A tenra chuva que caia lá fora e respingava na minha janela me fez ficar pensativa naquela tarde. Eu sempre me senti alheia a absolutamente tudo que acontecia a minha volta, como se todos fizessem parte do seu próprio universo, tivessem seu próprio lugar no mundo com suas felicidades e prazeres, enquanto eu me reduzi a uma simples espectadora. Alguém que se encontrava a anos luz de qualquer sensação.
Penso especialmente em como nunca fui capaz de compreender boa parte dos sentimentos reservados para nossas pessoas especiais, naturalmente eu amava meus amigos, adorava minha cantora favorita, mas nunca naquela riqueza de sentimentos que eram detalhados em livros de romance ou em novelas levemente exageradas. Meu coração jamais bateu mais forte se não por um exercício físico, nunca senti o chão desaparecer aos meus pés e o único frio na barriga que já experimentei foi devido a uma comida duvidosa da cantina da escola. Me sentia honestamente frustrada.
Nada me emociona? Eu já havia tentado de tudo, namoros, casos, beijos, sempre em busca de qualquer coisa que tirasse ao menos um pouco do meu maçante viver. Nunca me senti infeliz, mas ao mesmo tempo penso que jamais me senti viva com essa agoniante ausência instalada em meu existir.
Quando olho para meu reflexo no espelho as vezes eu me deparo com alguém que não tenho certeza ser eu mesma, por mais estranho que isso soe me sinto sempre distante.
Embora minha vida monótona e minha rotina entediada jamais tenham me causado melancolia, eu não reclamaria de um pouco de emoção, que algo diferente acontecesse. Uma vez na vida eu gostaria de sentir protagonista de algo, e justamente por isso não pude deixar de sorrir com uma lembrança.
— Vi é afim de você.
Acho que aquela foi a primeira frase que me fez arquear as sobrancelhas. Ezreal percebendo minha reação me lançou um sorriso sugestivo, embora na época eu não tenha levado a sério.
— Talvez você seja afim da delinquente também? Tão clichê, Caitlyn...
— Não sou afim de ninguém — rebati — Só foi a primeira garota que descobri ser afim de mim, não deixa de ser inesperado.
Apesar disso, não consegui tirar essa descoberta da minha cabeça por um tempo. Hoje percebo que de forma quase inconsciente me aproximei mais de Vi, o máximo que ela me permitia e então me deparei com uma riqueza de sentimentos enquanto estive ali com ela. A euforia de a perseguir pelos corredores, a felicidade de pegá-la, a frustração de quando escapava, a tristeza quando estava ausente, toda minha existência foi rapidamente preenchida por alguém que eu sequer trocava mais de 5 palavras que não fossem insultos.
Agora penso que Vi se tornou o centro da minha vida sem nem sequer fazer parte dela. Passava todos os dias pensando no que ela estaria fazendo, ou o que estaria aprontando. Assim que eu chegava já ia correndo até a sala do conselho para descobrir qual era sua nova travessura, coisas que aos poucos se tornaram pequenos prazeres. Ao menos para mim eram.
Minha atenção quase sempre estava nela e não demorei para perceber o quão querida era ela pelos alunos e pelos professores, talvez até mais do que eu. Se todos me adoravam por ser prestativa e ótima aluna, a adoraram por ser brilhante como o próprio sol.
O meu sol.
Nada me comove, mas talvez Violet me emocione um pouco. Percebi em algum dia enquanto a observava pela janela, ela estava brincando com sua irmã no pátio. E assim havia sido todo aquele período, observa-la de longe se tornou um assustador hobby e eu penso em como seria constrangedor se ela descobrisse minha mania incorrigível de segui-la com o olhar.
Eu nunca estive interessada em alguém, mas penso que também nunca me deparei com a possibilidade de ver uma garota como parceira romântica. Ainda sim o beijo de Violet foi o primeiro que me fez sentir tantas coisas, lembro-me de ficar perturbada por semanas depois daquilo.
— Não a beijei por pena. — segredei mais tarde naquele mesmo dia para Ezreal. — A beijei porque só a proximidade dela já me hipnotizou, nunca pensei que pudesse me sentir de tal forma. Acho que estou interessada em Vi, ao menos curiosa sobre ela.
Quando o olhei ansiosa pela resposta, ao vê-lo suspirar e encolher os ombros me desfiz em um muxoxo.
— Eu não sei, se ela gosta de você de forma mais séria talvez seja melhor você cortar isso pela raiz para não a magoar mais do que o necessário.
E assim eu fiz, mas não entendi minhas lágrimas ao sair dali. Pela primeira vez experimentei um coração pesaroso. Jamais senti tamanha tristeza dentro de mim e isso não melhorou no dia seguinte a esse quando me dei conta da distância em que estávamos, quando ela deixou claro para mim o quão distante éramos.
Alguém que eu sempre pensei estar tão próxima a mim nunca esteve tão distante, e isso me fez ruir de alguma forma. E foi ali que eu finalmente entendi o que chamavam de montanha russa emocional, pois quando ela veio até mim meu mundo se reconstruiu em um piscar de olhos. Como poderiam meus sentimentos serem tão extremados por uma única pessoa?
Sim, eram sempre extremos. Euforia, tristeza e até mesmo ciúmes.
Me cegar por ciúmes não foi algo bom, tampouco agradável, mas ainda sim foi uma experiência nova. Vi sempre me traz experiências novas.
Eu quero Violet para mim.
Apesar de declara isso em mente e estar certa de que já era tempo de tomar alguma atitude, de imediato eu não soube o que deveria fazer. Existia algum momento certo? Eu deveria marcar um jantar? Minhas experiências amorosas foram limitadas a matar meu tédio e eu agora não sei como fazer quando o sentimento é real.
Irei esperar o dia seguinte naturalmente, embora mais por falta de coragem do que qualquer outro motivo...
E assim que o dia seguinte chegou eu não me amedrontei. Me arrumei da forma mais arrumada que pude, queria realmente parecer bonita naquele dia tão especial, cumprimentei todos que passavam pelo caminho com uma euforia que me deixa embaraçada só de lembrar ao que se deve toda essa comoção.
— Seja bem-vinda, presidente. — saudou Jayce assim que eu abri a porta do conselho, e eu sorri em resposta.
Porém hoje meu objetivo não era a sala do conselho estudantil e sim Violet, embora para minha frustração eu não a achasse em canto algum. Me senti nostálgica indo até seu clube, do clube ao pátio e então parando em frente a sala de Braum. Fui acometida por um deja vu e não pude deixar de rir.
Certo, se é, deve ser agora. Então bati na porta.
— Olá, cupcake. — ela abriu seu sorriso mais charmoso e meu coração acelerou em resposta. — Procurando por mim?
Ah céus, acho que toda minha coragem foi por terra.
— Eu gostaria de me desculpar por ontem. — Violet riu, e eu de imediato percebi mais uma semelhança com aquele fático dia.
— Céus, espero que não esteja para me dispensar de novo... — disse em um resmungo divertido.
— É o oposto, sendo honesta...
Não consegui conter um riso ao vê-la arregalar os olhos.
— Violet, eu gosto de você. Por favor saia comigo.
Ouvir a risada de Braum não me ajudou naquele momento, acho que corei da cabeça aos pés. Violet também não estava sendo muito colaborativa, já que está simplesmente petrificada olhando para mim.
— [...] — ela manteve seu olhar fixo em mim. — Eu estou sonhando com isso de novo?
Eu deixei um risinho escapar pela revelação e ela corou de forma adorável. Céus como essa garota pode ser tão bonita? Até hoje fico sem jeito quando a vejo de regata na educação física, seus braços deveriam ser um crime para toda a sociedade.
N.a: Penúltimo capítulo relativamente curtinho porque só estamos concluindo a história, espero que tenham se divertido. Semana que vem sai o último, espero vocês por lá. Eu quis fazer esse capítulo no ponto de vista da Caitlyn porque sinto que não conectei vocês corretamente com ela, espero que isso faça vocês conhecerem melhor a personagem.
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My Bad Girl
RomanceCaitlyn estava cansada de seu maçante cotidiano como presidente do conselho estudantil e Violet era uma especialista em trazer o caos. Enemies to lovers! Vi & Caitlyn! Rescrevendo