Ano 1764 d.c
L.S
Harry era um bruxo, vivendo em uma aldeia escondida nos confins da Itália, depois da morte trágica de sua irmã, ele havia se tornado o próximo na linha de sucessão para assumir a liderança daquela pequena sociedade, depois de consta...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
☽︎
Existem coisas que você julga rápido, você simplesmente bate o olho e já tem uma opinião formada, às vezes não é tão complexa e provavelmente com alguns pré-conceitos presentes. E foi assim quando Harry colocou seus pés - que estavam em uma botina que ganhou de Louis - em solo brasileiro, especificamente no porto de Santos.
O cheiro não era bom, muito menos a vista que se tinha, um calafrio medonho percorreu sua espinha assim que prestou atenção em cada detalhe, desde escravos sendo forçados ao trabalho de descarregar navios até mesmo os cavalos maltratados presos.
Era deplorável, Harry teve vontade de vomitar, as imagens de homens e mulheres de pele preta com correntes nos pés caminhando como se fossem mercadorias descendo de navios, magros e sujos. Capturados por portugueses e forçados a saírem de suas terras.
Ele não entendia, qual era a necessidade daquilo? Todos não merecem ser livres tendo seu direito de escolha e individualidade?
— Por que? — ele perguntou com um bolo na garganta, os olhos lacrimejando voltados para Louis, choque correndo por suas veias perante a crueldade que via.
O pirata não pode deixar de suspirar, agora sabendo as circunstâncias em que Harry foi criado, ele poderia lidar melhor com os questionamentos que viriam. Só não sabia lidar com cada lágrima que iria cair, a cada injustiça que ele descobrisse.
— Os português colonizaram boa parte dos países — O capitão começou, sua mão entrelaçada com a de Harry, não se importando com os olhares de nojo que eram lançados — esse em específico é um tesouro, uma boa terra para plantio e árvores com madeira perfeita para marcenaria. Mas é um lugar imenso, há terras e mais terras, nem com toda a população de Portugal eles poderiam ocupar tudo, então eles estúpidos foram pelo lado mais covarde — com passos lentos Louis e Harry caminhavam, os calçados sendo sujos pela lama que consumia todo o chão perto do porto — escravizaram homens e mulheres, aos montes usando como critério apenas o fator do tom da pele, percebe? Todos eles são negros.
O cacheado escutava tudo atentamente, tentando entender, mas falhando facilmente. Para um jovem que nunca tinha tido contato com aquilo era estranho, ele estava aprendendo o quão asqueroso os humanos poderiam ser.
— Mas por que? — ele perguntou mais confuso ainda — o que a cor de pele deles tem haver?
— Nada, para mim isso não muda nada Harry — Louis disse firme, tomando cuidado com suas palavras, fazendo seu máximo para explicar de forma simples — Somos todos iguais. Mas segundo a religião deles, pessoas pretas não têm alma. Isso é a maior mentira contada, eles só queriam uma desculpa para mão de obra de graça, aqueles homens e mulheres, amor — aquele era um assunto que Louis não gostava de falar, era ruim pensar no que aquelas pessoas tinham que passar — eles foram tirados de suas terras da Angola, Moçambique e regiões como o Reino do Daomé, foram ameaçados, separados de seus pais, filhos, irmãos e até esposas. E trazidos até aqui, para se submeter às vontades de alguém, seja trabalhando horas em uma fazenda ou tendo que limpar a casa de alguma madame.
