O resto da semana passou de certa forma tranquila. Adrien e Marinette se aproximaram cada vez mais depois do fatídico dia da queda falsa de Lila. Obviamente, eles não eram tão bons assim em esconder a tal nova amizade. Não que quisessem, mas era algo tão recente que na cabeça dos dois as coisas pareciam ir devagar.
O que não acontecia.
Toda turma já havia reparado na aproximação dos dois. Ninguém havia ficado surpreso. Todos já tinham conhecimento de que Adrien gostava de Marinette, mesmo que nem ele desse conta. Ele realmente nunca foi bom em esconder os olhares que lhe lançava nem a cara de bobo que fazia quando ela sorria e também se não fosse pela Dupain-Cheng, o Agreste não estaria mais com eles e Lila possivelmente estaria infernizando suas vidas. Pelo menos aquela semana havia sido pacífica.
Por isso, ninguém estranhava ou questionava a constante troca de olhares, sorrisos e conversinhas paralelas entre os dois. Os amigos gostavam da ideia daquele possível casal. E a cada dia Marinette descobria algo que não sabia sobre o garoto de olhos esverdeados como as constantes piadas bobas, as cantadas bregas, um senso de humor duvidoso e o quão talentoso ele era tocando piano.
E naquele domingo de neve fina, sentada no banco do parque próximo à sua casa ao lado de Adrien, ela ria de mais uma das histórias divertidas das quais ele contava.
- Chega, Adrien, você é um palhaço! Que piada besta. - o empurrou levemente para o lado.
- Ah, para! Vai dizer que você não gostou. Nunca vi você rir tanto como tô vendo agora. - a provocou rindo. Ela devolveu a provocação com um soquinho no braço do rapaz.
Os rostos se viraram distraídos para uma pequena confusão entre crianças no Carrossel; uma menina de longos cabelos cacheados em maria chiquinhas era empurrada do brinquedo por uma outra garotinha ruiva da mesma idade.
- Espera aqui rapidinho, Marin. Eu já volto. - o rapaz se levantou caminhando em direção às duas meninas.
- O que você vai fazer? - ele já estava longe para responder aquela pergunta.
E Marinette o observou enquanto falava com as tais crianças. Ele parecia olhar decepcionado para a ruivinha, ajudando a outra menina a se levantar limpando a neve do seu casaco estofado e da barra de sua calça. A feição se suavizou. A Dupain-Cheng não entendia, pela distância, o que ele dizia, mas reparou que o loiro tentava remediar a situação. As meninas responderam, a provável pergunta que ele havia feito. A mestiça percebeu que ele chamou atenção da ruivinha pelo bico mimado que se formou nos lábios dela.
O aloirado voltou, sentando se novamente ao lado de Marinette.
- O que houve? - o olhou em dúvida.
- Nada demais, só briguinha de criança. Mas de qualquer forma não dá pra deixar passar uma menina que empurra a outra só por causa de um brinquedo.
- Por que você sempre faz isso?
- Isso o que? - os olhos expressaram curiosidade.
- Isso o que você faz. Sempre indo atrás de brigas que não são suas e até de pessoas que você não conhece só pra defendê-las. Não me leve a mal, eu acho isso admirável da sua parte, pra ser bem sincera. Mas eu queria entender da onde isso veio.
Ele soltou uma risada.
- Tá tudo bem. Eu não entendi mal. - ele fingiu pensar cutucando o indicador no próprio queixo. - Quando eu era criança sempre voltava pra casa contando pra minha mãe que meus coleguinhas da época tinham sido ruins com outras crianças. E ela me perguntava o que eu havia feito pra ajudar e eu dizia que nada. Eu pensava "mas o que eu poderia fazer pra ajudar?!". Então um dia quando eu cheguei em casa com uns oito anos, eu acho, ela me disse o seguinte: "o necessário pro mal triunfar e que as pessoas de bem não façam nada." - o olhar brilhou pela lembraça. - E isso pra um menino que amava super heróis quando criança foi inspirador. Não era como se ela quisesse dizer que meus colegas eram pessoas ruins, todos eram crianças, mas crianças crescem. - o rosto virou para Marinette que o encarava encantada. - Olha praquelas' meninas, um dia elas vão crescer. E podem virar uma Lila na vida, até porque, querendo ou não, a Rossi já foi criança. Por isso eu não deixo passar. Por isso eu sempre me meto em tudo. Eu penso que com as minhas palavras ou atitudes eu possa mudar pelo menos um pouquinho as coisas do mesmo jeito que a minha mãe mudou o meu jeito de enxergar o mundo.
Ele suspirou.
- Isso é incrível, Adrien. Queria poder ser assim também, mas eu não sei se consigo. - a vergonha tomou conta de sua feição. Ela desviou o olhar.
- Tá brincando, né?! - as sobrancelhas da garota franziram quando ela o olhou novamente em dúvida. - Você já é assim, Marinette.
- Do que você tá falando?
- Quem foi a garota que se posicionou contra Lila Rossi só pra proteger outra pessoa, quando o assunto nem te envolvia?! - ele sorriu bobamente. - Foi você, Marin. Você fez isso porque era o certo.
- Mas eu quase não fui! Eu fiquei assustada e quase não criei coragem pra contar a verdade. - a mestiça não se achava merecedora das palavras dele.
- O "quase" não importa, Marin. O que importa foi a decisão final que você tomou. - ele segurou a mão enluvada dela. - E tá tudo bem sentir medo ou ficar assustada, todo mundo já se sentiu assim. O que realmente vale é você conseguir superar isso. - ele sorriu docemente para ela como se entendesse cada conflito que se passava em sua cabeça.
E naquele momento, a Dupain-Cheng reparou que havia desbloqueado a mesma memória antiga novamente.
"...vai bagunçar tudo aquilo que você acha que está certo e vai mudar sua vida para sempre."
A maneira como as palavras dele a atingiram fizeram com que Marinette enxergasse algo que nem ela mesma sabia que existia dentro de si; coragem.
⊰᯽⊱
VOCÊ ESTÁ LENDO
Santa Tell Me
FanficQuando Marinette faz um pedido de Natal ao Papai Noel ele lhe confidência algo, o qual a faz torcer para que seu desejo jamais se realizasse. O que ela não esperava era que o tal pedido se realizaria anos depois. Será que ela poderia evitar cair d...