Capítulo 16 - Overwhelmed

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O clima no acampamento estava muito pesado, isso era percebido até por uma criança, caso ela estivesse preocupada com isso. Depois do treino de ontem, eu não havia visto Lexa durante o resto do dia, até agora. De certa forma eu estava intrigada com o que Peter disse sobre o que seria o motivo do estresse todo de Lexa.

Me aproximei do local de treinamento a vendo desferir golpes e piruetas perfeitas, nem parecia a mesma mulher que eu enfrentei naquele dia.

- Ela tem treinado arduamente. - Ouvi a voz de Jhonny ao meu lado. O encarei com os braços cruzados.

- Peter disse que estão colocando-a sob pressão... - Comentei recebendo um aceno positivo por parte dele. - Por que?

- Por sua causa... - Ele respondeu simples me enviando um olhar que não consegui decifrar. 

- Minha? O que eu fiz? - Perguntei contendo uma risada.

- Você ainda está aqui, não é? E ajudando... - Jhonny me lançou um sorriso amigável.

Entendi o que ele quis dizer. Logo eu, uma ex-caçadora com um rastro  enorme de mortes em meu passado, estaria ajudando a comunidade da qual é conhecida por ter uma boa equipe de segurança, tanto com espadas quanto com armas. Não faz nem sentido eu ter aceitado isso em primeiro lugar, ainda me questiono porque eu fiz.

Assenti para Jhonny e sai do local, senti mais olhares sobre mim. Estava fazendo meu trajeto até onde eu estava passando meus dias, mas algo me fez parar de andar. Algo como pessoas, sendo mais específica, mini pessoas pestinhas perto do meu bebê. Haviam crianças ao redor da minha moto e eu estava me segurando para não correr em direção a elas para espanta-las como pombos assustados. Meus passos eram firmes e pesados em direção a elas.

- O que vocês, pestinhas, acham que estão fazendo? - Perguntei parando em frente a eles com os braços cruzados.

- É uma moto muito legal. - Um garotinho, um pouco mais baixo que Josie, disse.

- É, eu sei e vocês devem se afastar. - Falei gesticulando com as mãos para que eles saíssem. Todos, exceto uma abençoada, voltaram a brincar longe da minha moto. Encarei a menininha. - Xô, garotinha, vai brincar com os teus amiguinhos.

- Eles não são os meus "amiguinhos". - A garotinha fez aspas com as mãos. A encarei de cima a baixo. Ela parecia ter uns dez anos, era magra, tinha cabelos castanhos assim como seus olhos, sua pele era negra em um tom de chocolate, ela me lembrava muito Tony.

- Tanto faz, pirralha. Só desencosta da minha moto e vai viver no teu mundinho. - Falei cruzando meus braços já perdendo a paciência.

- Cala a boca, pirralha é você, vagabunda. - Ela disse aumentando seu tom de voz. Olhei para ela chocada com suas palavras.

- Ah, sua vagabunda mirim. - Rosnei indo em direção a ela que correu. Seu pé encostou no apoio da minha moto e eu tive que correr para segura-la antes que fosse ao chão junto com o meu coração. - Você ainda me paga, fedelha!

A garotinha simplesmente virou-se para mim e mostrou o dedo do meio.  Fiquei ainda mais chocada com ela. Que porra é essa?! Se Josie agisse que nem uma vagabunda ela iria ficar de castigo por um bom tempo.

Logo mais à frente, percebi Lexa observando de uma distância considerável, em seu rosto pairava um pequeno sorriso que ela tratou de esconder assim que percebeu meu olhar sobre ela. Sua postura reta, com as mãos juntas atrás de seu corpo, essa é uma postura de Comandante mesmo, de alguém sério. Portanto eu não pude evitar de bufar e revirar meus olhos.

- Do que está rindo, comandante? - Perguntei puxando o apoio novamente da minha moto para que ela parasse em pé sozinha. Lexa apenas me olhou com o seu queixo erguido antes de pronunciar qualquer palavra.

- Nada. - Lexa disse suavemente ao se aproximar. - Podemos conversar?

- Tá. - Respondi dando de ombros e a segui até a sala de reuniões que estava vazia. - Sobre o que você quer conversar?

- Como você deve ter percebido, sua presença aqui é um tanto quanto... problemática. - Lexa sentou em sua cadeira e juntou suas mãos sobre a mesa. Murmurei uma "novidade" mal humorada, com isso recebi um olhar questionador por parte dela. 

- Eu estou sabendo que você está sendo pressionada por minha causa. -  Cruzei meus braços caminhando em direção ao quadro com mapas na parede atrás de Lexa. - Portanto, seja direta.

- Como queira. - Ouvi ela suspirar. Houve um silêncio antes que ela continuasse. - Quero saber até quando ficará por aqui.

Me virei para Lexa, que já estava de pé logo atrás de mim com sua típica postura reta e séria e suas mãos juntas atrás do seu corpo. Eu acho isso extremamente irritante e irritantemente atraente. Analisei seu semblante em busca de qualquer outra emoção, mas fiquei frustrada ao não encontrar.

- Se essa é a sua preocupação... estarei partindo em breve. - Cruzei meus braços e coloquei meu peso para a minha perna esquerda. - E além do mais, não sei o milagre que aconteceu, mas você está ótima em relação aos treinos.

- Obrigada. - Ela agradeceu ainda com seu semblante sério, apesar de sua voz soar mais ameno do que antes.

- Só tenta se manter focada o tempo todo em seu inimigo, mas nunca se esquecendo de ver além dele... Você consegue se distrair rápido demais.  - Falei por fim saindo da sala.

Ao sair do local eu dei de cara com Peter conversando com um outro homem um pouco mais velho de olhos castanhos juntamente com o seu cabelo que já estava começando a ficar grisalho, sua pele era queimada do sol, um pouco avermelhada em algumas extremidades. O homem me olhou desconfiado assim que eu me aproximei após Peter me chamar. Ele lançou um olhar amigável ao homem que se afastou logo em seguida.

- E então, como vai? - Ele perguntou andando ao meu lado. - Estou esperando o treino que você me prometeu.

- Sobre isso... eu estou saindo de Blackwood para voltar a Morada do Sol... o trabalho de vocês aqui está ótimo, não há nada que eu possa modificar. - Falei indiferente.

- Ah, mas e o meu treino? - Perguntou chateado.

- Bom... podemos pensar algo em relação a isso. - Respondi por fim ganhando um sorriso amigável de agradecimento de Peter.

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