Prólogo

5.6K 298 73
                                    

Camila dos Santos,  aos 12 anos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Camila dos Santos,  aos 12 anos.

2008, Cidade Cipó - Interior da Bahia

Ouço as vozes dos meus pais discutindo do lado de fora da casa.

—Mauro, ela sente sua falta, você tem se distanciado dela, de nós, e hoje, é só você esperar um pouquinho, para cantarmos parabéns da nossa filha.

—CHEGA! — Ele grita.

— Para de enjoo, eu já te disse que não tenho tempo para essas besteiras, Diana.

Escuto mãinha falando abafado, como se estivesse querendo chorar.

— Mas ela é nossa pequena e sente sua falta.

— A Camila não é mais criancinha, você tem que parar com essas coisas de aniversário e ficar gastando o pouco que temos na dispensa. — Painho parece irritado.

— Mauro, eu não gastei nada, é só pra lembrar a data, ela está crescendo e hoje faz 12 anos! Você gasta com cachaça no boteco da Solange e eu não falo nada.- Mãinha retruca.

Ela chama por ele umas três vezes e então tudo fica silencioso novamente.

Noto seus passos vindo da cozinha e finjo estar dormindo, apesar de triste, fico esperando e olhando pelo canto da coberta, até vê-la adentrar o quarto com a bandeja de café da manhã e um precioso sorriso no rosto, então sua doce voz ecoa no quarto.

— Camila, meu anjo!? Ainda está dormindo, minha pequena?

Solto uma risada e descubro minha cabeça, me levanto da cama para receber o melhor abraço do mundo.

Mãinha me aperta tanto que quase reclamo, então ela começa a me beijar o rosto e em seguida cantar parabéns, enquanto eu pulo de alegria.

— Me diga o que a senhora trouxe?!

Ela fica sem jeito e diz que painho não deixou fazer muita coisa, apesar de não faltar nada em casa, segundo ele, tinha que economizar, mas ela conseguiu um pouco de goma de tapioca com dona Maria e tinha feito um delicioso beiju regado com manteiga de garrafa, leite com café e cuscuz com ovo.

Me sento na cama e ela coloca a bandeja em meu colo. Percebo que Mainha está cansada e ofegante.

—Está tudo bem com a senhora?

—Estou sim, minha filha, só cansada da labuta.

Termino meu café, me arrumo pra sairmos, hoje é sábado, não tenho aula e vou com ela para o seu trabalho. Ela e meu pai trabalham para seu Geraldo, um fazendeiro que mora perto daqui, ela é cozinheira lá e meu pai trabalha na lavoura.

— Painho já foi?

— Sim, querida, ele tinha pressa e não pôde nos esperar.

Ela fala enquanto arruma seus cabelos. Fico sentada na cama dela observando; mãinha é linda, tem 35 anos, uma pele morena clara, cabelos cacheados, magra, olhos esverdeados e o sorriso mais bonito de Cipó, acho que até de toda a Bahia. Eu tenho os cabelos, o sorriso e os olhos dela, já a minha pele, eu puxei a painho.

O PLACEBO DA ALMA - LIVRO IOnde histórias criam vida. Descubra agora