Camila, 10 anos depois
Estou morta de cansada, tive que capinar a minha horta. Parei para tomar água e me refrescar, o sol está castigando.
O calor do Sertão é escaldante, minhas mãos estão cheias de calos, meus pés ardem por causa das picadas das formigas.
Encostada no batente da porta da cozinha, eu fico olhando para o quintal da casa que era de minha mãe, e me pego lembrando dos meus difíceis dias até aqui, hoje, é meu vigésimo segundo aniversário.
Com 13 anos, fui morar na cidade com a Vilma, irmã da Solange, para terminar meus estudos, e lá minha vida se transformou num verdadeiro inferno.
Eu apanhava e era humilhada, servindo de empregada da casa, além de viver me esgueirando pelos cantos, fugindo do seu marido, que a todo tempo, tentava me molestar.
Fixo meus olhos em um ponto qualquer e volto a me lembrar do horror que era sentir aquele homem se aproximando de mim; um aperto no estômago, o suor brotando na pele e escorrendo por minhas costas, o gosto de fel na boca, lábios secos, mãos geladas e suadas e minha sanidade oscilando.
Quando sua mão asquerosa me tocava, a sensação que deixava, fazia-me sentir podre, fétida, suja e quebrada; juntas, todas essas sensações iam se espalhando vagarosamente, grudando em minha pele.
Conforme sua invasão prosseguia, eu cerrava os dentes, fechava os olhos, e bloqueava minha mente, na tentativa de não deixa-lo tocar minha alma.
—Ei pequena, senta no colo do tio, vem brincar de fazer cócegas, vem aqui. — Essas foram as primeiras investidas.
—Você já menstruou?- perguntou, nos primeiros dias em que eu cheguei lá. Respondi que sim, ele me olhou com uma cara nojenta, lambeu os beiços e falou. — Já é mulher, vou ter que tomar cuidado quando eu for brincar com você, pra não te botar menino.
Seus toques foram ficando mais ousados, acordava com ele agachado perto do meu colchão em que eu dormia na sala, alisando minhas pernas e seios, eu fechava meus olhos e me sentia tão invadida e aterrorizada, sem ter a quem pedir socorro.
Várias vezes, ele se masturbar em cima de mim. Ele ria e apertava o pênis para fora da ceroula e me chamava de "delícia "
Nas noites que ele ia até onde eu estava, Vilma acordava zangada na manhã seguinte, acredito que ela percebia o interesse dele em mim e suas escapadas na madrugada, mas nunca fez nada para me ajudar, em vez disso, ficava irritada, e me surrava logo no café da manhã.
Um dia ele Falou:
-Camila, eu tenho direito de ser o primeiro, já que você vive aqui sem pagar nada e só me dando despesas. — Em seguida, enfiou a mão por dentro da minha blusa, arranhando com as unhas em meus seios , e eu cuspi em seu rosto.
Naquele momento, Vilma viu e me puxou pelos cabelos, xingando-me de todos os palavrões possíveis, arrumou minhas coisas e me mandou de volta e afirmou que eu estava insinuando para seu marido, Miguel.
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O PLACEBO DA ALMA - LIVRO I
Romantizm18 anos. Contém cenas descritivas de sexo. Ela descobriu cedo a dor do luto. Ele nunca perdeu alguém. Ela sempre teve que lutar pela sobrevivência. Ele nasceu em berço de ouro. Ela teve seu corpo tocado mesmo negando-o. Ele teve tudo que sempre d...