Capítulo 10 - Something In The Way

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O treino no acampamento já havia começado. Assim que eu aceitei, Augusta organizou para que tudo começasse o mais cedo possível, o que é bom. Porém hoje tive que dar uma saída, mas deixei Tony tomando conta de tudo até eu voltar. Fillip me pediu para levar alguns remédios e equipamentos para a comunidade de Lexa. Eu recusei até o inferno, mas ele conseguiu me convencer sendo aquele sedutor que é. Um saco.

De qualquer forma, estou parada sentada em cima da minha moto esperando que alguém abra o maldito portão de Blackwood. Peter aparece e logo me reconhece, então ele pede para que abram os portões e assim eles se abrem. Entro rapidamente antes que mudem de ideia me deixando ainda mais irritada com esse lugar.

- E aí, Valerie. – Peter desce do posto de observação vindo até mim sorrindo.

- Como vai, Peter? – Cumprimentei descendo da moto.

Peguei os remédio e equipamentos que estavam em uma bolsa, o olhar curioso de Peter estava vagando pelas coisas. Revirei meus olhos rindo fraco, ele parecia uma criança curiosa olhando as sacolas de compras da mãe.

- São para o médico local. – Informei antes que perguntasse.

- Ah... – Ele riu fraco coçando a nuca.

Pedi a Peter que me levasse até o médico para que eu pudesse entregar essa bolsa e poder vazar daqui o quanto antes. Assim como da primeira vez que eu estive aqui, muitos me olhavam com curiosidade enquanto outros com desaprovação. Peter percebeu minha inquietação e sussurrou para eu não ligar, mas é meio difícil quando estou sendo o centro de tantos olhares de ódio. Eu até entendo, mas isso me deixa irritada e incomodada, por mais que eu concorde com eles. Olhares familiares me fizeram parar de andar. Era Augusta, com seu olhar gentil de sempre e ao seu lado estavam Jhonny e a insuportável da Lexa. Meus olhos rolaram quando encontro as órbes verdes dela. Seu cenho estava franzido e seus braços cruzados. Era nítido o desagrado por eu estar novamente em sua comunidade. Ela não é a única, eu também estou assim.

Pensei em passar por eles com apenas um aceno de cabeça e seguir meu rumo para me livrar desse lugar de uma vez, mas Augusta me chamou para me juntar a eles. E infelizmente eu tive que ir.

- Valerie! Que bom que você está aqui. – Augusta disse me abraçando.

- Ah, claro. – Murmurei irônica.

Augusta ergueu uma sobrancelha em desentendimento, balancei meus ombros desviando meus olhos dos seus. Lexa continuava a me encarar como se quisesse me matar apenas com o olhar. Sua mão sobre o braço cruzado estava com as pontas dos dedos já brancas, evidenciando a força que ela colocava no aperto. Ergui uma sobrancelha olhando-a com desdém e pronta para fazer algum comentário sarcástico.

- Bem... Lexa, Jhonny e eu estávamos discutindo sobre técnicas de luta. – Augusta interveio e tenho certeza de que ela sentiu o clima tenso no ar. – Comentei que você tem ótimas técnicas, principalmente com espadas.

A olhei rapidamente com os olhos estreitos já imaginando o que ela possa ter falado, mas Augusta me devolveu um olhar como se dissesse "eu não falei mais do que o necessário, não se preocupe". Assim espero, não quero que a notícia de que uma ex-assassina está ajudando no treinamento da Morada do Sol se espalhe. Seria bem ruim para ambos os lados.

- É verdade, você manda bem com a espada. – Peter se pronunciou ao meu lado. Eu nem me lembrava mais que ele estava aqui.

- Você já a viu, jovem? – Perguntou Augusta surpresa.

- Já sim, Valerie e Lexa lutaram com espadas no primeiro dia que ela esteve aqui. – Respondeu Peter com os olhos brilhando. Seu olhar se alternava entre eu, Lexa e Augusta. – Seria legal você ensinar a gente.

- Interessante. – Falou empolgada Augusta. – Aposto que Valerie deu trabalho para Lexa... Você poderia ensiná-los.

Sem chances. Eu prefiro enfrentar uma horda enorme de infectados e todos os que me odeia do que ter que passar mais tempo nesse local e ainda tendo que ver o rosto da Lexa. Augusta só pode ter perdido a noção e com ela a cabeça.

- Não! – Lexa e eu respondemos em uníssono. A encarei com desprezo.

- Opa, rolou algo aqui então. – Augusta e os demais riram.

- Eu tenho que levar isso para o médico. – Falei levantando a bolsa.

- Eu levo, tenho que falar com ele mesmo. – Respondeu Jhonny pegando a bolsa de mim e saindo de perto antes que eu tivesse a chance de protestar. Mas que porra!

- Ah, vamos lá, meninas. – Augusta encorajou-nos. Cruzei meus braços em desaprovação e Lexa fechou a cara.

Puxei Augusta para um canto. Um sorriso amigável ainda repousava sobre os seus lábios.

- Não vou fazer isso. – Esbravejei. Seu sorriso desapareceu aos poucos, mas ainda tinha vestígios dele. Senti um músculo do meu rosto ficar tenso.

- Por que não? Lembre-se do que eu disse, agora você tem chances de lutar por algo que afeta a todos. – Augusta se inclinou em minha direção tocando os meus ombros. – E eu sei que você gostaria de lutar com a Lexa.

Augusta riu. Soltei o ar que eu nem sabia que segurava. Minha mandíbula ainda estava apertada e os meus braços cruzados sobre o meu peito. Meus olhos queimaram em cima de Lexa, Peter parecia conversar com a mesma. Ela apertou os lábios transformando sua boca em uma linha dura enquanto parecia pensar e então seus olhos encontraram os meus, mas desviaram rapidamente. Lexa empurrou uma mecha de cabelo para trás de sua orelha e depois deixou suas mãos descansarem em sua cintura, seus dedos tamborilavam sobre ela.

- Tudo bem... – Disse Lexa se aproximando junto com Peter ao seu lado. Ele sorriu de orelha a orelha. – Você pode ficar e ensinar algo, mas nos meus termos.

Soltei o ar pela boca e minha mandíbula afrouxou. Molhei meus lábios olhando para todos os lados menos para as pessoas comigo. Senti a mão de Augusta pousar sobre o meu ombro e dar um leve aperto. Ela sorriu me encorajando a aceitar. Sei que ela não iria desistir disso. A questão é: por que?

- Okay... Uma semana. – Estendi minha mão para que ela apertasse.

- Uma semana. – Ela confirmou por fim apertando a minha mão.

- Começo na próxima semana, tenho alguns trabalhos para fazer antes. – Informei.

- Ótimo. – Lexa se afastou dando as costas.

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