24. Thanksgiving

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POV NARRADOR

25 de Novembro de 2021 | quinta-feira

Manhã de thanksgiving, para os americanos, um dos feriados de maior importância onde família e amigos passavam juntos, comemoraram tanto quanto os brasileiros comemoram o natal, com grandes banquetes, bebida e acolhimento. Mas não foi assim para Bianca, acostumada a comemorar essa data com sua família e os amigos da família, esse ano tinha optado por ficar em casa. Seu plano inicial era juntar seus amigos, chamar a Rafa, irem juntas na parada que acontecia na rua principal, participarem de todos os clichês da data.

Em realidade, agora rolava pela cama com preguiça de fazer qualquer coisa, pegava o celular e olhava para a conversa sem nenhuma atualização, pensava o que ela provavelmente estaria fazendo, mas se recusava a abrir os stories e encontrar outro vídeo dela acompanhada pelo garoto que Bianca pensou ter ficado para trás nas primeiras semanas.

Bianca levantou, ligou a máquina de café, já passava do meio dia, mas não ligava para isso, foi fechar as janelas deixando a sala escura, hoje seria dia de ver filmes de comédia romântica. Ligou a gigante televisão e voltou para a cozinha para buscar seu café e fazer um sanduíche, porém quando retornou para seu sofá favorito seu sorriso de "vou passar o dia vendo filme sozinha" foi por água abaixo, a tv mostravam grande a data de hoje, menos de um mês para sua garota deixar a cidade.

"Minha garota... ah pronto, Bianca. Ela é tudo menos sua garota, é a garota do garoto que acha que namorava ela, isso sim."

Pensou irritada e apertou o botão para abrir o streaming, tirando a data da sua frente. Escolheu "Amizade Colorida", puxou o cobertor que ficava no sofá e desligou-se do mundo durante o filme.

Rafaella, por outro lado, havia acordado cedo, animada para ir passar o feriado com o pessoal do Brazilian Foundation que a convidaram para almoçar/jantar em outra cidade com o grupo. Não sabia que roupa colocar para a ocasião, não fazia ideia de quão chique, ou não, seria a comemoração. Só sabia qual trem tinha que pegar e que horas tinha que chegar. E não se surpreendeu quando percebeu que estava atrasada para sair de casa. Rio da sua desgraça quando percebeu que não sabia onde que pegava o trem, sabia que era na estação central, mas só sabia onde pegar o metrô lá e aquilo era gigante. Seguiu as placas e por um milagre chegou certinho no local.

O percurso até Bronxville era de quarenta minutos, tinha coisas que podia fazer nesse tempo, mas não queria, queria mandar mensagem para uma pessoa específica, que a ignorava a basicamente quarenta e oito horas. Mas isso não impediu que ela ficasse pensando na garota por esse tempo. Ela dizia para si mesma que o que ouviu no dia anterior de Jair era sem sentido, ela gostava da pequena apenas como amiga, só que era uma amiga carinhosa que acolheu ela como uma irmã e por isso trazia a sensação de segurança. Afinal de contas, ela sempre foi hétero, gosta romanticamente de homens apenas. Fechou o aplicativo e não mandou nenhuma mensagem. Se a garota não conseguia mais conviver com ela por ter algum outro sentimento, ela entendeu que precisava aceitar isso e dar o espaço necessário, precisava também parar de se remoer por isso.

A cidade parecia cenográfica, plana, pequena, silenciosa, menor que Itapagipe. Ficou chocada quando descobriu que tinha apenas seis mil habitantes e que a escola pública parecia coisa de filme e todos estudavam no mesmo lugar. A casa do casal anfitrião era imensa, com um jardim lindo e incrivelmente decorado, um círculo de estofados estava posicionado ao redor de uma fogueira e todos se concentravam ali perto.

A mineira sorria sozinha, havia por fim caído a ficha de que ela tinha feito a escolha certa, se abrir para o novo e desconhecido faz você conhecer mais de si mesmo e atrair de um jeito inexplicável pessoas que fazem você se sentir em família. Era essa a sensação que ela tinha em meio a todos que estavam agora naquela casa, conversando, se importando, compartilhando experiências, comemorando o ano e agradecendo por tudo que passaram. Tirou algumas fotos para postar em seus stories e pediu licença para ir até um dos quartos fazer a live de Black Friday da sua loja.

NYC Here I ComeOnde histórias criam vida. Descubra agora