmo feliz.
Assenti já me levantando e a trazendo comigo para a suíte de meu quarto.
– Talvez eu esteja, pequena Carmen.
Enchi a banheira e logo ela jazia ali, nua e despreocupada. Sentei-me na cadeira ao lado dela e segurei sua mão. Fitei os olhos verdes apáticos e cansados, a pele branca em contraste com a água, demonstrava fraqueza em cada movimento, até o piscar de olhos era fraco.
Queria indagá-la o que passava, pois obviamente algo acontecia, mas não queria parecer chato e invasivo.
– Tudo bem mesmo? – indaguei novamente, fitando os fios em tom cobre encontrando a água.
Ela apenas assentiu de olhos fechados e um sorriso mínimo no canto dos lábios. Senti seus dedos apertarem os meus com mais afinco, mas logo o aperto desfez-se e a vi relaxar. Ponderei levantar, porém ela impediu-me.
– Fique, por favor.
– Ok.
– Entre aqui comigo, quero te sentir.
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Dangerous Girl | Jake Gyllenhaal
RomanceJake; um professor de história que leva uma vida pacata e regrada, vê-se, aos poucos, sucumbindo ao desejo descomunal que nutre por sua aluna, a intrigante e vívida Carmen. A garota não esconde a reciprocidade do sentimento e o jogo perigoso começa.