Imagines - livros.

Cardan.

Observo o ambiente ao meu redor e bufo de maneira impaciente, eu estou esperando há mais de uma hora para falar com Cardan mas aparentemente ele está muito ocupado conversando com seu irmão mais velho, Balekin. Quando ele finalmente desce as escadas da enorme mansão de seu irmão ele arregala os olhos ao me ver.

- Você não deveria estar aqui. - Ele me puxa pelo braço até seu quarto. Adentro o cômodo e sorrio ao ver o exemplar de "Alice no País das Maravilhas" em uma das estantes. - O que quer comigo? - Ele questiona indo em direção ao banheiro e eu o sigo.

- Não sei se lembra Vossa Alteza, mas temos um trabalho escolar para fazer. - Digo de maneira irônica.

- É simples, não iremos fazer. - Ele dá de ombros e fecha a porta do banheiro.

- Olha aqui, Cardan. Não me importo se você é a porcaria de um príncipe que acha que não precisa de nota, faremos esse trabalho independente das suas vontades e você vai me ajudar com isso. - Digo, mas sem receber resposta. E então sem pedir autorização ou algo do tipo, abro a porta do banheiro e dou de cara com suas costas desnudas, mas o que me assusta são as feridas abertas ao longo de toda a extensão de seu tronco. Estendo a mão em direção ao seu ombro e ele recua, me olhando furiosamente.

- Você acha que só porque estamos fazendo um trabalho de merda você tem alguma intimidade para entrar na minha casa, abrir a porta do meu banheiro e depois fingir que se importa comigo com esse olhar de pena totalmente fingido? - Ele grita mas eu me mantenho firme onde estou, ele não me assusta.

- Você acha que eu não me importo? - Questiono, usando o mesmo tom de voz que ele. - Eu não preciso fingir que me importo com você só porque você faz parte da realeza, Cardan. - Digo, de maneira mais calma, mas seu olhar continua irredutível.

  - Apenas vá embora. - Ele murmura, pegando a camisa que estava na pia e voltando em direção ao seu quarto, comigo em seu encalço.

  - Me deixe te ajudar, por favor. Eu não posso simplesmente ignorar o que acabou de acontecer aqui. - Vejo ele abaixar seus ombros em sinal de cansaço. Me aproximo um pouco mais, levando minha mão à uma parte de seu ombro sem ferimentos e ele recua, assustado. E então ele se vira e o olhar que vejo me quebra, seus olhos exalam culpa e medo. Pego em sua mão e o coloco sentado em sua cama, indo pegar uma pequena caixa de primeiros socorros que estava em uma de suas mesas e então imagino que ela está ali porque essa não é a primeira vez que isso acontece, a diferença é que das outras vezes ele não teve ajuda. Suspiro com o pensamento e me ajoelho em sua cama, me aproximando lentamente de suas costas para não assustá-lo. - Quer falar sobre isso? - Questiono, minha voz não passando de um sussurro. Ele nega e eu volto a limpar delicadamente cada ferida aberta, vejo ele se encolher um pouco e recuo por breves momentos deixando que ele se recupere.

  - Por que está fazendo isso? - Ele indaga, após passar boa parte do processo em silêncio.

  - Porque me importo com você. - Murmuro, concentrada em aplicar o remédio em suas costas para disfarçar a vergonha ao confessar isso. Vejo seus ombros relaxarem um pouco mais e sorrio levemente diante do ato. - O que acha de sair um pouco daqui quando terminarmos? - Pergunto, tentando arrumar uma distração para o que quer que esteja passando em sua mente agora.

- Acho que prefiro ficar aqui, pode ir se estiver cansada ou algo assim. - Me surpreendo com a mansidão em sua voz.

- Então eu vou ficar aqui também, não tenho nada para fazer mesmo. - Dou de ombros, vendo seu olhar de dúvida através do espelho em nossa frente. - O que foi? Ninguém nunca cuidou de você antes? - Sorrio de maneira gentil e brincalhona para ele, que abaixa os olhos para as mãos.

- Não. - O ar se prende em meus pulmões e eu volto a encontrar seu olhar pelo espelho. - Minha mãe me odeia, assim como todo mundo então eu não tive muito amor ou cuidado durante minha vida. O que aparentemente é algo totalmente fora da sua realidade. - Ele solta uma risada irônica e eu bufo.