Yoongi
"Você agora cria essas merdas ilegais de vender mulheres?"
"Que merda de homem você se tornou."
Essas palavras... essas malditas palavras não saem da minha cabeça.
Não importa quantas vezes eu repita: foi por você. Tudo foi por você, SN.
Mas, pra ela, eu sou só isso agora, um monstro.
Meus punhos cerram de novo. Meus olhos estão vermelhos, não só pelo álcool, mas pelo ódio que sinto de mim mesmo por deixar chegar nesse ponto. Pela dor que eu vi nos olhos dela. Pela forma como ela me olhou como se eu fosse igual aos dois monstros que destruíram a vida dela.
Eu me sirvo de novo.
Whisky caro. Do mais caro que tenho. Nada menos que isso pra alguém que passou anos construindo um império de sangue e silêncio. Eu não bebo por prazer. Nunca bebi. Bebo pra queimar tudo o que eu não consigo arrancar de dentro. E hoje... o que eu quero arrancar é o gosto da voz dela me chamando de lixo.
Deito no sofá da minha sala escura. O som do gelo no copo é o único ruído que me mantém acordado. Já fumei mais da metade da caixa. A fumaça paira no teto como uma neblina suja. Quase combina com o que virou minha alma.
Ela me odeia.
Ou pior, ela não me reconhece.
A SN que um dia me amou... não consegue mais me enxergar por trás das paredes que precisei erguer. E a culpa é minha.
"Que merda de homem você se tornou."
Repito as palavras dela em voz baixa, como se isso fosse me anestesiar. Mas dói. Cada sílaba é uma faca cravando mais fundo no meu peito.
Eu me tornei isso, sim.
Frio. Perigoso. Estratégico.
Mas não foi pra comandar um império de violência. Foi pra sobreviver. Foi pra ganhar tempo. Foi pra construir um lugar onde ninguém mais pudesse tocar em você, SN. Nem seu pai, nem sua mãe, nem o inferno que eles fizeram da sua vida.
E você acha que eu simplesmente só comprei você?
Você acha mesmo que eu teria coragem de colocar você naquele tipo de vitrine nojenta? Que eu dormiria em paz sabendo que você foi leiloada como se fosse um objeto qualquer?
Você não entendeu nada.
Eu criei aquele sistema pra te tirar de lá. Pra ter o poder de comprar sua liberdade quando ninguém mais podia fazer isso. Fui eu quem se sujou pra poder te limpar. E agora, você me olha como se eu fosse parte da lama..
Jogo o copo contra a lareira de mármore. O som do cristal estilhaçando ecoa pela sala, mas ainda é mais suportável que o som da voz dela me perguntando se eu crio isso tudo.
Como se eu fosse seu pai.
Seu pai. O desgraçado que me ameaçou, que destruiu tudo o que a gente era, que me fez sumir, que jogou com nossas vidas como se fossem peças num tabuleiro qualquer.
Eu passei os últimos anos tentando encontrar uma forma de derrubar ele sem colocar ela em risco. Me aliei com gente que eu odeio, me calei quando queria explodir tudo, construí essa merda de império só pra um dia olhar na cara dele e dizer: agora quem manda sou eu.Mas no caminho... eu virei isso.
E ela não consegue ver além disso.
Encosto a cabeça no encosto do sofá, os olhos pesados, mas o coração mais ainda. A garrafa está pela metade. Mas eu ainda estou vazio.
E o pior é que, mesmo assim... mesmo depois de tudo...
Eu ainda amo ela.
Amo a voz dela. Amo até a raiva dela. Amo o fato dela ainda ter força pra me enfrentar, pra dizer na minha cara o quanto me odeia. Porque eu sei que, lá no fundo, essa força que ela tem... veio da gente. Do que a gente viveu. Do que a gente foi.
Ela me ensinou a amar. E agora está me ensinando a morrer por dentro.
Mas se eu tiver que ser odiado por ela pra garantir que ela esteja viva e longe daqueles dois... então que seja.
Que ela me odeie.
Mas que esteja viva pra isso.
Continue...

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O leilão
FanfictionMin Yoongi foi o meu primeiro amor. E também o meu maior sofrimento. Éramos dois jovens tolos que acreditavam que o amor bastava para enfrentar o mundo. Mas meu pai fez questão de me provar o contrário. Ele arrancou Yoongi da minha vida com a mesma...