O pedido

956 131 78
                                        

9 dias para o Natal

🔞

🎄

Quinta-feira. Segundo dia das férias e eu já estou entediada no meu próprio apartamento. A neve, ao invés de ficar mais gentil conforme as horas passam, só fica ainda mais intensa e melancólica. Vejo o branco dos flocos cobrir todos os cantos do lado de fora e a lareira elétrica do lado de dentro não dar conta da baixa temperatura.

Não há nada de legal ou bom o suficiente para prender minha atenção na televisão ou em qualquer plataforma. Tento ouvir uma música para passar o tempo, mas nem isso é capaz de me animar. Ler? Eu que sempre fui uma ratinha de biblioteca, não consigo imaginar abrir um livro agora e me concentrar nas palavras para entender alguma coisa sem repetir o mesmo parágrafo doze vezes.

– Droga. – Jogo a cabeça para trás no sofá e suspiro fundo, quase bufando.

O tic tac do relógio é o único som do ambiente e não consigo decidir se ele me acalma ou me deixa mais irritada.

Serkan havia me deixado em casa no dia anterior, depois que voltamos do hospital, com a promessa que viria me ver hoje, mas não especificou o horário e nem me confirmou se realmente iria conseguir vir. Hoje era o último dia oficial de trabalho do ano do seu escritório de arquitetura e era seu dever, como dono e chefe, estar lá para se despedir dos funcionários e de todos os prestadores de serviço.

Eu havia me transformado na pessoa que eu mais temia e isso era culpa inteiramente do Natal. Sempre critiquei aquelas mulheres que quando se afastavam do namorado ou marido reclamavam pelos cantos na primeira oportunidade. E aqui estou eu: entediada sem Serkan e irritada esperando que ele chegue logo.

Rolo o feed do instagram distribuindo likes e comentando nas fotos das minhas amigas que finalmente puderam ser do país para passarem as festas de final de ano com seus familiares e paro quando ouço uma movimentação do lado de fora.

– Ei. Me dá uma mãozinha aqui? – Serkan apenas destrava a porta com o cotovelo provavelmente, e coloca apenas parte do corpo para dentro para me chamar.

Saio do sofá e calço meu crocs de pelinho para não sentir tanto frio, e caminho apressada para a porta, abrindo-a completamente. Serkan, com a roupa um pouco molhada pela neve derretida, carrega nas duas mãos algumas sacolas marrons e percebo o logo da Starbucks do lado de fora.

– Como a gente não teve o café semana passada, pensei que podíamos compensar hoje. Tô morrendo de fome.

Pego uma das sacolas e sinto o cheiro do meu bolo favorito: red velvet. Deixo que ele entre primeiro e aviso ao fechar a porta antes que ele se mova para outro lugar:

– Para a lavandeira, Senhor. Não quero nada molhado por aqui.

– Sim, Senhora. – Ele assente e, ao passar por mim, balança o cabelo molhado de modo que as gotas recaíam em meu corpo.

– ARGH. Toda vez a mesma coisa! – Ouço sua risada o acompanhando até a lavanderia e passo a mão livre pelo meu braço para tirar os pontos de água gelada.

– Não consigo evitar.

– Percebi. Você é insuportável, sabia? – Deixo a sacola na mesa ao lado da outra que ele mesmo colocou e o observo pelo batente da porta.

best christmas everOnde histórias criam vida. Descubra agora